Painel pichado na Praça da Homem Nu: parede, muro, fachada e até obras de arte, nada escapa da ação de pichadores| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

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Para você, o que leva pessoas adultas, com bom nível de estudo e de renda, a pichar muros e fachadas pela cidade?

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Já passou o tempo em que rabiscar o muro alheio era coisa de criança ou adolescente revoltado com o "sistema". Abordagens feitas pela Guarda Municipal de Curitiba nos últimos quatro meses mostram que praticamente metade dos pichadores flagrados nas ruas da capital tem mais de 18 anos. E essa fatia tem aumentado ano a ano, assim como o número de apreensões – de janeiro a abril, foram 65 flagrantes envolvendo adultos, número que já corresponde a 67% de todas as detenções feitas em 2012 na mesma faixa etária.

As estatísticas da Guarda não vão mais a fundo no sentido de lançar luz sobre o perfil dos pichadores, mas depoimentos de agentes e da coordenação do órgão garantem que, ao contrário do que prega o senso comum, os adeptos do spray estão longe de serem jovens sem estudo ou de pouca renda. Conforme o diretor da Guarda Municipal, Cláudio Frederico de Carvalho, a maioria dos pichadores possui ensino médio completo ou até superior, além de pertencer à classe média alta. "Quebrou-se o mito em que se achava que a pichação era uma infração juvenil, de vileiro", resume Carvalho.

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A diferença entre os pichadores de maior ou menor renda pode ser percebida, inclusive, no "modus operandi" dos rabiscos junto às fachadas e muros. Enquanto os infratores com poucas condições financeiras optam pelo rolinho e tinta à base de água com corante, aqueles mais favorecidos adotam o spray como instrumento – o preço de uma única lata gira fácil em torno de R$ 30.

Os registros da Guarda deste ano contabilizam inclusive a autuação de um homem de 30 anos, com emprego fixo, esposa e dois filhos, pego no momento em que rabiscava em um muro. O "hobbie" era escondido da família.

Origem

A discussão sobre o que leva alguém a pichar é complexa e divide especialistas, grafiteiros e pichadores. Em tese, o que diferencia a pichação de um grafite é a existência de uma autorização formal do proprietário do local que recebe o desenho. Este é o motivo pelo qual, muitas vezes, as figuras do pichador e do grafiteiro se misturam. "Fora do Brasil, tudo é grafite. Diferencia-se por uma questão de estética e estilo. Aqui (no Brasil) se você fizer um painel lindo, mas não tiver autorização, se torna algo ilegal. É uma questão delicada", afirma o grafiteiro curitibano Neto Vettorello.

O ex-coordenador de artes visuais da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) Roberto Alves lembra que a pichação é um fenômeno de grandes centros urbanos e, como tal, envolve diferentes fatores. "Já ouvi vários depoimentos em que os pichadores defendem que a rua é um espaço coletivo e eles não se veem como vândalos. Por outro lado, a pichação pode ser resultado de uma necessidade intrínseca que o jovem tem de se expressar, por se sentir invisível em uma sociedade", defende.

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Ofício

Como parte da campanha "Pichação é Crime: Denuncie", coordenada pela prefeitura de Curitiba, proprietários de supermercados, lojas de ferragens, tintas e materiais de construção receberão nos próximos dias um ofício que alerta sobre a proibição de venda de spray para menores de 18 anos. A Associação Comercial do Paraná também distribuirá o informativo a seus associados. A multa para quem descumprir a lei é de R$ 1.785. Em caso de reincidência, o valor dobra e, na terceira vez, o estabelecimento pode ter a licença cassada. Os ofícios vão destacar a obrigação do comerciante colocar na nota fiscal de venda a identificação do comprador.

Denúncias - 153

É o número de telefone do serviço da Guarda Municipal para denúncias envolvendo pichações. As ligações podem ser anônimas e a autuação do infrator independe de representação do proprietário da fachada. Conforme a Guarda, porém, quanto mais detalhadas forem as informações repassadas, maiores as chances dos pichadores serem flagrados ou localizados pelos agentes.

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