O secretário de Segurança Pública do Paraná, Reinaldo de Almeida César, disse ontem que sabia da ocorrência de distorções na aplicação do fundo rotativo da Polícia Civil (verba destinada à manutenção das delegacias) e da existência dos "mordomóveis" (viaturas usadas por policiais para fins pessoais). Classificando as irregularidades de problemas crônicos e históricos, Almeida César negou que tenha havido má fé em ambos os casos e garantiu que o governo do estado tomará providências para corrigir as falhas.
"Não vou permitir que a Polícia Civil e que a Polícia Militar sejam enxovalhadas", disse o secretário durante reunião extraordinária da comissão de Segurança da Assembleia Legislativa. O encontro foi rápido. Vindos de um compromisso oficial em Ponta Grossa, o secretário e o delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinícius Michelotto, ficaram diante dos deputados por cerca de 20 minutos. Almeida César fez um curto pronunciamento e não respondeu perguntas.
Michelotto teve tempo de responder a um questionamento: afirmou que as verbas destinadas a delegacias sem policiais civis são aplicadas nas delegacias regionais, de cidades que são sede de comarca ou de subdivisões. "Desde setembro do ano passado, nós sabíamos e estávamos arrumando", garantiu. O delegado-geral disse que chegou a pensar em fechar definitivamente algumas delegacias onde não existem policiais civis, mas não o fez por eventuais problemas políticos.
Nenhum documento foi apresentado à comissão. O delegado Jairo Estorilio, recém-nomeado chefe do Grupo Auxiliar Financeiro (GAF) da Polícia Civil, assegurou que as notas e prestações de contas das delegacias existem e estão arquivadas. Apesar disso, os documentos são manuscritos, o que pode atrasar a apresentação às autoridades. O corregedor-geral da Polícia Civil, Paulo Ernesto Araújo Cunha, foi também convocado, mas só chegou quando a audiência havia terminado. Por isso, na próxima reunião, ele será convocado para esclarecimentos.
Mais tempo
O pouco tempo de duração da reunião frustrou parlamentares que integram a comissão, que não tiveram esclarecimentos consistentes sobre as denúncias apresentadas pela Gazeta do Povo. "Não houve explicações, até por causa do pouco tempo. Essa discussão não pode se dar em dois, três minutos, como aconteceu aqui", lamentou o deputado Tadeu Veneri (PT), que pretende ouvir o secretário e o delegado-geral em outras reuniões da comissão.
O deputado Mauro Moraes (PSDB) afirmou que vai solicitar ao secretário e ao delegado-geral documentos que comprovem a prestação de contas das delegacias. Ele, no entanto, refutou a necessidade de instalação de mecanismos mais abrangentes, como uma Comissão Especial de Investigação (CEI). "Não é necessário. Para isso existe a comissão", afirmou.
Comentando a admissão de falhas por parte da Sesp, o presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia (Sipol), Roberto Ramires, disse esperar medidas mais rápidas para resolver os problemas de segurança pública.