Artista desenha muro no bairro São Francisco, em Curitiba. Grafite como forma de inclusão social| Foto: Fotos: Bruno Covello/Gazeta do Povo

Entenda mais

O Gaz+ indica dois documentários para conhecer mais sobre a cultura da arte urbana

Pixo (2009)

O filme mostra a cultura da pichação em São Paulo, com relatos e cenas de grupos da cidade em busca de demarcar o seu território por meio da escrita com o spray.

Graffiti Wars (2011)

O documentário mostra a briga entre os artistas Banksy e King Robbo, que envolveu toda a comunidade de artistas de Londres e trouxe à tona discussões sobre a ética do grafite.

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No Brasil

Todo trabalho não autorizado é picho

No Brasil, a diferença entre grafite e pichação é estabelecida por lei. De acordo com a regulamentação, grafite é toda arte de rua que seja permitida pelo proprietário do terreno, seja a escrita reta, marca registrada do picho, ou os desenhos mais elaborados, como é o caso do grafite. Os artistas ouvidos pelo Gaz+, entretanto, disseram que essa diferenciação não é vista em outros países, em que o picho é visto como um estilo de escrita do grafite.

Pedestres passam por grafite no Largo da Ordem. Para organizadores do Streets of Style, contato com trabalhos limpa a barra do grafite na sociedade
Além dos murais criados no bairro São Francisco, os artistas pintaram dois muros de mais de um quilômetro
Para Neto Vettorello (à esquerda) encontro deste ano

Os altos índices de violência fizeram com que o bairro do Parolin, em Curitiba, fosse o primeiro a receber uma unidade de polícia pacificadora, no ano passado. Mas para os grafiteiros Neto Vettorello, o Asew, de 29 anos, e Michael Ando, o Devis, de 27, era preciso mais do que segurança para apresentar outras perspectivas aos jovens da região. Faltava uma intervenção artística e social. E foi daí que veio a ideia de levar algumas oficinas de grafite para uma escola e um Cras (Centro de Referência de Assistência Social) do bairro.

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A ação fez parte do Streets of Style, encontro internacional de grafite que rolou pela segunda vez em Curitiba, entre os dias 4 e 7 de abril. Ao todo, reuniram-se na cidade 250 artistas de 12 estados do Brasil e de nove países. Neste ano, porém, o evento, que tem a intenção de inserir Curitiba no mapa do grafite internacional, deu uma guinada ao colocar o lado social da arte em primeiro plano.

Ainda visto como ato de vandalismo por parte da população, como afirmaram alguns artistas da área, o trabalho com spray e outros materiais tem um papel de inclusão na sociedade. "Neste ano nós sentimos a necessidade de trabalhar com esse lado do grafite. Fazer só pinturas e shows não deixa uma semente plantada. E com os workshops e discussões nós mantemos um contato mais próximo com a população", conta Neto, um dos organizadores do encontro.

O grafiteiro conheceu a arte em 1998, depois de ver um muro pintado com o trabalho do pioneiro Valdecimples, um dos nomes mais conhecidos de Curitiba. Ele lembra que, por causa do grafite, conseguiu um emprego e abriu portas para outras áreas de atuação. "O grafite tem muito disso. Ele incentiva a buscar um estilo próprio e a se desenvolver como artista."

Comunidade

A Escola Estadual Doracy Cezarino, no Parolin, foi uma das instituições que receberam a ação. Ao todo, mais de 30 pessoas, entre estudantes, artistas e interessados na arte juntaram-se em torno dos professores para aprender macetes e técnicas com o spray.

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O paulistano Shock, de 29 anos, foi um dos artistas que atraiu os olhares curiosos dos participantes. Para ele, a realização das oficinas é importante para mostrar a contribuição que o grafite pode ter para os bairros. "As oficinas ajudam a mudar o conceito das pessoas. Elas desmistificam a arte e mostram como ela pode ajudar as comunidades e colorir a cidade", conta Shock.

Ele mesmo relata que conheceu o grafite no caminho para a escola, depois de se interessar por um desenho que viu numa parede. Desde então, Shock faz dele o seu ganha pão.

Neto acrescenta que a intervenção realizada no ano passado pelo Street of Styles num muro do bairro Hauer impactou a forma como os moradores passaram a encarar o grafite. Segundo o artista, a ação fez com que a prática, antes vista com olhos tortos, se tornasse apreciada e aceita na região.

Neste ano, os participantes do evento aumentaram a dose e pintaram dois muros, no Parolin e no Boqueirão, cada um com mais de um quilômetro de extensão.

Na escola onde rolaram as oficinas e que também teve algumas paredes desenhadas, os estudantes envolvidos com o grafite e o picho, prática ilegal no Brasil, contaram ter revisto os seus conceitos. "Eu comecei a pichar com os meus amigos. Não desenho, mas penso em fazer trabalhos iguais a esse", relatou o estudante W.G., de 17 anos.

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Grafite ganha apoio de órgãos públicos

Entre os apoiadores do Streets of Style deste ano estiveram alguns órgãos públicos, como a Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Além de cobrir parte dos gastos com transporte e alimentação dentro da cidade, a Fundação realizou em parceria com o evento uma ação no Largo da Ordem para promover a paz na região. Cinco artistas de Curitiba e de outros estados criaram um mural coletivo no bairro por meio das técnicas do grafite.

Esta, no entanto, não é a única ação pública de incentivo à arte. Em 2011, a Fundação abriu um edital para a pintura das galerias subterrâneas de dois terminais de ônibus de Curitiba. Já neste ano, a FCC apoia o projeto Motion Layers, em que quatro artistas da cidade usam técnicas da arte de rua para a criação de grandes painéis baseados no cinema.

Para Michael "Devis", um dos organizadores do Streets of Style, ações como essas são importantes para promover a inclusão social. "O grafite é capaz de transformar as pessoas em cidadãos. Mas é importante que haja um direcionamento correto para informar as pessoas sobre o que é a arte de rua", afirma.

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Cultura e Lazer | 2:23

O Gaz+ acompanhou as oficinas do Streets of Style, encontro internacional da arte. Veja arte estilizada feita para a gente.

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