Monteiro Lobato, Tancredo Neves e José de Anchieta não eram conterrâneos, não tiveram o mesmo trabalho, nem sequer foram exatamente contemporâneos. Talvez o único fator em comum entre eles seja a importância que ocupam na história do Brasil. Como consequência disso, surge outro denominador comum entre os três: o grande número de escolas que adotam seus nomes para homenageá-los. Cecília Meireles, Duque de Caxias e Rui Barbosa também figuram entre os preferidos.
Monteiro Lobato lidera o ranking de nomes que mais se repetem nas escolas públicas do Paraná (veja ao lado a lista com os dez mais escolhidos), segundo o Censo do Ensino Básico. São 53 instituições, entre estaduais e municipais. Homenagem mais que merecida àquele que foi um dos primeiros autores da literatura infantil do Brasil e da América Latina, criando personagens reverenciados até hoje.
A segunda personalidade que mais aparece é Tancredo Neves. A participação ativa na vida política do Brasil entre as décadas de 1950 e 1980 lhe rendeu a homenagem de 41 instituições. Tancredo de Almeida Neves foi o primeiro presidente civil eleito no Brasil em mais de 20 anos, em 1985, mas faleceu antes de tomar posse.
O terceiro no ranking é o padre espanhol José de Anchieta, que chegou ao país em 1553 e no ano seguinte fundou o Colégio de São Paulo, embrião da capital paulista. Seu nome aparece em 36 escolas, provavelmente, por causa do papel de educador que o padre desempenhou, usando o teatro e a poesia para ensinar os índios.
Em Londrina, o sacerdote dá nome à mais antiga escola da cidade, fundada em 1931, três anos antes da instalação oficial do município. "Foi uma homenagem a ele, mas não temos registros de quem fez a escolha ou do motivo", conta a diretora Elaine da Silva.
Entre as personalidades paranaenses, os preferidos são os ex-governadores Parigot de Souza e Manoel Ribas, que nomeiam, respectivamente, 19 e 14 escolas no estado. Já a professora pontagrossense Júlia Wanderley é homenageada por 11 estabelecimentos do estado.
Quem define
Uma deliberação do Conselho Estadual de Educação determina que a escolha dos nomes das escolas deve ser feita pela mantenedora, ou seja, pelas secretarias de educação municipais e estadual. Muitas vezes, sugestões surgem da própria comunidade em que a instituição está inserida e são aprovadas. O Legislativo e o Executivo municipais e estadual também podem apresentar projetos de lei para nomear escolas.
Entre os critérios das leis sobre nomenclatura de bens públicos, normalmente, aparece a preferência por nomes de significação cívica e cultural. "É escolhido o nome de alguém que seja representativo, seja local, regional ou nacionalmente", explica o presidente da Câmara de Londrina, Gerson Araújo. "Uma lei federal proíbe que seja o nome de alguém vivo", acrescenta.
Preservação
Para o doutor em História, José Miguel Arias Neto, essas homenagens podem contribuir para preservação da memória e da identidade desde que sejam transmitidas aos estudantes. "Se os alunos souberem quem foi aquela personalidade e por que o nome dela denomina a escola, está sendo feita a manutenção da identidade."
Por outro lado, o historiador acredita que, muitas vezes, os critérios na escolha do nome são mais políticos do que cívicos ou culturais. "Existe, em alguns casos, o interesse em preservar a memória do próprio grupo, de seus correligionários", explica.
Creches dão preferência a termos infantis
Nas escolas que atendem faixas etárias mais baixas são os termos mais infantilizados e genéricos que predominam na nomeação. Lugares-comuns como Criança Feliz, Pequeno Príncipe, Criança Esperança e Pequeno Polegar aparecem exclusivamente nos centros infantis e estão entre os nomes preferidos dessas instituições no Paraná.
No Centro Municipal de Educação Infantil Criança Feliz, de São José dos Pinhais, foram as próprias crianças que escolheram o nome da escola. "Foi feita uma votação com pais e alunos, e a maioria sugeriu Criança Feliz", conta a diretora Débora Cristiane Kalempa.
Quando foi fundado em Pinhais, em 2010, o Centro Municipal de Educação Infantil Pequeno Príncipe recebeu esse nome em homenagem ao personagem do romance francês. "A história do Pequeno Príncipe transmite valores muito importantes e é esse também o papel da escola", explica a diretora Rosélis Waltrick.
Segundo ela, a ideia de valorizar elementos contidos na história não se limita à escolha do nome. Ali, as crianças conhecem a história do Pequeno Príncipe e os valores transmitidos. "Eles chegam muito pequenininhos, mas em algum momento conhecem a história."