Sentados lado a lado em um auditório improvisado no pátio da Delegacia do Adolescente, 50 jovens menores de 18 anos e os respectivos pais acompanharam em silêncio uma palestra promovida pela Guarda Municipal de Curitiba na tarde da última sexta-feira. A idade, o estilo de se vestir e a atenção dos garotos às palavras podiam variar, mas o motivo de estarem ali era o mesmo: todos foram flagrados, neste ano, pichando muros ou imóveis nas ruas da capital.
O bate-papo, que também pode ser visto como um "puxão de orelha" coletivo, é uma das medidas socioeducativas previstas para quem é pego com o spray na mão. Pais e filhos são convocados a participar, depois de já terem passado por uma audiência no Ministério Público (MP). A intenção da palestra, resultado de uma parceria entre a Guarda, o MP e a 3.ª Vara da Infância e Juventude, é botar na cabeça dos adolescentes um fato crucial: pichação é crime, mesmo que muitos dos envolvidos imaginem o contrário.
"Calouros"
Aos pais, cabe reforçar as palavras ditas pelo diretor da Guarda, Cláudio Frederico de Carvalho, responsável pela conversa. Entre os adolescentes presentes, todos eram "calouros" na pichação e haviam sido flagrados pelos agentes pela primeira vez.
Duas mães, acompanhadas dos filhos de 16 anos, ainda se recuperavam do susto de semanas atrás, quando em um sábado de manhã foram chamadas às pressas para irem até a delegacia. "Foi um baque, um susto para toda a família. Só caiu a ficha para nós quando chegamos aqui na delegacia e demos de cara com todos aqueles sprays", disse uma das mães.
Neste caso, as duas famílias não aguardaram a audiência para tomar uma atitude. No mesmo dia do flagrante, à tarde, com a ajuda dos dois garotos e de um pintor profissional, despicharam e repintaram por conta o muro, que tinha uma série de anúncios comerciais. O que não impediu que os pais tivessem que arcar com novo prejuízo: pagar a multa administrativa de R$ 714,20 à Guarda Municipal.
"Tanta coisa em que se podia gastar isso, tanta coisa que a gente precisa pa ra casa, e agora tenho que pagar R$ 70 todo mês por uma tolice dessas", reclamou outra mãe durante a palestra. A multa, ao menos, pode ser parcelada.