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DEPOIMENTO

A literatura que nasceu na caixa registradora

"Quando criança, tive livros em casa e era estimulado a estudar. Meu pai comprava histórias em quadrinhos. O estudo tinha um valor. Ele e minha mãe, inclusive, voltaram para a escola, concluíram a oitava série, mas não conseguiram me influenciar na infância para que me tornasse um leitor. Lembro de ter lido Os 3 Porquinhos. E de ter gostado de um suspense – O segredo do quarto 66. Esse tipo de literatura foi determinante para mim. Mas a leitura veio mesmo para valer como uma necessidade da escrita. Quando comecei a escrever – que era o meu desejo – passei a ler mais. Eu tinha mais ou menos 17 anos quando isso aconteceu.

Sempre fui muito tímido e tinha dificuldade de me colocar. Sofria bullying de gangues do bairro. Comecei a escrever sem compromisso. Fazia isso quando era caixa de um supermercado e escrevia pensamentos nas sobras dos rolos de papel. Fui juntando os pedaços. As pessoas que trabalhavam comigo liam, gostavam e me incentivavam. Me reconheciam como escritor. Muitos colegas pediam para eu escrever coisas para eles. Comecei a me apaixonar por essa ideia.

Toda essa história acabou interrompida quando terminei o ensino médio e deixei a escola para trabalhar. Tinha 18 anos, consegui um emprego numa indústria de higiênicos. Não tinha mais vontade de ler. Dois anos depois eu me casei e minha mulher gostava muito de livros – lia Paulo Coelho e Renato Gaúcho. Ao vê-la com o livro nas mãos, senti saudade do tempo em que lia. Acabei conhecendo o Augusto Cury por intermédio dela. Não tinha muito a ver comigo, mas comecei a mudar meu ponto de vista.

Me identifiquei com o Cury e tem muito dele no meu livro, Esse é o meu país, que lancei quando tinha 27 anos, com a ajuda de um tio. Levei muita porta na cara na busca de poder publicar. O livro tem influência também de A cidade de Deus, de Paulo Lins, que li por causa do filme. Além do mais, me incomodava a desigualdade. Mas os livros de autoajuda me deram confiança e me ajudaram a vencer a timidez. Ler para mim é poder enxergar. Abre a mente.

Digo que leitura vingou para mim como prazer. Acho que leio para conseguir escrever mais. Quando pego um livro, vou até o fim, sem parar. Está sendo assim com O cavalo de Tróia. Mantenho minha pequena biblioteca em casa, num lugar de destaque na sala. Escolho muito por indicação. Mas procuro uma linha evangélica. Sou adventista do sétimo dia. E bem eclético na leitura. Sou um leitor reservado. Penso mais do que falo.Sou caseiro. Faço placas e banners em casa. Vou a parques de vez em quando, mas eu gosto do meu espaço. Prefiro um lugar mais pacato. Na cidade, faço grafites de vez em quando. Sou chamado a ir a escolas, falar sobre o meu livro. Gosto de observar as pessoas. Tipos humanos me interessam."

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