O embaralhar frenético de documentos e a separação cuidadosa de fotos antigas cessam apenas quando Francisco Fernando Fontana enche uma xícara de porcelana com café e leva à boca um naco de doce. "Só não trabalho nisso quando estou dormindo", alerta o bisneto de Francisco Fasce Fontana (1849-1894), idealizador e construtor do Passeio Público, primeiro parque de Curitiba. Graças ao interesse por História e a um punhado de sorte, a biografia do "pai do Passeio" acaba de ganhar novos e emocionantes capítulos.
Aos 77 anos, o advogado e ex-diretor do BRDE deixou de lado seu futuro livro sobre o interventor Manoel Ribas (1873-1946) para se dedicar a "F.F.F., figura menos importante, e mais interessante."
O estopim foi uma palestra a alunos da Faculdade Cenecista de Campo Largo, há cinco anos. Sujeitos engravatados que nunca viu na vida falavam sobre um site em que era possível recriar árvores genealógicas. Francisco arregalou os olhos.
Logo veio a primeira novidade: seu bisavô tinha outros quatro irmãos e havia nascido em Rapallo, na Itália, e não em Nueva Palmira, cidadezinha a 266 km de Montevidéu, no Uruguai, como se acreditava. Para a vila portuária, Francisco foi mais tarde, onde importava erva-mate para revender na região.
Feitos
F.F.F. falava quatro línguas e escreveu um livro sobre "aplicação da álgebra na vida prática", que rasgou assim que terminou. O rompante provavelmente já era consequência de um tumor na cabeça, causa da morte aos 45 anos.
Consta que F.F.F. propôs uma escola para meninas em Nueva Palmira o estudo, àquela época, era privilégio de meninos. Lá, também construiu uma biblioteca. E patenteou quatro inventos, entre eles um "moinho de erva-mate inclinado", que revolucionou o esquema de moagem. "Francisco tinha um espírito público muito grande, mas era genioso", diz o bisneto, que se encasquetou: "Como um comerciante, jornalista, poeta e maçom aprendeu a cavar buracos para secar banhado?", pergunta Francisco, referindo-se ao Passeio Público, construído sobre um terreno conhecido como "Banhado do Bittencourt." E dá-lhe pesquisa.
F.F.F. era curioso e não perdeu de ficar de butuca quando o engenheiro espanhol Juan de Cominges foi contratado pelo governo uruguaio para canalizar rios. Na mesma época, Fontana percebeu que era mais vantajoso abrir uma empresa no Brasil e exportar erva-mate do que o contrário. Veio para Curitiba, aplicou a técnica de "redução de banhados" na sua casa da qual só sobrou um portão na Avenida João Gualberto e chamou a atenção de Visconde de Taunay (1843-1889), então presidente da Província do Paraná.
Fontana foi contratado para fazer um parque. Em pouco tempo, o espaço se transformou no local preferido dos curitibanos daquela época. E hoje vive um momento de redescoberta, assim como seu próprio criador. "A morte não é o fim da vida, é o esquecimento. Estou tentando reviver o Fontana."