Com boa administração do fundo rotativo, delegado de Arapoti mantém unidade exemplar| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Arapoti mostra como deve ser uma delegacia

Parece clínica médica, de tão limpa e organizada, mas é uma delegacia da Polícia Civil. Na entrada, um corredor com bancos acolchoados, uma porta de vidro ampla e um sistema de monitoramento de vídeo. Uma mãe e seu filho pequeno estão sentados, aguardando o atendimento policial. Com 20 presos e média de 20 boletins de ocorrência por dia, Arapoti tem uma delegacia-modelo. Sob o comando do delegado Wellinghton Yugi Daikubara, foram resolvidos problemas estruturais, como fugas e superlotação. "O que a gente faz agora é deixar mais agradável o ambiente para a população", diz o delegado.

O segredo é o mesmo de empresas bem sucedidas, mas com uma diferença: o dinheiro ali investido é público. Administrando bem os recursos do fundo rotativo, Daikubara conseguiu montar um sistema de segurança com catracas manuais, impedindo rebelião de presos no momento da chegada dos carcereiros. De acordo com o delegado, a catraca foi uma saída barata e eficiente para acabar com um problema histórico na região: as fugas de presos. Também há monitoramento por vídeo em toda a delegacia e divisões sólidas com placas de trânsito doadas pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) entre os tijolos nas paredes das celas.

"O carcereiro opera a porta [da cela] com uma catraca. Ele não precisa entrar. Desde 2010 não tem nenhuma fuga em Arapoti", conta. Quase tudo foi feito com dinheiro do fundo rotativo. Em outras partes do Paraná, as doações da prefeitura, vizinhos e empresários chegam a ser regra para manter as delegacias. "O dinheiro tem sido suficiente. Com alguma demora, até por conta da burocracia, mesmo assim vem. Dificilmente eles têm negado verba para alguma reforma", explica.

Recursos humanos

O problema em Arapoti não é a estrutura física, mas a falta de pessoal. Atualmente, a Polícia Civil conta com um delegado, dois investigadores e um escrivão na cidade. Outros dois investigadores foram lotados no município, mas ainda não podem atuar porque não passaram pela Escola Superior da Polícia Civil. Hoje eles realizam trabalhos internos de cartório, segundo o delegado. Os policiais devem ser capacitados na Escola nos próximos meses. Há também um escrivão ad hoc (contratado por meio de convênio com a prefeitura local).

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O prédio recém-construído fica em uma esquina do centro de São Pedro do Ivaí, cidade de 10 mil habitantes, no Norte do Paraná. É neste imóvel prestes a ser inaugurado que vai funcionar a delegacia do município. Seria mais uma obra corriqueira, se não tivesse sido viabilizada por um mutirão – e sem dinheiro do Estado. Os recursos vieram da prefeitura e de comerciantes.

Na cidade, ninguém sabe onde foram parar os R$ 164.630,00 que nos últimos oito anos saíram do fundo rotativo da Polícia Civil para a manutenção da delegacia, que ainda funciona no prédio antigo, a poucas quadras da nova sede. Sem a verba, materiais de escritório e higiene vêm sendo fornecidos pela prefeitura e por doações feitas pela própria comunidade. As contas de luz, telefone e internet são pagas pelo Estado.

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São Pedro do Ivaí é uma das 205 cidades paranaenses sem Polícia Civil. A única viatura da corporação do município é usada pela Polícia Militar (PM) para levar presos às audiências no Fórum da comarca de Jandaia do Sul, a 30 quilômetros. O policiamento é feito por um sargento e três soldados da PM, que se revezam numa escala de 24 por 48 horas. Porém a delegacia já deteriorada não tinha mais condições de uso, daí a necessidade de construir uma nova. Alheios ao fundo rotativo da Polícia Civil, os militares decidiram, eles mesmos, driblar a omissão e a burocracia do Estado. Arregaçaram as mangas e iniciaram o mutirão, por meio de parcerias.

"Todo mundo entendeu que era bom para a cidade. Teve comerciante que veio me procurar, perguntando: ‘o senhor não vai pedir minha ajuda?’", diz o sargento Ronaldo da Silva.

De graça

A mão de obra saiu de graça: os presos da delegacia trabalharam na construção em troca da redução da pena. A planta contemplou uma sala grande para atender a população, outra menor para o responsável pelo destacamento, refeitório com cozinha, banheiro e alojamento para os policiais.

Os R$ 43 mil pagos por uma usina de cana-de-açúcar como multa ao Ministério Público do Trabalho foram revertidos à nova delegacia. Com esse dinheiro foram comprados móveis, computadores, impressoras, ar-condicionado e eletrodomésticos. Tudo novo em folha. "O Estado não teve que pôr um centavo. Tudo aqui é parceria, é a comunidade", diz o sargento. Com o prédio pronto, os militares aguardam apenas que a companhia telefônica instale os ramais para se transferirem para a nova sede.

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