Panorâmica da Rua Presidente João Goulart, no Conjunto Boa Esperança 1, no Tatuquara. À esquerda, grafite de Japem; à direita, trabalho de Paulo Auma: aprovação dos moradores| Foto: Antonio More
Trabalho do grafiteiro Japem em fachada do Conjunto Boa Esperança 1, no bairro Tatuquara, em Curitiba. Projeto nasceu da parceria entre grafiteiros e a Fundação Cultural de Curitiba
As moradoras Sonia Mara dos Santos, Amanda Gabriela Teixeira e Josiane Rodrigues diante de grafite assinado por Japem. Projeto tem aceitação popular e reforça tendência de apoiar a grafitagem para inibir a pichação
Viviane Fátima e o filho Vitor Gabriel diante de grafitagem
O grafiteiro Paulo Auma

Quem passa a pé ou de carro ao longo da Rua Presidente João Goulart, no bairro Tatu­­quara, em Curitiba, logo percebe algo diferente naquele emaranhado de casas parecidas. Há três semanas, as fachadas de três moradias do conjunto Boa Esperança 1 se transformaram em uma espécie de painel ao ar livre. Os grafites feitos por artistas da cidade, em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), não economizam nas cores e no tamanho. Por isso, viraram atração entre os moradores que chegaram ali há cerca de um ano, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

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SLIDESHOW: Veja fotos da grafitagem no Tatuquara

No local vivem 720 famílias. A aceitação do grafite parece ter sido unânime, embora o significado das imagens varie entre os moradores. Os mais velhos dizem que "ficou bonito". Os jovens, mais descolados, recorrem a um "da hora" para elogiar as figuras, desenhadas durante um fim de semana pelos grafiteiros Adriano Japem, Silvio Rodolfo e Paulo Auma.

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Vivian de Fátima Kuwaki é uma das moradoras que tiveram a fachada da casa pintada por Japem, sem custo algum, na Rua Padre Alcides Zanella. A prefeitura se responsabilizou por conseguir a autorização. O artista ficou com a missão de "não deixar" Vivian se arrepender. Passou no teste. "Não tem quem chegue e diga que ficou feio. Todo mundo gostou. O pessoal passa de ônibus e fica olhando. Impossível não chamar a atenção", diz a dona de casa. Assim como os outros proprietários, a moradora apoia a iniciativa não só pelo "exotismo", mas também para impedir que pichações se espalhem pelas moradias – aqui e ali, os rabiscos se fazem presentes.

O mesmo raciocínio se estende a moradores de outros bairros. O número de grafites autorizados por proprietários de comércios e casas quadruplicou de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Mobilização

A Fundação Cultural não entra na discussão sobre a diferença entre grafite e pichação e afirma que a iniciativa no Tatuquara tem o objetivo de envolver a comunidade e trazer arte para cotidiano dos moradores. A grafitagem na fachada das casas era um desejo antigo, compartilhado pelos artistas e por integrantes da FCC. "A aceitação foi muito bacana. Existe um grande interesse da comunidade por manifestações dessa natureza. Há um sentido de embelezamento, que é compartilhado por todos", diz a diretora de Patrimônio Cultural da FCC, Marili Azim.

Mão na lata

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Tinta, café e conversa fiada

Morador da Cidade Industrial de Curitiba, Paulo Auma é um dos grafiteiros mais atuantes da capital. Grafita há 11 anos, "por lazer" e não profissionalmente, como frisa. Auma foi um dos três artistas que deixaram seus traços em casas do conjunto de moradias Boa Esperança 1, no Tatuquara. A experiência não foi inédita em sua carreira, embora seja um pouco diferente de tantas outras vividas no Centro de Curitiba e de outras cidades: dessa vez, conta com a aceitação da comunidade.

"No Centro, as pessoas têm mais medo de se relacionar com quem está na rua, fazendo o grafite. Na periferia é o contrário – os moradores querem te acompanhar, te agradar, ajudar de alguma maneira", comenta Auma. Durante o trabalho, não lhe faltaram convites para um cafezinho, ajuda com a tinta e o spray e uma mão amiga na hora de segurar a escada e o andaime. A criançada, na plateia, se responsabiliza pela animação e pela conversa fiada. São indícios de que grafitar no Centro pode trazer mais visibilidade ao trabalho, mas nem sempre consegue transformá-lo de fato em uma arte coletiva. "A ideia é produzir imagens que possam afetar essas pessoas de alguma forma, envolvendoas durante e depois da pintura", resume o grafiteiro.

Grafites