Antes de deixar o Brasil, perto das 19h30 de ontem, o papa Francisco deixou um desafio aos participantes da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2013: trazer mais fiéis para a Igreja Católica. A mensagem foi bem clara, diante de uma instituição que viu diminuir o número de adeptos nos últimos anos. Dados do Censo 2010, do IBGE, mostram que o número de pessoas que se declara católica encolheu 22,4% em 20 anos. E a meta se torna mais alta ainda, tendo-se em conta que Francisco não está disposto a abrir mão da posição da Igreja em temas polêmicos para atrair mais fiéis, como a proibição do aborto ou a de equiparar a união homossexual com o casamento entre homem e mulher.
Quem estava na praia de Copacabana ontem escutou uma síntese do que foi pregado pelo papa nos últimos dias. Enquanto Bento XVI frisava nos seus discursos a necessidade de aumentar a qualidade doutrinal dos próprios católicos sem insistir tanto na quantidade, Francisco foi bem mais enfático em querer as duas coisas. Usando as palavras bíblicas, lema da própria JMJ, exortou os jovens a trazer "discípulos", de todos os lugares. "Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente", reafirmou.
O tema da necessidade do fortalecimento das relações humanas, em detrimento do individualismo, também foi uma estratégia utilizada pelo papa para reforçar a importância da união dos fiéis na igreja. Ao criticar egoísmo e instigar ao serviço, Francisco pediu aos jovens uma vida atraente para despertar em outros o interesse por Deus. "Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus", exemplificou. Esse testemunho, acredita Francisco, fará com que as pessoas recebam com mais facilidade as mensagens da Igreja e tentem, de fato, viver de acordo com a moral católica, mesmo nos aspectos mais difíceis.
Encíclica
Vaticanistas atentos às palavras do papa durante a JMJ perceberam que, ao longo da semana, o pontífice não fez nada mais do que repetir, em linguagem popular, o conteúdo da Carta Encíclica Lumen Fidei, publicada no último mês de junho, escrita em parceria com Bento XVI. O documento discorre sobre os motivos de credibilidade da Igreja Católica e faz uma apologia de defesa positiva contra as principais críticas feitas contra ela.
Despedida
"Rezem por mim e até breve", diz papa ao deixar o Brasil
Da Redação, com Folhapress
O papa Francisco encerrou sua visita de uma semana no país com um discurso de agradecimento no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, ontem à noite. Ele entrou no avião por volta das 19h20, com destino a Roma.
No 14º pronunciamento feito no país, o pontífice disse já estar com saudades do Brasil. Lembrou da prece que fez a Nossa Senhora Aparecida para todos os brasileiros e, mais uma vez, dirigiu a palavra aos jovens, através de quem, diz, o mundo espera uma "nova primavera".
"O papa vai embora e lhes diz até breve, um até breve com saudades, e lhes pede, por favor, que não se esqueçam de rezar por ele", falou a uma plateia de convidados no aeroporto.
A Jornada Mundial da Juventude, que se estendeu pela última semana no Rio, marcou a primeira viagem internacional de Francisco. Primeiro papa latino-americano, o argentino assumiu o posto no início deste ano após a renúncia de Bento XVI.
Em discurso proferido em Aparecida (SP), o pontífice prometeu voltar ao Brasil em 2017, ano do aniversário de 300 anos da santa. Francisco praticou um estilo simplista nos compromissos que cumpriu ao longo dos dias da Jornada. Esforçou-se para discursar em português, usando palavras fáceis e expressões coloquiais para se aproximar dos peregrinos. E, passada uma semana, caiu literalmente nas graças do povo.