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História

Conheça quem foram os personagens que mais nomeiam as escolas públicas do estado. Nenhum deles nasceu por aqui.

Monteiro Lobato (1882 – 1948)

José Bento Monteiro Lobato estreou no mundo das letras com contos para jornais estudantis em Taubaté, onde nasceu. No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Comprometido com as grandes causas de seu tempo, engajou-se em campanhas por saúde, meio ambiente, reforma agrária. Depois de fundar, em 1918, a primeira editora brasileira, Lobato criou alguns dos personagens mais conhecidos da literatura infanto-juvenil brasileira: Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e, é claro, a boneca Emília. Lobato também foi pioneiro da literatura paradidática – aquela em que se aprende brincando.

Tancredo Neves (1910 – 1985)

Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João Del Rei, Minas Gerais. O gosto pela política e o interesse pelas ideias liberais e democráticas começaram a se consolidar em sua formação desde cedo. Advogado, ingressou na política em 1935, no cargo de vereador, período em que fez oposição à ditadura e foi preso por duas vezes. Foi deputado estadual e federal por vários mandatos, governador de Minas Gerais, senador e ministro da Justiça e Negócios Interiores. Em 1961, com a curta instauração do regime parlamentarista, foi nomeado primeiro-ministro, o único na história do Brasil. Em 1985, Tancredo foi eleito indiretamente. Na véspera de tomar posse, em 14 de março, foi internado em estado grave e o vice-presidente José Sarney assumiu o cargo. Morreu em 21 de abril de 1985, em São Paulo.

José de Anchieta (1534 – 1597)

José de Anchieta nasceu em família rica, na cidade espanhola de Tenerife, em uma das Ilhas Canárias. Aos 14 anos, foi para Portugal, estudar. A vocação religiosa o levou a ser noviço no colégio jesuíta da Universidade de Coimbra. Obedecendo a conselhos médicos, o padre veio para o Brasil, em 1553. No ano seguinte, participou da fundação do Colégio de São Paulo. Graças a seu interesse pelas letras, aprendeu a língua dos nativos e produziu extensa obra, que incluía poesias, sermões, cartas, peças teatrais e uma gramática. Pela grande contribuição que deu à expansão do cristianismo, ficou conhecido como "apóstolo do Brasil". Em 1980, foi beatificado por ter convertido três pessoas ao cristianismo em um mesmo dia.

Declarações

"É escolhido o nome de alguém que seja representativo, seja local, regional ou nacionalmente."

Gerson Araújo, presidente da Câmara de Londrina.

"Se os alunos souberem quem foi aquela personalidade e por que o nome dela denomina a escola, está sendo feita a manutenção da identidade."

José Miguel Arias Neto, doutor em História.

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Monteiro Lobato, Tancredo Neves e José de Anchieta não eram conterrâneos, não tiveram o mesmo trabalho, nem sequer foram exatamente contemporâneos. Talvez o único fator em comum entre eles seja a importância que ocupam na história do Brasil. Como consequência disso, surge outro denominador comum entre os três: o grande número de escolas que adotam seus nomes para homenageá-los. Cecília Meireles, Duque de Caxias e Rui Barbosa também figuram entre os preferidos.

Monteiro Lobato lidera o ranking de nomes que mais se repetem nas escolas públicas do Paraná (veja ao lado a lista com os dez mais escolhidos), segundo o Censo do Ensino Básico. São 53 instituições, entre estaduais e municipais. Homenagem mais que merecida àquele que foi um dos primeiros autores da literatura infantil do Brasil e da América Latina, criando personagens reverenciados até hoje.

A segunda personalidade que mais aparece é Tancredo Neves. A participação ativa na vida política do Brasil entre as décadas de 1950 e 1980 lhe rendeu a homenagem de 41 instituições. Tancredo de Almeida Neves foi o primeiro presidente civil eleito no Brasil em mais de 20 anos, em 1985, mas faleceu antes de tomar posse.

O terceiro no ranking é o padre espanhol José de Anchieta, que chegou ao país em 1553 e no ano seguinte fundou o Colégio de São Paulo, embrião da capital paulista. Seu nome aparece em 36 escolas, provavelmente, por causa do papel de educador que o padre desempenhou, usando o teatro e a poesia para ensinar os índios.

Em Londrina, o sacerdote dá nome à mais antiga escola da cidade, fundada em 1931, três anos antes da instalação oficial do município. "Foi uma homenagem a ele, mas não temos registros de quem fez a escolha ou do motivo", conta a diretora Elaine da Silva.

Entre as personalidades paranaenses, os preferidos são os ex-governadores Parigot de Souza e Manoel Ribas, que nomeiam, respectivamente, 19 e 14 escolas no estado. Já a professora pontagrossense Júlia Wanderley é homenageada por 11 estabelecimentos do estado.

Quem define

Uma deliberação do Con­selho Estadual de Educação determina que a escolha dos nomes das escolas deve ser feita pela mantenedora, ou seja, pelas secretarias de educação municipais e estadual. Muitas vezes, sugestões surgem da própria comunidade em que a instituição está inserida e são aprovadas. O Legislativo e o Executivo municipais e estadual também podem apresentar projetos de lei para nomear escolas.

Entre os critérios das leis sobre nomenclatura de bens públicos, normalmente, aparece a preferência por nomes de significação cívica e cultural. "É escolhido o nome de alguém que seja representativo, seja local, regional ou nacionalmente", explica o presidente da Câmara de Londrina, Gerson Araújo. "Uma lei federal proíbe que seja o nome de alguém vivo", acrescenta.

Preservação

Para o doutor em His­­tó­­ria, José Miguel Arias Ne­­to, essas homenagens podem contribuir para preservação da memória e da identidade desde que sejam transmitidas aos estudantes. "Se os alunos souberem quem foi aquela personalidade e por que o nome dela denomina a escola, está sendo feita a manutenção da identidade."

Por outro lado, o historiador acredita que, muitas vezes, os critérios na escolha do nome são mais políticos do que cívicos ou culturais. "Existe, em alguns casos, o interesse em preservar a memória do próprio grupo, de seus correligionários", explica.

Creches dão preferência a termos infantis

Nas escolas que atendem faixas etárias mais baixas são os termos mais infantilizados e genéricos que predominam na nomeação. Lugares-comuns como Criança Feliz, Pequeno Príncipe, Criança Esperança e Pequeno Polegar aparecem exclusivamente nos centros infantis e estão entre os nomes preferidos dessas instituições no Paraná.

No Centro Municipal de Educação Infantil Criança Feliz, de São José dos Pinhais, foram as próprias crianças que escolheram o nome da escola. "Foi feita uma votação com pais e alunos, e a maioria sugeriu Criança Feliz", conta a diretora Débora Cristiane Kalempa.

Quando foi fundado em Pinhais, em 2010, o Centro Municipal de Educação In­­fantil Pequeno Príncipe recebeu esse nome em homenagem ao personagem do romance francês. "A história do Pequeno Príncipe transmite valores muito importantes e é esse também o papel da escola", explica a diretora Rosélis Waltrick.

Segundo ela, a ideia de valorizar elementos contidos na história não se limita à escolha do nome. Ali, as crianças conhecem a história do Pequeno Príncipe e os valores transmitidos. "Eles chegam muito pequenininhos, mas em algum momento conhecem a história."

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