Eu tinha 20 reais no bolso e uma mala sem alça, de tão velha que era. Curitiba me abraçou e hoje, eu sou curitibano de coração
São quase 2 milhões de pessoas circulando pelas ruas de Curitiba diariamente, conforme as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2016. A cidade, que até o final do século passado era marcada pela mistura das características dos povos que a colonizaram – dos indígenas aos imigrantes europeus que aqui se instalaram –, hoje dá sinais de estar mais aberta e menos sisuda.
O sociólogo Cezar Bueno de Lima, professor do curso de Mestrado em Direitos Humanos e Políticas Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), afirma que, em função das mais recentes ondas migratórias, Curitiba adquiriu um caráter mais cosmopolita, graças à industrialização e ao enriquecimento cultural da cidade em virtude desse crescimento. “Ocorreu um envelhecimento daquela ‘geração europeia’, uma multiplicação de pessoas e a cidade passou a ter mais pluralidade”, analisa. Segundo ele, agora sim o slogan “Curitiba cidade sorriso” faz sentido, bem mais do que no século passado, quando foi criado.
Para o sociolólogo, Curitiba viveu dois grandes fluxos migratórios, o primeiro até a década de 90, formado principalmente por pessoas que vinham de áreas rurais em busca de oportunidades na capital. O segundo momento, a partir da década de 90, já teve uma característica marcada principalmente pela industrialização e da inovação cultural e tecnológica que Curitiba oferecia. “Mas, ainda assim, Curitiba é uma cidade que tem muitos dos problemas típicos das cidades latino-americanas”, ressalta o pesquisador, elencando questões como o alto índice de violência, transporte público deficiente e nível de desemprego elevado.
O ator e humorista Fagner Zadra, 34 anos, conhecido pelos quadros do “Tesão Piá”, nos quais satiriza os trejeitos do curitibano, é um exemplo da abertura da cidade a quem veio de fora. Nascido na cidade gaúcha de Planalto, no noroeste do Rio Grande do Sul, em 2004 decidiu vir para a capital paranaense. “Não conhecia Curitiba, mas já tinha ouvido falar. Eu queria crescer culturalmente e sabia que a cidade poderia me oferecer isso. Acho que deu certo”, comenta o ator, que cursou Engenharia Civil na Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas acabou construindo carreira como humorista.
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