Registros da Guarda Municipal nos últimos quatro anos comprovam uma realidade no coração de Curitiba. Mesmo que as denúncias de pichações tenham se alastrado para outros bairros desde 2009, o Centro continua sendo a região mais visada por pichadores. Ano passado, 14% das ocorrências registradas foram nas imediações de pontos como a Praça Tiradentes e a Rua XV.
Das 1.149 denúncias, 159 partiram do Centro. Bairros próximos também aparecem na lista dos mais frequentados por pichadores (veja infográfico ao lado). Faltam dados sobre a origem dos infratores, mas é possível notar que boa parte das ocorrências fora da região central se concentra ao longo de duas linhas estruturais do transporte coletivo: as que ligam o Centro aos terminais Santa Cândida, Pinheirinho e Boqueirão.
A geografia das pichações e as estatísticas da Guarda Municipal dão conta ainda de um comportamento que parece estar se sedimentando, se levado em conta o aumento expressivo de denúncias feitas ao poder público. As ocorrências em janeiro e fevereiro deste ano já equivalem a 29% do total de registros no ano passado. Para o diretor da Guarda, não são os pichadores que estão mais atuantes, e sim os curitibanos que não têm mais tolerado a prática.
"Não houve aumento de pichações, pelo contrário. O que aumentou foi a confiança da população na Guarda e o conhecimento sobre o canal correto para fazer as denúncias. Agora, quem liga para o 153 já sabe que o ideal é passar os dados dos pichadores com a maior precisão possível", diz o diretor da Guarda Municipal, Claudio Frederico de Carvalho.
Apesar de a avaliação ser um argumento típico de órgãos de segurança para explicar o aumento de índices ligados a denúncias e apreensões, é fato que a ajuda da população tem sido útil. Até a última quarta-feira, 78 pichadores foram flagrados e detidos pela Guarda este ano no momento em que atacavam alguma fachada o equivalente a 36% de todas as apreensões feitas em 2012. Dos 78 flagrantes, 44 envolveram crianças ou adolescentes e 34 adultos.
VoluntariadoOurives empresta as mãos de artista para limpar o concreto
O ourives Paulo Cornelis de Geus, morador de Curitiba desde o início da última década, é conhecido como seu Paulo entre os amigos e clientes de uma joalheria na Rua XV. Um senhor simpático e bem disposto, considerando seus 84 anos bem vividos. Só fica um pouco ranzinza quando se depara com os rabiscos e desenhos abstratos feitos com spray em uma parede qualquer ali do Centro.
Aí, não tem muita conversa. Principalmente se começar a pensar no cenário que encontrou quando chegou à capital, no ano 2000, com prédios e comércios até então pouco pichados. Bons tempos. "A pessoa capricha, faz um muro bonito, se preocupa, e aí acontece um absurdo desses."
Seu Paulo, porém, não é daqueles que só reclama de braços cruzados. Num domingo de descanso, foi para a Rua XV com pincel e lata de tinta a tiracolo para despichar paredes e portas do Calçadão. Outras cem pessoas o acompanharam. Foi bonito de ver.
Neste domingo, se o tempo colaborar, tem mais. Seu Paulo, porém, já adianta: não quer ter de enfrentar a queda de braço com os pichadores por muito tempo. Torce para que a gurizada deixe de vez os sprays. "Educação é a solução. Educar essa juventude incentivando o respeito à propriedade alheia. Se no meu tempo de piá a gente fizesse isso, nem te conto..."