Embarcações
Cerca de 50 navios estão afundados no litoral paranaense. Veja as histórias mais conhecida
Cormorant
O cruzador da Marinha Britânica perseguia navios negreiros no litoral paranaense. Em junho de 1850, envolveu-se em uma batalha em frente à Ilha do Mel e foi atingido. O Cormorant não chegou a afundar, mas os brigues Donna Ana e Sereia foram incendiados. O Donna Ana se encontra na direção da Praia do Miguel, na ilha.
Dasland
O navio saía do Porto de Paranaguá em 1970 e se chocou em outra embarcação durante a madrugada. Para não atrapalhar o fluxo de navios que de dirigiam ao porto, o Daslan seguiu para um banco de areia, onde, em dez horas, encalhou e tombou.
Argentino
Assim como o Vapor São Paulo e o Daslan, o Argentino afundou depois de se chocar com um banco de areia. A embarcação está em mar aberto, próximo ao Farol das Conchas, na Ilha do Mel.
Mataripe
Navio carregado de munição bateu nas pedras e acabou em frente à Praia Deserta, na Ilha de Superagui.
Lendas vivas
Muitas lendas foram criadas após o naufrágio do Vapor São Paulo em Guaratuba. A mais famosa era contada por pescadores, sobre o padre que teria falecido na ocasião e que aparecia nas pedras da praia de Caieiras durante a noite.
Leia o conteúdo completo e veja um vídeo sobre a lenda do padre que assombrava a praia de Caieiras
O movimento das marés guarda sob as águas do litoral paranaense inúmeras histórias de navios que afundaram na região. Pelo menos 50 embarcações naufragaram no estado em aproximadamente quatro séculos, de acordo com levantamentos de historiadores.A presença dos navios afundados no litoral mostra que o Paraná teve participação importante na história da navegação brasileira. Embarcações que seguiam com ouro e prata passavam pelo estado para reabastecer com mantimentos e também comprar mão de obra no mercado de escravos. A Baía de Paranaguá é a que concentra mais navios sob as águas, localizados próximo a entrada do Rio Itiberê (acesso à cidade pelo mar), na região das ilhas do Mel, das Peças e Superagui.
Apesar da pouca visibilidade, os naufrágios representam uma possibilidade de incremento do turismo e valorização da cultura local. Junto com a história de um navio surge também o imaginário popular. "As lendas transformam a praia comum em um lugar com histórias", explica o diretor de turismo de Guaratuba, Mario José Natalino. Há alguns anos, a história da única embarcação que afundou na cidade, o Vapor São Paulo, caiu no esquecimento entre os moradores. O município investe agora na retomada de seu passado por meio de oficinas nas escolas. "Significa um resgate da cidade, em que os moradores conhecem sua própria história", analisa.
Caçadores de tesouros
Incentivados pelas lendas que envolvem os naufrágios, muitos aventureiros buscam tesouros sob as águas. Os itens mais procurados são moedas de ouro, além de objetos de prata e cobre. A busca é encarada com seriedade pelos caçadores de tesouros, que investem dinheiro alto nas expedições. "A tradição oral é muito forte e as lendas atraem as pessoas. Se existe uma história, alguém vai procurá-la", conta o tesoureiro do Instituto Histórico Geográfico de Paranaguá, José Maria Faria de Freitas.
Em muitos casos, os objetos encontrados nas embarcações ficam restritos a colecionadores particulares como forma de recompensa pelo apoio ao investimento, e sequer são catalogados. Nem mesmo os salvados, objetos que chegam à praia com o movimento do mar, são notificados. Por isso, os museus do estado guardam pouquíssimos objetos em seus acervos.
Em Paranaguá, por exemplo, restaram apenas alguns canhões do chamado "navio pirata", história de naufrágio mais conhecida da cidade. Pesquisas apontam que alguns objetos estão em cidades longe do litoral paranaense, como a Lapa. Da embarcação de Guaratuba, um dos últimos registros é de uma empresa de Joinville que teria ficado com as peças, mas nada foi localizado.
As condições em que as peças são retiradas do fundo do mar dificultam o trabalho de conservação. Em geral, os objetos são conservados de maneira incorreta, o que danifica permanentemente sua estrutura. "Assim a história se dissipa, como um navio perdido na neblina. Este é um patrimônio coletivo e que o estado pode reverter como atração turística", avalia a arqueóloga do Museu Paranaense, Claudia Inês Parellada, que tenta remontar o quebra-cabeças da história naval do estado com as poucas peças que restaram dos naufrágios paranaenses.
Lendas dão vida aos naufrágios
As histórias dos naufrágios alimentam o imaginário popular. Os dias de maré baixa na praia de Caieiras, em Guaratuba, revelam partes do Vapor São Paulo. Em novembro de 1868, sob o comando do oficial Jacinto Ribeiro do Amaral, marido da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga, a embarcação voltava da Guerra do Paraguai com cerca de 600 passageiros, entre eles soldados feridos e médicos.
Em meio ao nevoeiro, o vapor encalhou ao se aproximar da costa e tombou. Um soldado morreu e os demais tripulantes se abrigaram nas grutas e nas casas dos moradores do povoado por três dias, aguardando o resgate. Muitos suspeitam que Chiquinha Gonzaga estava a bordo do navio. O principal argumento é de que a compositora era obrigada a acompanhar o marido em suas viagens. Mas nada comprovou sua presença entre os passageiros.
Já em Paranaguá, os piratas são os protagonistas do naufrágio mais famoso da cidade. Entre os séculos 16 e 18, a abundância de ouro e prata nas colônias da América Latina despertou o interesse de piratas, que saqueavam as embarcações que seguiam em direção à Europa.
Em 1718, o navio francês Le François, carregado de prata retirada do Chile, seguia rumo à França quando foi atacado por piratas a bordo da sumaca Louise, próximo à costa brasileira. Conhecedora da Baía de Paranaguá, a embarcação francesa tentou se proteger em águas paranaenses, mas foi seguida pelos piratas.
Ciente do risco que se aproximava, a população parnanguara pediu proteção a Nossa Senhora do Rosário e foi atendida. Quando o navio pirata se aproximava da cidade, uma forte tempestade se formou, fazendo com que a embarcação afundasse próximo à Ilha da Cotinga. Muitos piratas se salvaram e se estabeleceram na cidade, formando famílias que existem até hoje. Análises dos documentos recuperados na embarcação apontam os sobrenomes Fedalto e Du Bois como de alguns dos piratas do Louise.
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