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Recuperação da ousadia

Medir a qualidade de vida de uma cidade não é tarefa fácil. "Isso é subjetivo. Quem sai de Guiné-Bissau e vai para uma favela, por exemplo, acha a mudança ótima. Já quem sai do Batel, acha péssima", esclarece o arquiteto e urbanista Fábio Duarte.

Para fazer esse cálculo, Duarte aconselha a análise de indicadores dos níveis de saúde e violência da região – fatores em queda na capital. "Curitiba já ofereceu uma qualidade de vida absoluta, que agora é relativa. A cidade pode ter bons projetos, mas há outros lugares melhores, especialmente em segurança e transporte", avalia.

O caminho para a cidade recuperar a condição de destaque, opina Duarte, é investir nas áreas mais deficientes com a ousadia vista em outras décadas.

Apesar de preocupada com o crescimento da cidade, a maioria dos moradores de Curitiba e das cidades vizinhas (80%) avalia que a capital oferece bastante qualidade de vida. Os mais satisfeitos, em especial, consideram também que a cidade é um exemplo para o Brasil e, mais que isso, o melhor lugar do país para se morar (60%).

O grande trunfo de Curitiba para sustentar essa imagem é uma relação harmoniosa com o meio ambiente: 79% consideram a cidade ecológica e bem cuidada.

A professora e coordenadora do curso de especialização em Ecologia Urbana da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR), Marta Luciane Fischer, reforça os elogios ao planejamento ecológico local. "Além de muitos parques, Curitiba tem uma política ambiental excelente. Há preocupação com esse tema tanto nas universidades, que fazem estudos, quanto nos órgãos gestores, que desenvolvem programas."

Violência ameaça a tranquilidade

Para muitos entrevistados, porém, a satisfação de viver em Curitiba pode sofre com o crescimento da cidade: 69% da população avalia que a cidade paga um preço alto pelo desenvolvimento e, por isso, está perdendo qualidade de vida.

Esse panorama pessimista é explicado principalmente pelo aumento da criminalidade. De acordo com a pesquisa, 21% dos entrevistados já sofreram assaltos ou roubos à mão armada e, com medo, 82% creem que a violência está em crescimento e não é mais problema de alguns bairros.

O sociólogo e coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, mostra-se preocupado com esse resultado. "O pior efeito do medo é a diminuição da solidariedade entre as pessoas. Os cidadãos se voltam para si, intensificam o próprio medo e buscam saídas autoritárias, como o aumento da repressão."

A saída, pondera Bodê, está no engajamento da população, que deve participar de debates sobre o tema em vez de esperar soluções vindas das forças policiais.

O secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, reconhece o problema e avalia que a violência tem raiz no comércio de entorpecentes. "O tráfico e as drogas são os grandes vilões da segurança. Em Curitiba e em quase todo o Paraná, cerca de 80% dos assassinatos são ligados ao tráfico de drogas, como acerto de contas e disputa por pontos de venda."

Para combater a violência, o secretário informa que o Estado está investindo na qualificação de profissionais, na compra de equipamentos e no desenvolvimento de ações de inteligência. "Semanalmente são realizadas reuniões na Secretaria da Segurança, em que são apresentados os números da criminalidade e suas tendências, para que sejam traçadas estratégias de combate ao crime específicas para cada área", afirma o secretário.

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