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Acompanhe o diálogo entre dois contrabandistas sobre a falsificação de notas fiscais para ocultar o cigarro ilegal:

Rafael – Amanhã tá tudo certo. Já tá na mão a nota.

Salviano – Tem que ver aí o horário pra eu ajudar o cara, meu.

Rafael – Tá. Vai ter que ir à noite. Ela vai em Juti, coloca o beliche lá e aí vai rodar, fio. Lá pelas três da manhã ela roda.

Salviano – Mas aí ele vai carregar que horas?

Rafael – Ah, vai sair daqui umas seis, sete horas da noite, mais ou menos.

Salviano – Amanhã?

Rafael – Amanhã. Já tô com a nota dela e vou liberar pro cara amanhã já fazer a nota. Amanhã tá na mão do cara.

Salviano – Vamo avisar eles amanhã cedo, mano.

Rafael – Amanhã cedo você pode avisar eles, tá? O chefe mandou uma mensagem pra mim doida aqui, mano. Eu peguei e só mandei pra ele: "fica tranquilo".

(...)

Salviano – Vai acabar mesmo aonde?

Rafael – Ela vai pra Campo Grande, essa porra aí. Aí, de lá ela sai na quarta-feira pra Três Lagoas. Ela vai acabar naquele monte de divisa, lá.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) intensificou na fronteira entre Brasil e Paraguai as buscas pelos dez foragidos que escaparam anteontem durante a Operação Prometeu, em Mundo Novo (MS). Eles fazem parte de uma organização criminosa que contrabandeia cigarro e outros produtos trazidos do Paraguai. Dezenove integrantes do grupo foram presos na operação que mobilizou 160 policiais rodoviários de 15 estados e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Mato Grosso do Sul.

A quadrilha tinha uma estrutura hierarquizada, com uma divisão de tarefas conforme o nível de importância dos seus integrantes. O comando dos negócios estava em Mundo Novo e que escoava o contrabando para São Paulo, Paraná e Santa Catarina. O grupo era comandado por empresários da cidade, os operadores do contrabando de cigarro no lado brasileiro da fronteira e responsáveis pela falsificação de documentos públicos. A fraude documental foi constatada por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, às quais a Gazeta do Povo teve acesso.

O esquema

As quadrilhas usam notas fiscais falsificadas para acobertar o carregamento de cigarro. Na escuta telefônica de 8 de outubro de 2013, um contrabandista identificado como Rafael diz para outro, Salviano, que está com a nota fiscal. Avisa que na noite seguinte a carga sairá de Mundo Novo para a cidade de Juti, onde um beliche será colocado sobre a carga, e às 6 da manhã seguiria destino a Três Lagoas. No dia 10, a PRF apreendeu 250 mil maços de cigarro em Campo Grande. Sobre a carga havia um beliche, que constava na nota falsificada.

As escutas telefônicas confirmam ainda que os contrabandistas se comunicam entre si para vigiar os passos da polícia. No dia 17 de outubro de 2013, por exemplo, um contrabandista avisa a outro por telefone sobre a presença de uma aeronave da PRF na região. Identificado pelas iniciais HNI, ele fala ao amigo do susto que levou com o avião, que passou muito baixo e parecia conferir tudo o que estava abaixo. O outro pede que o amigo avise quando a aeronave reaparecer.

As quadrilhas mantêm um batalhão de olheiros em pontos estratégicos para espionar policiais e auditores da Receita Federal, de modo a se precaver sobre movimentos que possam indicar alguma operação de repressão ao contrabando. Leia a transcrição de parte das conversas dos contrabandistas grampeadas com autorização da Justiça.

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