Trezentos e dezenove anos, 434 quilômetros quadrados, 75 bairros com quase um 1,8 milhão de habitantes. A maior cidade do Sul do Brasil tem diversos monumentos históricos e modernos de onde é possível vê-la em variados ângulos. Cada pessoa tem um ponto de vista diferente, de acordo com a profissão, características pessoais ou com o lugar onde está. É o caso dos cinco personagens que aceitaram nos contar, no especial de Curitiba, sobre como eles enxergam e percebem a capital paranaense.
Privilégio de cenário a partir da caixa dágua
Passar a noite no local de trabalho pode parecer entediante quando falta distração. Para os funcionários do Reservatório Cajuru, entretanto, esse tipo de escala de trabalho rende boas histórias. Isso porque, no local, está a famosa caixa dágua do bairro Alto da XV, um dos pontos de Curitiba com a melhor vista da cidade e da região metropolitana. Incluída no projeto para ser um dos quatro reservatórios de abastecimento de água da capital na metade do século 20, a caixa dágua tem 26 metros de altura. A construção dela foi finalizada na década de 1940.
A vista privilegiada é um prato cheio para o funcionário da Sanepar e geógrafo Ceslau Elias Makovski, 42 anos. Há 17 anos ele trabalha no local e não esconde a paixão profissional e pessoal de subir no alto da caixa dágua e admirar a vista, em especial o contraste que ela pode causar. "De um lado (vista de Pinhais) vemos a Serra do Mar preservada e, do outro (Centro de Curitiba), um paredão de concreto. Em minhas aulas, quando eu podia trazer os alunos aqui, mostrava os pontos da cidade e explicava por que ela foi construída dessa maneira", comenta.
Urbanismo
Makovski se refere ao plano urbanístico da cidade, o Plano Agache, idealizado pelo arquiteto e urbanista francês Alfredo Agache. Executado no início da década de 1940, o projeto orientou o poder público até 1958 e deixou marcas visíveis. A construção de grandes edifícios na cidade segue, até hoje, parte dos moldes do plano, com prédios em torno das principais avenidas que ligam o Centro aos bairros, como a República Argentina e João Gualberto.
Filmagens
Com quase duas décadas de trabalho no local, Makovski já viu novela ser filmada nos arredores da caixa dágua, acidentes de trânsito e confusões, em especial no réveillon. O lugar fica lotado de pessoas que conseguem subir lá, no dia 31 de dezembro, à espera da virada do ano. Essas pessoas são privilegiadas, pois só sobem a convite. "Alguns até tentam entrar no terreno do reservatório para ir à caixa dágua e ver os fogos", conta. Por questão de segurança, o local não é aberto à visitação e os funcionários impedem as pessoas de atravessarem o portão. "A vista é só nossa", brinca.