Curitiba tem potencial para se tornar uma smart city (ou cidade inteligente), mas ainda está longe disso assim como a maioria das cidades brasileiras. Essa é a conclusão a que chegaram especialistas que abordaram o tema durante a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI) 2014, evento que está sendo realizado na sede da Universidade Positivo, no bairro Campo Comprido, na capital paranaense.
Smart city é um conceito que define cidades com boa performance em temas como economia, mobilidade, governança, ambiente, vida e pessoas. "Curitiba é a capital brasileira mais propícia para essa transformação em smart city pelo histórico, infraestrutura e quantidade de habitantes. Promover uma transformação em São Paulo, por exemplo, seria muito difícil", argumenta André Telles, um dos organizadores do ICities, evento que ocorre paralelo à CICI 2014.
O Inteli Inteligência e Inovação, instituto sediado em Portugal, agrega 41 cidades portuguesas em torno desse conceito. Vinte delas já constam em um ranking que mede três dimensões principais: inovação, sustentabilidade e inclusão. Para Catarina Selada, a representante do instituto no evento brasileiro, a primeira e principal medida a ser adotada por uma cidade que quer se tornar um smart city é uma mudança no modelo de governança. "A governança precisa ser horizontal e aberta na interação com o cidadão. Sem isso, é difícil de alcançar os demais atributos", explica a especialista.
Audiências
O mais próximo que temos dessa governança horizontal no Brasil são as audiências públicas e a obrigatoriedade de publicação de dados por órgãos públicos ações previstas por lei, mas que muitas vezes são dribladas seja com uma comunicação tortuosa ou com barreiras impostas para o acesso às informações.
Um exemplo de smart city é Santander, na Espanha, onde há sensores espalhados por toda a cidade que informam sobre a qualidade do ar, condição do trânsito e até onde há vagas públicas de estacionamento, para evitar que a pessoa trafegue além de sua necessidade com o carro particular. Catarina é uma entusiasta da cidade, mas para ela a tecnologia não pode ser um fim em si. "Entendemos que uma smart city deva aumentar a qualidade de vida das pessoas. Mas há diversos modelos, desde aquelas mais focadas em tecnologia até aquelas voltadas ao aspecto social".
De acordo com André Telles, Buzios atualmente é a cidade brasileira em que há mais iniciativas voltadas ao conceito de smart city. O município carioca, entretanto, tem apenas apenas 27,5 mil habitantes, o que na teoria facilita a implementação desse modelo. "Eles trabalham bem essa questão, principalmente do ponto de vista ecológico. Mas aqui no Brasil ainda são poucas as cidades que conseguiram entender o conceito", argumenta.
Protagonismo social é fundamental para urbes sustentáveis
Carolina Pompeo, especial para a Gazeta do Povo
Mobilidade urbana e bairros ecossustentáveis foram os temas de discussão na manhã de ontem na CICI 2014. O austríaco Rudolf Giffinger, professor responsável pelo Centro de Pesquisa Urbana e Regional do Departamento de Planejamento Espacial dos Ambientes da Universidade de Tecnologia de Viena, falou sobre mobilidade urbana e cidades inteligentes.
Giffinger pesquisa o modelo metropolitano policêntrico, baseado no desenvolvimento descentralizado das áreas da cidade, de maneira que cada bairro consiga ser sustentável e suprir as demandas de seus moradores segurança, trabalho, educação, saúde e entretenimento. Para tanto, é necessário que os cidadãos sejam educados a solucionar os problemas do seu entorno, tornando-se protagonistas do gerenciamento de recursos disponíveis e da articulação das mudanças.
"Um bairro eco-sustentável se desenvolve a partir do empoderamento de seus moradores. As soluções são locais, adaptadas às necessidades daquelas pessoas e às condições ambientais do local", explicou, citando o exemplo do teleférico do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o primeiro transporte público por cabo do país.
Distribuição
No período industrial, o padrão de mobilidade urbana era pendular: o indivíduo ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Hoje, esse padrão é muito mais sofisticado e complexo, entre a saída de casa e o retorno, há um trajeto com pontos de parada e tempos diversos. A noção de cidade distribuída pretende atender às demandas desse sujeito que, embora precise circular diariamente por vários locais, não quer perder horas percorrendo grandes distâncias entre um ponto e outro. "Uma cidade distribuída é uma cidade que se organiza de maneira reticular, descentralizada e integrada. É uma cidade compacta, não pequena, mas compacta, de pequenas distâncias. Os serviços urbanos são mais acessíveis, melhores distribuídos", explica Caio Vassão, doutor em Design e Arquitetura, que apresentou um protótipo de cidade distribuída no Fórum de Tecnologias para Cidades.