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Fauna

Pássaros fazem ponte aérea com escala no Passeio Público

Entre os visitantes mais frequentes estão os socós, aves desajeitadas que têm pernas curtas e andam agachadas | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Entre os visitantes mais frequentes estão os socós, aves desajeitadas que têm pernas curtas e andam agachadas (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

Pense em uma ponte invisível que ligue a margem oeste da cidade, onde está a área preservada do Rio Passaúna, e o leste, onde ficam o zoológico e as regiões verdes de Pinhais e Piraquara, no pé da Serra do Mar. É essa a função menos conhecida do Passeio Público. Além de todas as suas peculiaridades, o primeiro parque da capital permite a interação entre lugares tão distantes por meio dos pássaros, que utilizam a mancha verde no Centro de Curitiba como referência e ponto de parada durante esse deslocamento constante.

As visitas mais frequentes são as das garças-brancas – as adultas medem cerca de 90 centímetros – e as dos socós, aves desajeitadas que têm pernas curtas e andam agachadas.

"Essas aves vêm ao Passeio em seu período reprodutivo, durante a primavera e o verão, e fazem ninhos nas árvores mais altas", explica Tereza Cristina, bióloga e chefe da Divisão de Zoológicos da prefeitura de Curitiba. São movimentos sazonais, portanto, e não migratórios.

A escolha pelo parque central é estratégica. Ali, além de abrigo, as aves têm os lagos à disposição – o que significa água à vontade e alimentos de vez em quando, já que a oxigenação não é das melhores.

Além de aumentar naturalmente a diversidade de espécies no Passeio, a presença das visitas é um chamariz extra para quem mora nos edifícios ao redor. Tereza já perdeu a conta de quantas vezes viu moradores fotografando os animais e seus filhotes. "Enriquece todo o entorno, é um fenômeno interessante", diz.

Mas a ponte aérea entre os chamados cinturões verdes de Curitiba vem diminuindo ano a ano. Apesar de nunca ser quantificado, esse movimento sazonal de aves pode estar ameaçado. "Notamos uma diminuição de 2012 em relação a 2011", conta Tereza. Os motivos podem ser diversos, incluindo a qualidade do ambiente que encontram – a da água principalmente.

Fábrica

A bióloga Betina Bruel – filha do premiado iluminador Beto Bruel, um dos responsáveis pelo estopim do movimento de reocupação do Passeio Público – diz que "gerações e gerações" dessas aves fazem esse tipo de movimento. Garças, especificamente, são muito fiéis aos seus locais de reprodução. "O ambiente proporciona tudo o que elas precisam", diz Betina, funcionária da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Edu­­cação Am­­bien­­tal (SPVS).

As grandes árvores do Passeio Público também proporcionam o que a bióloga chama de "serviços ambientais". Como são áreas conservadas, auxiliam na manutenção da umidade do ar, atuam na regulação climática – é sempre mais fresco debaixo de uma árvore – e retêm o gás carbônico proveniente dos automóveis, função fundamental para um parque que está no centro da capital mais motorizada do país. Por isso, o Passeio Público é "como se fosse uma fábrica de bons serviços."

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