Em razão da segunda etapa da greve dos professores da rede estadual, que já completa 27 dias neste sábado (23), pais de alunos de escolas públicas resolveram transferir seus filhos para colégios particulares. Embora o Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR) ainda considere o movimento esporádico, alguns colégios já tiveram bastante procura.

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No Colégio Madalena Sofia, no Bairro Alto, em Curitiba, mais de dez alunos vieram transferidos de unidades públicas nessa semana, segundo o professor e diretor Ivo José Triches. A Escola Atuação, com unidades nos bairros Boqueirão e Santa Quitéria, e os colégios Medianeira, no Prado Velho, e Expoente também tiveram consultas sobre o assunto, mas ainda não efetivaram nenhuma matrícula.

“Matrículas em escolas particulares são esporádicas”, avalia Sinepe/PR

De acordo com o presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), Jacir Venturi, “não está acontecendo um movimento significativo de transferências de alunos”. “A gente não tem como levantar esse dado de forma precisa. Mas tenho conversado com muitos diretores de escolas e posso garantir que estão ocorrendo apenas matrículas esporádicas”, explica.

Venturi acrescenta que, nos últimos 10 anos, com a melhoria do poder aquisitivo das famílias, já houve uma transferência grande de alunos da rede pública para a privada. “Aqueles que teriam como pagar por um ensino particular, e consideraram que o ensino privado era melhor, já migraram para as escolas particulares ao longo dos últimos 10 anos.”

APP-Sindicato

Luiz Fernando Rodrigues, diretor de comunicação da APP-Sindicato, entidade que representa os servidores da educação, diz que a entidade “lamenta que tenhamos chegado a uma situação assim”. “Nós não gostamos de fazer greve, não gostamos de ficar acampados na rua nesse frio. Mas é o governo estadual que tem condições de propor a correção inflacionária e acabar com a greve”, afirma Rodrigues, em referência à principal bandeira hoje da greve, em torno da data-base do funcionalismo público.

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Na Região Metropolitana de Curitiba, uma única escola privada, o Colégio Evolução, de Fazenda Rio Grande, matriculou cinco alunos nas duas últimas semanas por causa da greve. “Tenho constantemente recebido ligações e visitas de pais perguntando sobre valores e, principalmente, sobre como os seus filhos podem recuperar notas e conteúdo. Já são quase dois bimestres perdidos para eles”, conta o diretor do colégio, o professor Alisson Rocha.

Considerando as duas fases da greve, entre fevereiro e março e agora entre abril e maio, os alunos da rede estadual tiveram somente cerca de 30 dias de aula neste ano letivo (entre 12 de março e 27 de abril). Segundo a secretaria estadual da Educação, em 55% das escolas estaduais não houve aulas nessa semana. O número não corresponde ao balanço feito pela APP-Sindicato, que sustenta que não há aulas em 85% das escolas estaduais.

Esforço

Dos cinco novos alunos do professor Rocha, quatro são do ensino médio. Entre eles, está a filha da diarista Sirlei Sirakovski, a estudante Gabrielle, de 15 anos. Moradora de Fazenda Rio Grande, Gabrielle saiu da Escola Estadual Olindamir Merlin Claudino para voltar às aulas na sexta-feira (22), no colégio particular.

A mãe da Gabrielle conta que teve de cortar despesas para poder assumir a mensalidade de pouco mais de R$ 300. “É difícil, mas a minha filha é bastante interessada nos estudos. Chorava em casa por causa dessa situação. Eu entendo a greve dos professores, mas as crianças são as mais prejudicadas. Não é possível que não tenha outra forma de protestar”, afirma Sirlei.

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A mãe de Gabrielle conta que ela sempre estudou em escola pública, como os irmãos. Agora, contudo, ela pretende manter a filha na escola particular. “Não adianta tirar. Depois vai ter outra greve. Vai ser sempre assim. Mas agora assumi esse compromisso. É um investimento importante”, diz a diarista.