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FIEL DA BALANÇA

Anatomia das bibliotecas

"Psiu! Silêncio. Estamos na biblioteca." Quem nunca se deparou com alguma frase parecida com essa ao adentrar em uma biblioteca? Ao contrário do que se propaga aos quatro ventos, talvez essa fórmula já esteja ultrapassada. Pouco importa se é na Biblioteca Pública do Paraná ou na biblioteca da escola do seu filho. Ou ainda nos cantos mais inesperados que uma coletânea de livros pode aparecer: supermercados, clubes de bairros ou moradias de entusiastas da leitura.

O que vale mesmo, muito além do que o silêncio pode dizer, é ser atraído pelos livros. Para isso são necessários projetos que tornem o espaço convidativo ao universo das letras. O espaço físico é outro ponto que conta (e muito) para essa questão. Nada como estar em um local agradável, confortável, iluminado e, sobretudo, equipado com um bom acervo.

Especialistas de diversas áreas – arquitetura, biblioteconomia e educação – traçam um diagnóstico do que pode ser considerada uma biblioteca ideal. Do ponto de vista estrutural há de se tomar cuidado com a iluminação, ventilação e conforto dos usuários. Também não se pode esquecer de um vasto e atualizado material literário e de formação de projetos que estimulem a leitura. Outro ponto é fundamental: ter atendentes capazes de contribuir para o crescimento dos leitores.

"A biblioteca deve estar em local de fácil acesso, ou seja, local em que qualquer interessado, seja ou não portador de algum tipo de deficiência, possa adentrar sem dificuldades ou temor", diz a biblioteconomista Suely Ferreira da Silva. O arquiteto Manoel Coelho acredita que o grande pecado da maioria das bibliotecas é não pensar em elementos básicos, mas essenciais para a formação de um espaço condizente com o que a leitura exige.

"É bom utilizar bastante a iluminação natural. Mas o sol não pode pegar direto no livro e nas mesas de leitura. Para isso é recomendável uma iluminação artificial específica para que as pessoas possam ler sem forçar a vista".

Segundo ele, uma biblioteca deve oferecer conforto, com aquisição de cadeiras e mesas que tragam comodidade aos usuários. "Também é necessário projetar um sistema de ventilação que não prejudique os livros, que não crie bolores".

Outro ponto que, de acordo com Coelho, pode quebrar paradigmas é encontrar maneiras de deixar o espaço menos sisudo. "Pode-se pensar em criar um espaço, como um café, dentro da biblioteca. Isso deixa o local com jeito de lar". Ele aponta que o grande equívoco é pensar que basta uma sala e estantes para montar uma biblioteca. "Não é desse jeito que terá um espaço atrativo e confortável", salienta.

Na mesma linha de raciocínio segue a biblioteconomista Suely da Silva. Para ela, o uso de cores claras nas paredes e nos móveis, contrastando com sofás e pufs coloridos ajuda a quebrar a rigidez inerente à biblioteca. "Também é interessante ter espaços diferentes, como sala de leitura, sala de som, sala para assistir a um filme, espaço para arte, jogos, internet".

Mas a chave da questão talvez nem seja a estrutura física. Mas, sim, os próprios livros e o atendimento nas bibliotecas. A presidente do Conselho de Biblioteconomia do Paraná, Marta Sienna, que já percorreu todas as bibliotecas públicas das 399 cidades do estado, afirma que ainda há diversos pontos a serem corrigidos. "Não se pode deixar os livros em um local onde o sol pegue direto. Há bibliotecas em que os livros ficam com as páginas amareladas e ressecadas por causa disso", afirma.

A questão da qualidade do acervo é uma delas. "Está triste. Muitas (bibliotecas) estão desatualizadas. Não há um orçamento próprio das bibliotecas para comprar livros. Isso inviabiliza muita coisa", afirma. Marta ainda salienta a necessidade de se profissionalizar o atendimento nesses espaços. "O nível de atendimento está gradativamente melhorando. Em 70% das bibliotecas públicas há pessoas com ensino superior. Quando tem alguém que não consegue tratar bem as pessoas, a biblioteca não é frequentada e isso precisa melhorar", afirma.

A educadora e pesquisadora Elisa Dalla Bona acredita, no entanto, que esse processo ainda requer avanços. "Há situações em que quem cuida de uma biblioteca são pessoas sem preparo, que não estimulam a leitura. É preciso que a biblioteca não seja um depósito de livros. Para isso deve contar com pessoas capacitadas". Segundo ela, quem atende em espaço como esse precisa ter conhecimento de algumas obras. "O ideal é que pessoa consiga 'vender' o livro para o usuário. Provocar o interesse pela leitura. Ser um verdadeiro difusor da leitura", salienta.

Nem tudo são espinhos

Ao passo que muitas melhorias são recomendadas, alguns projetos e iniciativas podem surgir como alternativas para firmar a biblioteca como uma porta de acesso ao universo das letras. A exemplo do que acontece com a contação de histórias para crianças, que procura capturar o leitor infantil, o mesmo projeto poderia ser repetido a adultos. "Todo mundo gosta de ouvir uma boa história. Uma roda de leitura é outra grande alternativa", aponta a educadora Elisa Dalla Bona.

A ideia é tornar a biblioteca em um espaço polifônico, no qual diferentes vozes das mais diversas faixas etárias possam estar voltadas aos livros. "A contação para crianças já está presente em todas as bibliotecas públicas do Estado e poderia sim ser feita para adultos. Mas em muitos locais o público adulto tem vergonha de ir a biblioteca", afirma Marta Sienna.

Segundo ela, com a popularização da internet a biblioteca deixou de ser um espaço para pesquisa escolar. "Temos que deixar ela para que leitores usem. Fazer grupos de leitura com o pessoal da 3ª idade e adolescentes são projetos que podem dar certo", afirma. Além disso, ela ressalta que promover encontros com escritores e fazer o uso do local de diferentes maneiras é o caminho a ser traçado.

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