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Vários cenários, perspectivas opostas

Se na primeira pesquisa da Gazeta o desemprego era um dos fatores de preocupação do morador de Curitiba – 77% dos entrevistados achavam que o número de desempregados iria aumentar –, na realizada em 2008, o quadro é completamente diferente. Entre as pessoas consultadas, 58% afirmaram que o desemprego está caindo na cidade. "Não podemos ignorar o fato de que a pesquisa foi realizada antes de a crise chegar à percepção da sociedade", afirma a cientista política Luciana Veiga. Para ela, o número tem mais ligação com o cenário nacional do que com a realidade local. "Em 2000 (ano da primeira pesquisa), a população sentia a ressaca do governo Fernando Henrique. Em 2008, antes da crise, o momento era de expectativa de economia crescente, do aumento do número de empregos, por isso o otimismo."

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Veja o que os moradores da Grande Curitiba esperam do futuro
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Medo do trânsito, do crescimento desordenado e da violência. Esse é o sentimento que os moradores da Grande Curitiba têm em relação ao futuro. Mesmo assim, a maioria acha que a cidade continuará sendo um bom lugar para se viver – é a esperança de 54% dos entrevistados.

De acordo com a pesquisa, o ponto que mais incomoda é o trânsito. Entre os mais de 3,7 mil entrevistados, 69% acreditam que o trânsito da capital vai piorar ainda mais. Para Luciana Veiga, cientista política e professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a questão aparece com destaque em razão da centralidade que o tema ganhou nos debates políticos. "Se falou muito disso nas últimas eleições municipais. E mais que um problema pontual, de mais carros e engarrafamentos nas ruas, o trânsito acaba interferindo em outros aspectos do cotidiano, como na qualidade de vida. Ele repercute no dia-a-dia de cada um, já que as pessoas passam a ter menos tempo para a família, têm de acordar mais cedo para não se atrasar. Por isso tem tanta importância", justifica.

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A qualidade de vida, aliás, permeia os anseios dos moradores da Grande Curitiba, segundo a cientista, principalmente quando se faz uma ligação entre ela – ou a sua deterioração – e o crescimento da cidade. "Existe um preço para crescer e todos sentem quando se diz que a cidade não é mais como no passado. Mas as pessoas têm uma clara percepção de que não há como voltar atrás e demandam que o crescimento seja, ao menos, organizado", afirma.

Isso explicaria outros números apontados pela pesquisa, como perspectivas negativas: 67% acreditam que, se continuar crescendo de forma desordenada, Curitiba ficará pior que São Paulo; 66% afirmam que o número de favelas vai aumentar; e 64% têm a percepção de que a cidade ficará cada vez mais suja e poluída.

"Talvez as pessoas não saibam reproduzir isso, mas em última instância o que desejam é que haja um processo de planejamento urbano", diz Luciana. O professor de Filosofia do curso de Direito da Fundação de Estudos Sociais do Paraná (Fesp), Sandro Araújo, tem a mesma percepção, de que a população espera por uma intervenção direta do poder público em determinadas áreas, como o trânsito, a segurança e a habitação. "Espera-se uma capacidade de ampliação da infraestrutura, mas uma ampliação inteligente. Além disso, sente-se a necessidade de campanhas educativas, o que demonstra o anseio pela educação, não apenas a formal, mas a holística, que tem como principal objetivo inserir os indivíduos na sociedade, fazer com que eles desenvolvam a consciência de que fazem parte dela", afirma.

Reforçar o orgulho de viver em uma cidade como Curitiba – que sempre teve a imagem de modelo de organização e planejamento – "é, inclusive, um dos desafios do futuro", afirma Luciana. "Esta é a marca histórica desta cidade, que há décadas faz o curitibano se sentir mais do que os demais. É um diferencial de que ele não quer abrir mão, porque faz parte de sua identidade. Mas a prefeitura sozinha não dará conta, é preciso elaborar estratégias de mobilização da sociedade civil, ativar a participação popular a cada dia", sugere a cientista política.