Toda a minha infância foi bem tranquila nesse bairro (Uberaba) onde vivi até os 12 anos. Fiz todas as brincadeiras possíveis com os amigos da rua, tive muita liberdade nessa época
Quem não conhece Emanuel Rêgo, 43 anos, pode pensar que ele é um típico “menino do Rio” – música de Caetano Veloso, imortalizada na voz de Baby Consuelo, que era quase uma homenagem aos garotos cariocas bronzeados de sol que passavam o dia à beira-mar, praticando algum tipo de esporte. Mas o recordista mundial do vôlei de praia, com 155 títulos, entre eles três medalhas olímpicas, nasceu em Curitiba, cresceu na Vila Macedo, no Uberaba, de onde guarda lembranças das brincadeiras de ruas, dos amigos de infância e dos passeios aos domingos com a família no Parque Barigüi.
Emanuel conta que morou na Vila Macedo até 1985, quando a família se mudou para a região central de Curitiba. “Toda a minha infância foi bem tranquila nesse bairro onde vivi até os 12 anos. Fiz todas as brincadeiras possíveis com os amigos da rua, tive muita liberdade nessa época”, comenta.
O interesse pelo esporte surgiu na escola. Emanuel conta que estudava no Colégio Medianeira, no Prado Velho, que já naquela época tinha uma estrutura esportiva bastante grande, o que o impulsionou a conhecer vários esportes. “Durante as olimpíadas escolares, os alunos tinham a possibilidade de escolher um esporte com o pé, um esporte com a mão, um esporte intelectual e um esporte individual. Eu sempre escolhia as mesmas coisas: vôlei, futebol de campo, corrida de 100 metros e de 400 metros e xadrez”, relata.
Já quase no final do antigo 2.º Grau – o atual Ensino Médio -, Emanuel ganhou uma bolsa no Positivo para estudar e jogar pelo colégio. Fez o segundo ano na unidade da Ângelo Sampaio e o terceirão na sede da Desembargador Motta.
Aposentadoria
Emanuel começou a carreira profissional no vôlei de quadra, defendendo o Clube Curitibano, mas em pouco tempo se transferiu para o vôlei de praia, onde, além das conquistas olímpicas, foi dez vezes campeão do Circuito Mundial, oito vezes campeão do Circuito Brasileiro e venceu o Campeonato Mundial em três temporadas. Deixou as areias no ano passado, mas atualmente integra as comissões de atletas da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e do Ministério do Esporte.
Vida social
Mesmo com a intensa vida esportiva desde a adolescência, Emanuel conta que conseguia curtir um pouco da vida noturna de Curitiba. Lembra muito dos agitos do Largo da Ordem nos anos 80/90. “Fui ao Bar do Alemão muitas vezes, mas eu já estava com a mente muito mais voltada para o esporte”, comenta.
Emanuel lembra da “lambateria” que funcionava na Sociedade Operária, no Largo da Ordem. “A gente (o pessoal do vôlei) ia direto. O Largo da Ordem era sempre a minha saída. Ninguém tinha muito dinheiro, ia ali para curtir, escutar uma música e ficar mais à vontade”, diverte-se.
Mas Emanuel conta que também passou boa parte da sua vida nos clubes da cidade. Seu roteiro se dividia entre o Clube Santa Mônica, o Curitibano e o Círculo Militar. “As grandes memórias que eu tenho, das amizades que eu construí, foram dento dos clubes”, afirma.
Estudos
Durante três anos, Emanuel prestou vestibular para Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Minha irmã já fazia Medicina na Evangélica e meu pai não teria condições de pagar duas faculdades particulares”. Ele lembra que no primeiro vestibular, ficou em 11.º lugar na fila de espera, mas não houve segunda chamada. Nos dois anos seguintes, o rendimento não foi o mesmo e a carreira esportiva já deslanchava. “Em 1993, fui morar em Vitória (ES) para jogar vôlei. Combinei com os meus pais que, se em três anos eu não desse certo no vôlei, voltaria pra Curitiba e para os estudos. Três anos depois, em 1996, eu estava indo para minha primeira Olimpíada”, recorda.
Entre 1993 e 1996, frustrado por não ter passado no vestibular, Emanuel continuou estudando por conta própria, paralelamente aos treinos. Na época, morava em João Pessoa (PB). Em 1995, passou em Educação Física na UFPR. “Voltei para Curitiba para estudar, mas aí o Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia já estava muito intenso e eu precisei trancar a matrícula e acabei perdendo a faculdade. Mas fiquei feliz por ter passado no vestibular e realizado esse sonho”.