O zunzunzum recente em torno da revitalização do Passeio Público mexeu até com quem já tinha desistido da ideia. Foi o caso do curitibano Eloy Casagrande Jr. Ex-frequentador do parque, ele ainda guarda na cabeça grisalha os domingos no parquinho e as pipocas lançadas ao macaco Chico. Mas no que pensa mesmo é no futuro. PhD em meio ambiente e professor na área de sustentabilidade e inovação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Eloy foi o criador do original e premiado Escritório Verde, em 2011. E agora desengavetou um projeto que pretende "devolver a vida" ao primeiro parque de Curitiba, já que esse é mesmo, como faz questão de assinalar o professor, o significado literal de "revitalizar".
A história começou em 2006, quando Eloy recebeu um grupo de dez estudantes norte-americanos de arquitetura, paisagismo e engenharia. O Centro de Curitiba já se via às moscas naquela época, então pediu aos jovens gringos que escolhessem um lugar para trabalhar. Tudo no estilo brainstorm. Deixaram de lado a Rua XV, o São Francisco, a Praça Generoso Marques e se encantaram com o Passeio. "Os alunos fizeram um levantamento fotográfico, uma pesquisa junto à Secretaria de Meio Ambiente e entrevistas com usuários. Depois, montamos uma proposta de revitalização a partir das informações que colhemos", diz Eloy.
Do oxigênio às gaiolas
O projeto é amplo, bem verdade, mas menos misterioso do que uma fábrica de salsichas. Tudo começa pela água. O primeiro passo é devolver a oxigenação sustentável dos lagos (com ajuda de uma tecnologia chamada living machine), utilização do ambiente natural como centro educativo ("o Passeio pode ser um espaço para conscientização ambiental"), e a criação de novas áreas que ajudem a atrair um novo público, como um centro de recepção a visitantes, café com acesso à internet, anfiteatro a céu aberto, um palco cheio de artistas e, por que não, até uma pista de skate. Para o professor, é hora de olhar para frente. "As novas gerações estão aqui ao lado. No Colégio Estadual, na Casa do Estudante Universitário, frequentando o Teatro Guaíra. Não podemos mais pensar no parque apenas com foco na nostalgia."
Parte do plano também contempla os animais e suas gaiolas, que na opinião de Eloy não têm o tamanho nem o layout ideal. "Parecem cadeias. Estamos trabalhando no básico no nível estético."
Em 2007, o professor chegou a apresentar o projeto ao Ippuc. Deu em nada. Agora, já agendou para os próximos dias uma reunião com Sérgio Pires, presidente do órgão, e pretende levar de novo a ideia à sua mesa, croqui por croqui. "Eles ficaram interessados", diz Eloy, que sugere também parcerias com empresas e fundações que já realizam algum trabalho na área de sustentabilidade e meio ambiente. Afinal de contas, o Passeio Público é um bem comum. "Não é só responsabilidade do estado," grita o professor, tentando vencer o grasnar das araras vermelhas ao fundo.