Dois anos. Esse é o tempo aproximado que separa o plantio da mandioca da produção da farinha, explica o agricultor Odilon Quintino Dias, de 71 anos, herdeiro de uma farinheira centenária que pertenceu ao bisavô do seu padrasto, na comunidade de Colônia Pereira, em Paranaguá. A espera, garante Dias, é compensada com uma farinha de boa qualidade e muito saborosa.
Toda farinha de mandioca produzida com a ajuda da esposa Alzira Dias, de 70 anos, é destinada ao consumo da família e amigos, mas também pode ser vendida em pequena escala para quem tiver interesse em experimentar a genuína farinha do litoral. Apesar da demora entre o plantio e a produção, a farinheira do casal Dias nunca fica parada. "Quase sempre os vizinhos fornecem a mandioca, nós fazemos a farinha e ficamos com uma porcentagem", conta o agricultor.
A produção artesanal de farinha de mandioca no litoral paranaense é uma tradição que resistiu ao tempo e à modernização da produção. Espalhadas por todos os sete municípios, as farinheiras são um patrimônio cultural da região e a farinha, acompanhamento indispensável do prato típico do litoral o barreado.
O diferencial da farinha litorânea, explica o professor Luiz Fernando Lautert, da Universidade Federal do Paranáno Litoral e coordenador do Programa Farinheiras do Litoral do Paraná, é o amido da mandioca, que não é retirado da massa durante o processo de prensagem. Também chamado de goma, o amido confere sabor e textura especial à farinha.
Um levantamento mapeou a existência de 133 farinheiras em todo o litoral. Dessas, 56 são como a farinheira do casal Dias, que produz pequenas quantidades do produto para o consumo familiar. Das farinheiras restantes, oito são comunitárias e 54 produzem para a comercialização. Apenas 15 estão desativadas.
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