O atraso na liberação da verba de apoio às escolas de samba habilitadas a desfilar este ano revela que o carnaval de Curitiba ainda está longe de atingir a profissionalização. As agremiações apontam o esgotamento da Avenida Cândido de Abreu como espaço dos desfiles como o principal entrave ao crescimento do evento. Quem está diretamente envolvido no carnaval avalia que um "sambódromo curitibano" seria o primeiro passo para a "Festa de Momo" realmente se desenvolver na capital paranaense. A reivindicação faz parte de uma carta entregue pelas escolas de samba à Fundação Cultural de Curitiba (FCC).
Em média, a Cândido de Abreu recebe 30 mil pessoas por desfile. A própria FCC reconhece que o espaço já não é adequado e que é preciso avançar na estrutura para que o carnaval curitibano conquiste um salto de qualidade. Apesar disso, a Fundação defende mais discussões e planejamento, antes que a ideia saia do papel.
"Para o carnaval que temos hoje, a Cândido de Abreu está ficando pequena. Temos que repensar um outro espaço, mas é um estudo para longo prazo", aponta o presidente da comissão do carnaval 2013, Jaciel Teixeira.
As três escolas cujos desfiles já estão garantidos neste ano apontam que um sambódromo permitiria que as agremiações se financiassem profissionalmente, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo. As associações poderiam explorar espaços nobres, como camarotes patrocinados e pontos de merchandising, revertendo o dinheiro aos desfiles. Para a presidente da Acadêmicos da Realeza, Bárbara Murden, o espaço adequado seria o primeiro passo para a profissionalização.
"Haveria um salto de qualidade. A televisão se interessaria, e contrato para transmissão ao vivo também gera dinheiro às escolas", vislumbra Bárbara. "Nas outras épocas do ano, o espaço poderia ser usado para outros eventos, para festas evangélicas, por exemplo, como uma arena multiuso", sugere o presidente da Mocidade Azul, Altamir Jorge Lemos.
Barracões
Boa parte dos gastos das escolas não fica em lantejoulas e paetês, mas é destinado a pagar o aluguel de quadras e barracões, onde as fantasias e carros alegóricos são confeccionados e permanecem até o dia do desfile. Na carta de reivindicações entregue à prefeitura, as agremiações também pedem à prefeitura a destinação de um espaço onde possam cuidar dos preparativos da festa. "Não precisa ser uma Cidade do Samba [no Rio de Janeiro]. Basta ter um teto. Já eliminaria um grande custo para a gente", diz Bárbara.
Hoje, para financiar o desfile as agremiações curitibanas contam com uma verba de apoio R$ 40 mil por agremiação, neste ano , liberada pela prefeitura. Mas os desfiles custam quase o dobro deste valor. Para fechar as contas e viabilizar a apresentação, as escolas se desdobram ao longo do ano, fazendo festas, apresentações em casamentos, feijoadas, rifas e promoções, além de contar com doações. Neste ano, qualquer tipo de patrocínio é proibido. Cada centavo é levantado na raça.
"A gente acaba reduzindo em quantidade para ganhar em qualidade. Mas estamos negociando melhorias para as próximas edições", afirma o presidente da Embaixadores da Alegria, Alberto Neumann.
Novidades
Em novembro do ano passado, o então prefeito em exercício João Cordeiro sancionou uma lei que permite que as escolas de samba tenham patrocinadores e usem espaços de merchandising como placas publicitárias. A nova legislação, no entanto, só deve sair do papel no carnaval de 2014 - já que os preparativos para este ano já estão em andamento.
Segundo a FCC, as agremiações poderão explorar os espaços de forma conjunta em consórcios ou isolada. Na avaliação das escolas, o ponto negativo é que a lei proíbe que sejam patrocinadores empresas de bebidas alcoólicas, como cervejarias, os principais financiadores de camarotes nos carnavais de Rio e São Paulo.
A carta de reivindicações das escolas de samba deve ser discutida a partir de abril deste ano por uma comissão formada por membros da FCC e integrantes das escolas de samba. De acordo com Teixeira, todos os itens serão discutidos e alguns podem ser implantados já no carnaval de 2014.
Por outro lado, o presidente da comissão executiva do carnaval aponta que as agremiações também devem rever suas gestões internas. Neste ano, três escolas de samba ficaram de fora do desfile porque não conseguiram atender a requisitos do edital para receber a verba de apoio. Faltou documentos ou houve falhas na prestação de contas.
"A profissionalização tem que começar dentro das escolas. Temos que determinar qual é o tamanho do nosso carnaval e, a partir disso, definir estratégias para atingir esta meta. Sempre vamos ter um carnaval do tamanho que merecermos", finalizou.
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