Paraná era o maior produtor e exportador do país. Norte do estado era visto como uma terra de promessa, o solo da riqueza sem fim.| Foto:

O fim do domínio do café no setor econômico do estado estaria fadado a terminar uma hora ou outra. Esta é a avaliação do agrônomo Irineu Pozzobon, que trabalhou no extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC) e é autor do livro A epopeia do café no Paraná. Segundo ele, o próprio pé de café tem um ciclo estipulado.

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“Na terra roxa, um pé de café aguentava 25-30 anos de produção”, diz. A Geada Negra teria apenas antecipado o fim do ciclo do café. “O ciclo do café tem duração de 50 anos. O café entrou aqui e passou mais ou menos esse tempo sendo a principal fonte de recurso.”.

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A produção cafeeira no Paraná se intensificou economicamente a partir da década de 1940, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Até essa época, o Norte era considerado “uma terra virgem, esperando que alguma coisa fosse plantada”. “O Paraná virou assim uma espécie de Eldorado”, relata.

Redução

Pozzobon chama a atenção para o fato de que antes mesmo da Geada Negra o Paraná já tinha registrado uma redução no cultivo cafeeiro. Durante a década de 1960, 2,49 milhões de pés tinham sido extintos na região. Alguns fatores foram fundamentais para explicar esse fenômeno, como a ocorrência de geadas anteriores e a própria política de erradicação, promovida pelo governo federal. A política de erradicação tomou corpo em meados daquela década. Em todo o Brasil havia um estoque de 66 milhões de sacas de café.

O imperativo da soja

Mesmo com o cenário desolador, as terras da região precisavam continuar lucrativas. Com a erradicação de parte da produção do café, a geada de 1975 acelerou o ritmo de transformações no campo paranaense. Muitos agricultores optaram pelo investimento em soja, milho e trigo. Criaram-se cooperativas agrícolas.

Segundo o historiador Roberto Bondarik, a erradicação dos cafezais abriu espaço para o cultivo de produtos que permitiam a mecanização quase que completa de seu manejo. “Já haviam exemplos de agricultura mecanizada no Paraná como, por exemplo, aquela praticada pelos suábios em Guarapuava que produziam trigo, arroz e outros produtos”, afirma. Segundo ele, se alguns cafeicultores tinham dúvidas sobre reduzir a área ocupada lavoura de café essa dúvida foi extirpada pela geada de 18 de julho de 1975.

Em 1963, a entrada do Estatuto do Trabalhador Rural (que em 1973 foi substituído por uma lei sobre a relação trabalhista rural) também motivou uma renúncia voluntária ao café. Até então, os trabalhadores entravam em acordo com os proprietários da terra e ficavam com uma determinada porcentagem sobre as vendas do café – eram os chamados “porcenteiros”.

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Na visão do supervisor da Cooperativa Integrada, com sede em Londrina, Ciro Ohara, responsável por um dos maiores acervos sobre a história do café em Londrina, esses fatores contribuíram decisivamente para a redução do café na região. “A cultura ia ser trocada de qualquer forma”, assinala.

Com a Geada Negra em 1975, a redução cafeeira encontrou seu ápice, decretando o fim de uma era em que o ouro verde predominou na Região Norte paranaense.

Pozzobon descreve que o Paraná sentiu a ausência da produção do café durante os anos pós-Geada Negra. “Mas nem por isso o estado deixou de sobreviver. Depois da Geada Negra, o próprio Paraná percebeu que tinha que modificar a situação e partiu para a industrialização”, afirma.

Porém...

O historiador Roberto Bondarik discorda que o fim do ciclo do café ocorreria de uma forma ou outra.

“Acredito que o café ainda teria muito fôlego como atividade econômica e poderia ainda se manter por algum tempo, aliás como ainda se mantém em alguns pontos do Paraná e do Brasil”, diz. Bondarik assinala que teria que surgir alguma atividade agrícola de produzisse muito impacto para desbancar a cafeicultura da forma que ocorreu em 1975.

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Para ele, o Norte do Paraná ainda sente falta dos tempos áureos do café. “... foi sinônimo de desenvolvimento e de riqueza por muito tempo. O café ditou o ritmo da ocupação e do desenvolvimento da região”, ressalta. Segundo Bondarik, cerca de 250 cidades e povoados surgiram em decorrência da colonização e o café era o principal produto que movia a economia com o seu cultivo e com as suas atividades paralelas. (DA)

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