A sala de aula pode não ser a mais confortável, a infraestrutura da escola deixa a desejar e as vias de acesso nem sempre estão em condições favoráveis. Mas a regra é uma só: educar e ensinar, apesar dos obstáculos. É assim que três escolas de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) vêm operando milagres. De um total de 22 escolas de assentamentos avaliadas pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011 no Paraná, elas foram as únicas que conseguiram atingir média superior à de seus municípios. As fórmulas utilizadas pelas instituições são, em parte, distintas. Mas o desejo de ver os alunos aprendendo e transformando o conhecimento em práticas do dia a dia é o mesmo.
Em Querência do Norte (Noroeste do estado), a Escola Municipal Chico Mendes, no assentamento Pontal do Tigre, atingiu a maior nota do Ideb de toda a cidade no fim da primeira etapa do ensino fundamental (5.º ano). Segundo a educadora Osmara de Souza, os 6,2 obtidos pela escola são reflexo de diversos dribles nas dificuldades que apareceram ao longo do ano. "A infraestrutura daqui não é favorável. Além disso, o acesso até a escola é complicado", afirma. Ao todo, 12 educadores trabalham na instituição, que tem 256 estudantes em 12 turmas. A média do município foi de 4,9.
O método de ensino é baseado nos ensinamentos de Paulo Freire. Anualmente é realizada uma pesquisa com os moradores do assentamento, que debatem o tema a ser discutido em sala de aula. "A gente trabalha assuntos que a comunidade julga importantes e vamos detalhando em diversos subtemas", explica. Paralelamente, são trabalhados assuntos voltados ao trabalho no campo. Outro ponto que Osmara destaca é a formação continuada para os professores do campo.
Improviso
Outra escola que superou a média do município no Ideb fica no assentamento 8 de Abril, em Jardim Alegre (Região Central). Com nota 5,0 (apenas 1 décimo acima da média municipal), a Escola José Clarimundo Filho ainda não tem estrutura própria. Segundo a secretária de Educação, Simone Moreira Colombo, a escola funciona em um barracão adaptado pela prefeitura. Os 267 alunos e 17 professores encaram essa realidade desde 2001. "Mesmo não sendo o ideal, o espaço está dando conta de ofertar um ensino de qualidade", diz Simone.
O projeto pedagógico de Jardim Alegre opta por proporcionar uma ligação entre a história cultural dos alunos e as disciplinas. "Isso ajuda eles a entender melhor os assuntos e a valorizar o papel deles no meio rural", afirma.
Assentados têm a chance de frequentar curso superior
O Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) realiza no Paraná um curso técnico e dois em nível superior para os assentados. Neste ano, o Incra investiu R$ 1,5 milhão nos três cursos que estão em andamento. Juntos, eles devem formar 80 estudantes. Os cursos fazem parte do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).
O curso técnico em Agroecologia funciona em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR), no município de São Miguel do Iguaçu, e formará 21 alunos. O superior de Agroecologia, também em parceria com o IFPR, acontece na Lapa e deve formar 24 alunos. Já o de Pedagogia do Campo, em parceria com a Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste), irá formar 45 alunos.
Segundo o superintendente estadual do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, o objetivo é capacitar os jovens para que eles possam se dedicar e aperfeiçoar o trabalho nos assentamentos. "Esses estudantes serão os difusores de conhecimento para os demais moradores. Queremos dar condições para melhorar a qualidade de vida de todas essas famílias", afirma. (DA)