O prédio recém-construído fica em uma esquina do centro de São Pedro do Ivaí, cidade de 10 mil habitantes, no Norte do Paraná. É neste imóvel prestes a ser inaugurado que vai funcionar a delegacia do município. Seria mais uma obra corriqueira, se não tivesse sido viabilizada por um mutirão e sem dinheiro do Estado. Os recursos vieram da prefeitura e de comerciantes.
Na cidade, ninguém sabe onde foram parar os R$ 164.630,00 que nos últimos oito anos saíram do fundo rotativo da Polícia Civil para a manutenção da delegacia, que ainda funciona no prédio antigo, a poucas quadras da nova sede. Sem a verba, materiais de escritório e higiene vêm sendo fornecidos pela prefeitura e por doações feitas pela própria comunidade. As contas de luz, telefone e internet são pagas pelo Estado.
São Pedro do Ivaí é uma das 205 cidades paranaenses sem Polícia Civil. A única viatura da corporação do município é usada pela Polícia Militar (PM) para levar presos às audiências no Fórum da comarca de Jandaia do Sul, a 30 quilômetros. O policiamento é feito por um sargento e três soldados da PM, que se revezam numa escala de 24 por 48 horas. Porém a delegacia já deteriorada não tinha mais condições de uso, daí a necessidade de construir uma nova. Alheios ao fundo rotativo da Polícia Civil, os militares decidiram, eles mesmos, driblar a omissão e a burocracia do Estado. Arregaçaram as mangas e iniciaram o mutirão, por meio de parcerias.
"Todo mundo entendeu que era bom para a cidade. Teve comerciante que veio me procurar, perguntando: o senhor não vai pedir minha ajuda?", diz o sargento Ronaldo da Silva.
De graça
A mão de obra saiu de graça: os presos da delegacia trabalharam na construção em troca da redução da pena. A planta contemplou uma sala grande para atender a população, outra menor para o responsável pelo destacamento, refeitório com cozinha, banheiro e alojamento para os policiais.
Os R$ 43 mil pagos por uma usina de cana-de-açúcar como multa ao Ministério Público do Trabalho foram revertidos à nova delegacia. Com esse dinheiro foram comprados móveis, computadores, impressoras, ar-condicionado e eletrodomésticos. Tudo novo em folha. "O Estado não teve que pôr um centavo. Tudo aqui é parceria, é a comunidade", diz o sargento. Com o prédio pronto, os militares aguardam apenas que a companhia telefônica instale os ramais para se transferirem para a nova sede.