No blog Circulando por Curitiba, Washington Takeuchi fala do seu cotidiano na cidade que o adotou| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo
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Em seu livro Alice através do Espelho, o britânico Lewis Carroll inventou o termo desa­­niversário para mostrar que não é preciso esperar um determinado dia do ano para celebrar um evento especial. A ideia parece ter inspirado o engenheiro de telecomunicações Washington Cesar Takeuchi, 46 anos, que desde 2009 registra quase diariamente o cotidiano da cidade em seu blog, Circulando por Curitiba. Tudo começou quando ele planejava via­­­jar para Nova Iorque e, pesquisando as atrações de Manhattan, descobriu uma comunidade de blogueiros dedicada a postar uma foto e um texto por dia sobre a cidade onde moravam. "Decidi integrar o coletivo e fiz um blog chamado Curitiba Portraits, mas dava trabalho traduzir todos os textos para o inglês e ainda manter sua versão em português, o Circulando por Curitiba. Como a maioria dos visitantes era daqui mesmo, acabei encerrando o primeiro blog. Hoje, o Circulando recebe cerca de mil visitas diárias", conta.

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Munido de uma câmera fo­­­­tográfica que nunca desliga, ele já clicou as 51 árvores imunes de corte na cidade, os 100 bens tombados pelo Patrimônio Cultural, as obras de Poty Lazzarotto e outros temas locais. Em uma das postagens mais curiosas, de março do ano passado, Takeuchi comprou uma réplica do boneco Laurentino – aquele que, antigamente, ficava balançando ao vento na Praça das Nações, no Cristo Rei – e clicou o personagem em diferentes pontos da cidade, mais ou menos como o gnomo do filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. Houve ainda o caso de um leitor que, tendo passado a infância em Curitiba, pediu que Washington fotografasse seu velho endereço para poder matar a saudade. "Fui lá e cliquei a casa onde ele morou nas Mercês, depois postei a foto no blog. Ele ficou emocionado", conta. Quando comentou a polêmica demolição da antiga fábrica da Matte Leão, no Rebouças, seus leitores lotaram a caixa de comentários do blog e Washington decidiu escrever para cada um dos vereadores da cidade, questionando-os sobre a lei de tombamento municipal. Resultado: o blogueiro foi recebido pelo candidato a prefeito Gustavo Fruet. A vereadora Julieta Reis também se mostrou interessada em ajudar.

Origem

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Natural de Mandaguari, no norte do estado, Wa­­­shington Takeuchi conta que sua paixão por Curitiba começou ainda na infância, quando visitava as irmãs que moravam na capital. "Fiquei encantado com o contraste entre uma cidade pequena como a minha e uma metrópole como Curitiba. Andar de elevador, ver os prédios, até mesmo comer pizza era novidade para mim", recorda.

Curitiba cantada em versos e prosa

Tomando emprestados os versos do poeta Marcos Pra­­­do, a banda Maxixe Machine já disse que Curitiba é "a úni­­­ca droga" que admitiria na vida. Mas talvez nenhum grupo musical tenha leva­­­do o bairrismo tão a sério quanto Lívia e os Piá de Prédio. Criado em 2007 e com dois discos gravados, o grupo – formado apenas por curitibanos – já musicou a Revolução Federalista, a neve de 1975 e outros episódios marcantes da cultura local, como a passagem do Zeppelin por Curitiba em 1936. Na canção Submundo Autofágico, ironizam a busca pelo sucesso de bandas locais, cujo sonho é sair na capa do Caderno G e no Paraná TV. "Tenho uma lista gigante de coisas que me chamam atenção e sobre as quais ainda quero escrever. Ano passado finalmente consegui compor uma música que falasse sobre usar o uniforme em cima do pijama nas manhãs de inverno", conta a vocalista e compositora da banda, Lívia Lakomy. Mesmo sem os piás de prédio – que cresceram e agora precisam se dedicar aos seus empregos e famílias –, Lívia continua fiel ao exercício de olhar seu mundo com bom humor, seja em carreira solo ou com outros parceiros musicais. Para cantar a Curitiba de 2012, ela revela que já tem duas letras prontas, uma delas intitulada Mobilidade. "Vou falar sobre a questão das ciclovias, engarrafamentos e má educação no trânsito. É talvez a música menos bem-humorada que já fiz", admite.

Outra visão

O escritor, cronista e cartunista Dante Mendonça costuma dizer que uma das qualidades da nossa capital é ter sido construída "do zero" e, ainda assim, ser tão bonita. "Curitiba é uma moça com botox, até nossas belezas naturais são artificiais, como os parques e o Jardim Botânico. Mas, ao contrário do Rio de Janeiro ou de Florianópolis, onde Deus foi generoso, podemos encher o peito e dizer que foi o curitibano quem mudou sua cidade para melhor", elogia.

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