A morte do “patrão” do tráfico da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) gerou uma onda de boatos sobre um toque de recolher na região. Diandro Claudio Melanski, de 38 anos, foi morto na tarde de segunda-feira (4). Desde então, os moradores estão com medo por causa de supostas ameaças que se espalham até pelas redes sociais e envolvem a Vila Nossa Senhora da Luz. Escolas dispensaram alunos, moradores foram orientados a não sair de casa e até ônibus do transporte coletivo não circularam na região.
Nas redes sociais, inúmeros áudios e mensagens começaram a circular, em todos, dizendo a mesma coisa: o toque de recolher era uma represália pela morte do “patrão” do tráfico. “Mulheres, crianças, quem fala é o comando. Salve geral. O toque de recolher é de verdade, queremos todos os comércios fechados. Se tiver carro na rua, vamos ‘meter’ fogo. O papo é reto, vamos respeitar, para depois não dizer que não foi avisado”, dizia um dos áudios, com voz de homem, que começaram a circular.
Em outro áudio, também enviado pelo WhatsApp, outro homem era incisivo em afirmar sobre o toque de recolher. De acordo com o homem, a orientação era dada pelo “comando” e valeria das 22h desta segunda até às 10h desta terça-feira (5).
No Colégio Estadual Professor Brasílio Vicente de Castro, que fica na Rua Santa Ângela de Foligno, os alunos foram dispensados às 21h na segunda. Segundo funcionários da escola, os próprios alunos do período noturno, que fazem ensino médio e técnico, começaram a receber os áudios no celular e entraram em desespero. “Por isso tomamos a atitude de dispensá-los mais cedo”, explicou uma funcionária, que não se identificou.
Na manhã desta terça-feira (5), as aulas não foram canceladas, mas muitos pais preferiram não mandar os filhos para a escola. “Nós conversamos com a polícia, e nos disseram que não era para nos preocuparmos, mas as pessoas preferiram não arriscar”. Poucos alunos do ensino médio e da turma de fundamental apareceram para estudar.
Saúde fechada
Na região, das três unidades de saúde, duas funcionam normalmente. A reportagem da Tribuna entrou em contato com os funcionários da Unidade de Saúde (US) Oswaldo Cruz, que fica na Rua Pedro Gusso, e foi informada de que as portas estão abertas e o atendimento é feito normalmente, mas policiais estão na porta da US.
“Caso alguma coisa aconteça, a gente fecha. Se não, continuamos trabalhando, mas fomos a única unidade que conseguiu abrir”, comentou a moça que atendeu ao telefone e pediu para não ser identificada. O mesmo acontece na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que fica na Rua Senador Accioly Filho.
Já na Unidade de Saúde da Vila Nossa Senhora da Luz, um episódio assustou os funcionários pela manhã. Um homem armado teria invadido o local e mandado que as portas fossem fechadas, respeitando o suposto toque de recolher. O homem foi embora, os funcionários obedeceram e, mesmo com a presença da Guarda Municipal, não quiseram arriscar em abrir a US novamente.
Polícia desmente boatos
Os áudios disparados pelo WhatsApp foram uma brincadeira de mau gosto, conforme a Polícia Militar (PM). Segundo o tenente-coronel Paulo Lemes de Camargo, comandante do 23º Batalhão da Polícia Militar (BPM), adolescentes começaram a gravar as menagens entre eles e os áudios acabaram circulando em vários grupos do aplicativo. “Boatos tendenciosos, que foram disparados para assustar”, caracterizou o comandante.
De acordo com o tenente-coronel coronel, uma operação da PM na Vila Nossa Senhora da Luz já estava programada para a madrugada desta terça-feira e foi feita. “Com o surgimento dos boatos, criou-se certo medo entre os moradores e comerciantes, então o que fizemos, além de manter a operação, foi reforçar o policiamento com mais gente nas ruas”.
Desde o momento da morte do “patrão” do tráfico, segundo o comandante do BPM, nenhuma ocorrência foi registrada. “Em algumas escolas, os alunos foram dispensados a noite, mas pela manhã a orientação era não cancelar as aulas, alguns alunos não foram, mas os professores estavam nos colégios. O comércio abriu normalmente e os ônibus, que estavam sendo desviados, já voltaram ao normal”, disse Paulo Lemes de Camargo.
Pelo menos até o final do dia, equipes policiais devem se manter na região para reforçar a segurança. “Querendo ou não, a população ficou com certo medo, então, tomamos atitudes para que tudo siga normalmente”, explicou o comandante. Além da CIC, o bairro Fazendinha também deve ter mais policiais.
Desvio nos ônibus
A reportagem da Gazeta do Povo confirmou que alguns ônibus tiveram suas rotas alteradas na manhã desta terça. O gerenciamento de tráfego da empresa de ônibus Redentor informou que em algumas linhas, como como Portão/CIC e Jardim Campo Alegre não estavam passando na Rua Pedro Gusso, local da execução. Esses veículos estariam desviando pela Rua João Bettega. A informação foi confirmada pela Urbs e pelo Setransp, sindicato que representa as empresas do setor. A partir das 9h20, no entanto , após entrar em contato com Guarda Municipal e Polícia Militar, o Setransp informou que as empresas já estavam autorizadas a voltar a fazer suas rotas normalmente.
Tráfico em guerra
Intitulado pelos moradores da CIC como o “patrão” do tráfico do bairro, Diandro foi executado já dentro de um carro, depois de sair de uma loja na Rua Pedro Gusso. Segundo a perícia, foram mais de 10 tiros de pistola calibre 9 milímetros.
Conforme apurou a Tribuna do Paraná, os comentários nas ruas da CIC são de que Diandro já foi o braço direito de Éder Conde que, em 2010, era o chefe do tráfico no bairro, mas foi preso em 2010. Com a prisão, pela Polícia Federal, Diandro assumiu a posição do ex-patrão.
O fato de Diandro ter assumido a posição de Éder não teria agradado o antigo chefe, e gerou rixa entre os dois. Éder saiu da cadeia em 2015, mas foi preso logo em seguida, pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), por usar policiais como segurança.
Segundo a DHPP, Éder já saiu da cadeia e deve ser ouvido nesta terça-feira (5). A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o reforço no policiamento na região foi feito, junto com o Batalhão de área da Polícia Militar. Até agora, nenhuma ocorrência foi registrada.
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