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Espaço público

No coração da cidade, mas longe dos olhos

 | Antônio More/ Gazeta do Povo
(Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo)
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Sábado, no restaurante, é o dia de encontro do grupo de amigos |

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Sábado, no restaurante, é o dia de encontro do grupo de amigos

Há um mês, o ator e diretor Enéas Lour, o jornalista e escritor Dante Mendonça e o iluminador Beto Bruel criaram um pequeno movimento de reocupação do Passeio Público – para que novas histórias surjam no futuro. Tudo começou no Facebook, embora dessa vez as curtidas tenham ganhado as ruas. Os encontros acontecem aos sábados, no restaurante do espaço, ao som dos pássaros, dos pedalinhos e à vista das meretrizes que lá marcam ponto. Chega quem quiser. "A cidade precisa oferecer atrativos para as pessoas se encontrarem, porque parece que o curitibano debandou para a praia e para o shopping", diz Lour. "Aqui virou nossa zona portuária. Impera a má fama, a insegurança," arremata Mendonça.

"Gosto muito daqui, mas não tenho uma imagem tão boa. Tá meio esquecido", lamenta o estudante Celso Lourenço, de 21 anos, que tomava uma cerveja com a amiga Joice Banczynski, de 19. Para ela, o Passeio "não é mais um ponto turístico".

O entorno do Passeio Público já foi reformado, mas não revitalizado. A Rua Riachuelo e a Rua São Francisco estão de cara nova, embora continuem vazias. "Não adianta ser bonito e não ter vida. A questão é essa", diz Enéas Lour. "Não existem mais pontos de encontro na cidade", opina.

Ideias a mil

Apesar de todos os membros do movimento já terem, como se diz, "botado a cabeça no cinzeiro", as ideias para revigorar o espaço são modernas. "Há uma porção de novas bandas da cidade que poderiam se apresentar naquele espaço", sugere Mendonça, apontando para o chafariz que se construiu sobre o palco em forma de vitória-régia, criado por Jaime Lerner. Hoje, virou piada: "é o maior foco de dengue da cidade". O movimento de reocupação do Passeio chega em um momento interessante para Curitiba, que vê pipocar eventos a céu aberto. O desafio deste grupo, e de quem mais se interessar pela causa, é fazer do Passeio Público um destino, e não mais um atalho.

Um debate para além da pista de cooper

As opiniões sobre a reocupação e a possível revitalização do Passeio Público se dividem, criando um debate que atiçaria sociólogos de plantão. O motivo da discórdia é a presença incontornável de prostitutas no local. A advogada Luciane Barleta, 25 anos, mora em frente ao Passeio e semanalmente faz caminhadas por ali. "O espaço tem melhorado, mas ainda tem muitas deficiências. Há muitas prostitutas e no fim de semana você vê muito maloqueiro", argumenta. "É preciso retirar essas pessoas dali."

O maior movimento no espaço é mesmo no domingo. Reflexo, entre outras coisas, da passagem de ônibus a R$ 1, que propicia aos moradores da região metropolitana uma aventura até o Centro de Curitiba.

O aposentado Raimundo J.C.A, 66 anos, mora em Curitiba há 23. Frequenta o Passeio Público pelas manhãs, quando dá três voltas caminhando e uma correndo. Ofegante e sem diminuir o passo, opinou. "Estão pensando em melhorar? Então melhorem, mas que não façam disso um passeio público de luxo, para a classe média alta", rebate. Raimundo sugere que a melhoria de serviços, como a reforma dos banheiros, da pista e do paisagismo seriam atrações suficientes para que o movimento aumentasse. "Expulsar não é o caminho. O povo sabe qual é o lugar dele", avisa.

Anos de glória

Inaugurado em 1886, o Passeio Público é o parque mais central e o primeiro de Curitiba. Perto do Teatro Guaíra, vizinho do Centro Cívico e ao lado do Colégio Estadual do Paraná e da Casa do Estudante Universitário, o Passeio viveu anos de glória. Levar o filho para dar pipoca aos macacos aos domingos era batata para um bom curitibano. O programa se estendia também ao extinto Parque Alvorada, que ficava ali do lado. "Levantava poeira de tanta gente que vinha", lembra a pipoqueira Reinalda Paiva da Silva, há 30 anos trabalhando no Passeio. Como ela, dezessete profissionais têm licença para trabalhar no local. Mas só quatro ou cinco dão as caras: não compensa mais. A queda no movimento coincide com a criação de um shopping na região, na década de 80, e com peripécias urbanísticas, como a construção da canaleta do expresso e a diminuição das calçadas, além do desinteresse contínuo pelo espaço, motivado por um aparente abandono.

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