Em números absolutos e também proporcionais, a população idosa lidera o ranking de atropelamentos fatais em Curitiba. No ano passado, foram 16 casos com pessoas acima de 70 anos idade e 14 com vítimas entre 60 e 70 anos. Os números, comparados à quantidade de idosos na população, mostram que, nas ruas da capital paranaense, é 40 vezes maior o risco de um idoso ser atropelado do que uma criança. Das 226 pessoas que morreram no trânsito de Curitiba em 2013, 87 foram atropeladas.
INFOGRÁFICO: Veja o perfil dos atropelamentos
"A taxa por 100 mil habitantes dá um indicativo do risco para os idosos. Eles estão em menor número na população, mas são os que mais morrem atropelados", comenta Vera Lídia Alves de Oliveira, uma das coordenadoras do programa Vida no Trânsito, que analisou todos os acidentes fatais nas ruas e rodovias de Curitiba no ano passado. Para ela, está faltando cuidado com os idosos. "Por que acontecem poucos casos com crianças? Não foi o trânsito que protegeu a criança, foi a família", diz.
Mulheres, atingidas por ônibus no anel central de Curitiba, nas manhãs de dias úteis. Esse é o perfil predominante entre as vítimas de acidente de trânsito com mais de 70 anos de idade. "É uma população que não cresceu no tipo de trânsito que temos hoje", comenta Vera. Para os idosos, a recuperação do acidente também é mais difícil.
Fatores
O atropelamento de idosos não respeita o mesmo padrão das outras faixas etárias, quando homens atingidos por carros são as vítimas mais frequentes. Em relação a 2013, o número de mortes por atropelamento caiu, foram 108 em 2012. Entre os veículos causadores, todos registraram queda nos indicadores, à exceção dos acidentes envolvendo ônibus que subiram de 12 para 15. "Em comparação com outras vias, os pedestres têm atenção reduzida ao atravessar a canaleta", acredita Vera.
O entorno
A análise dos casos de atropelamento mostrou que problemas de infraestrutura são os principais fatores que influenciam no desfecho, como a falta de local adequado para a travessia da rua. Mas, também em muitos casos, o pedestre não respeitou a sinalização.
Caroline Klein, coordenadora do comitê de engenharia do programa Vida no Trânsito, conta que desde fevereiro estão sendo ampliados os tempos de parada de 42 semáforos na capital. "Ainda não deu tempo de avaliar os resultados", diz. Na esquina das ruas Desembargador Westphalen com Pedro Ivo, por exemplo, dobrou o tempo para o pedestre. Ela relata que estão sendo estudadas formas de tornar a sinalização e a infraestrutura de trânsito mais seguras para os idosos.
Atropelada a duas quadras de casa
Aos 83 anos, Altair Carrasco Reyes estava acostumada a fazer o mesmo trajeto com frequência. Gostava de caminhar pela vizinhança e aproveitava para ir ao mercado. Às 10 horas de uma terça, 19 de novembro do ano passado, foi atingida por um biarticulado na canaleta da avenida Sete de Setembro. Chegou a ser socorrida, mas morreu horas depois.
O acidente aconteceu a duas quadras de casa. Paulo Cezar Carrasco Reyes conta que a mãe era saudável e nunca tinha se envolvido em nenhum problema no trânsito. "Foi próximo à faixa de pedestre e de um cruzamento. Não sei dizer o que aconteceu". O filho conta que ficou surpreso porque a mãe conhecia bem a área. "Guardada a idade, ela caminhava sem uso de apoio, enxergava e ouvia bem. Tinha autonomia", diz. A família agora redobra os cuidados com o viúvo de 86 anos, José, que também sai para passear.
Passados seis meses, o inquérito para esclarecer o que houve está em andamento e o filho prestou depoimento na sexta-feira. Até agora, Paulo não encontra explicações para o que aconteceu.
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