Dezenove pessoas de uma organização criminosa dedicada ao contrabando de cigarro, armas, munições, medicamentos e eletrônicos foram presas ontem em Mundo Novo (MS), na fronteira entre o Paraguai e Guaíra, no Oeste do Paraná, numa ação conjunta da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Mato Grosso do Sul. A Operação Prometeu foi realizada dez dias depois da publicação pela Gazeta do Povo da reportagem especial intitulada Império das Cinzas, que revela como o cigarro pirata paraguaio está reconfigurando a geopolítica do crime organizado na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O estopim da operação foi aceso há sete meses, num episódio retratado pela reportagem. Em julho de 2013, membros da quadrilha atearam fogo em dois veículos de policiais rodoviários no posto de controle em Mundo Novo. Era uma represália à apreensão de três carretas de cigarro ocorrida no mesmo dia, dando um prejuízo de R$ 1 milhão à quadrilha. A PRF tomou o caso como uma questão de honra a ser resolvida e as apreensões que se sucederam desde então geraram mais R$ 10 milhões de prejuízos à organização criminosa, culminando ontem com a prisão de parte do grupo.
Inteligência
As ações da organização vinham sendo monitoradas pelo serviço de inteligência da PRF e do Gaeco. Além do trabalho rotineiro nos postos de fiscalização, a investigação durou mais de seis meses e a ação desencadeada ontem contou com dez integrantes do Gaeco, 160 policiais rodoviários federais de 15 estados, 55 viaturas, um helicóptero, dois ônibus para transporte dos presos e um ônibus de comando e controle operacional.
As investigações revelaram que a quadrilha seguia uma estrutura hierarquizada e tinha uma divisão de tarefas conforme o nível de importância dos seus integrantes. De acordo com o promotor de Justiça e coordenador do Gaeco, Marcos Alex Vera de Oliveira, todos os presos faziam parte da mesma quadrilha que tinha Mundo Novo como base, mas que irradiava seus negócios do contrabando para São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
A estrutura criminosa era formada por três empresários de Mundo Novo, que são os operadores do contrabando de cigarro no lado brasileiro da fronteira e responsáveis pela falsificação de documentos públicos. Um deles foi preso na operação junto com o filho. Os outros dois estão foragidos. Os demais detidos ontem ocupam cargos inferiores na hierarquia da organização. São pessoas responsáveis por monitorar a atuação da polícia e ladrões de caminhões e carretas para serem usadas no transporte de cigarro e outras mercadorias ilegais que são introduzidas no Brasil pela fronteira com o Paraguai.
A ação foi deflagrada às 6 horas da manhã de ontem. Havia 28 mandados de prisão, mas a PRF e o Gaeco conseguiram cumprir só 16. Doze integrantes do grupo não foram localizados nos endereços residenciais. Em compensação, outros três integrantes do grupo que não tinham mandado de prisão acabaram sendo detidos por porte de armas e munições. Ao todo, foram apreendidos dez armas, 80 munições, uma carreta, seis radiocomunicadores, um carro, R$ 60,5 mil em dinheiro e um valor ainda não calculado em cheques.
Após realizarem exame de corpo de delito, os presos serão encaminhados à delegacia de Polícia Civil de Naviraí escoltados por viaturas e helicóptero da PRF.
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