Santa Helena e Itaipulândia - O cenário é atraente por natureza. Às margens do Lago de Itaipu, no extremo Oeste do Paraná, praias artificiais ajudam a refrescar o forte calor que faz na região. Mas há muitos outros elementos que tornam a vida atraente nos municípios de Santa Helena e Itaipulândia. Agricultores recebem dinheiro a fundo perdido para incrementar seus negócios e não pagam pelo abastecimento de água. Quem quer fazer um curso superior recebe ajuda de custo e transporte gratuito. E, para os mais carentes, cestas básicas garantem ao menos a comida na mesa. Nessas cidades, as prefeituras atuam como verdadeiras mães, procurando não deixar que nada falte aos seus filhos.
Quem impulsiona essa economia são os royalties da Usina de Itaipu, que todos os meses garantem centenas de milhares de dólares aos cofres dos municípios. Pagos desde 1985, os royalties funcionam como uma forma de compensar as perdas causadas pelo alagamento de mais de mil quilômetros quadrados de terras distribuídas por 15 municípios paranaenses. Desde que passaram a receber os recursos, essas cidades já acumulam US$ 1,3 bilhão em repasses, o equivalente ao orçamento do Paraná para a área de segurança pública em 2012.
Por ter a maior área alagada, Santa Helena fica com o maior repasse, perto de US$ 1 milhão mensal. Itaipulândia, por sua vez, está na terceira colocação, com aproximadamente US$ 650 mil. Tamanha riqueza parece ser motivo de ostentação para os administradores das duas cidades. Enquanto Santa Helena se orgulha de ter a maior estátua em bronze da América Latina e monumentos como um obelisco e um painel histórico, Itaipulândia conta com uma estátua de Nossa Senhora Aparecida, também considerada a maior do continente.
Zona rural
O dinheiro dos royalties não está exposto apenas aos olhos dos visitantes. Na zona rural de Santa Helena, produtores locais que desejam abrir um empreendimento recebem até R$ 15 mil a fundo perdido para a construção de granjas, pocilgas ou açudes. Eles ainda têm cascalhamento gratuito em suas propriedades e não pagam pelo abastecimento de água. "Se fosse para pagar sozinho eu não faria", afirma Odinir Schnorr, que com o auxílio da prefeitura construiu dois tanques para peixes e um aviário.
Em Itaipulândia, que não conta com instituições de ensino superior, a prefeitura banca parte das mensalidades e o transporte para quem estuda fora. Já a Escola Municipal Carlos Gomes chama a atenção não apenas pela estrutura, que inclui ar-condicionado em todas as salas, mas também pelo ensino integral com um qualificado programa pedagógico. "A evolução foi enorme", diz Alislange Severo, ao comentar os benefícios para a filha Naila, que tinha sérias dificuldades de aprendizagem.
Apesar da satisfação de quem ganha, tantas benesses nem sempre são sinônimo de desenvolvimento. Mestre pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unioeste), Leoveraldo Curtarelli de Oliveira analisou o crescimento da economia dos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu. Para ele, que consultou representantes de diversos setores, há dificuldades em equacionar os interesses da comunidade. "As ações implementadas não raramente representam interesses particulares, mas são mascaradas pelo objetivo social", afirma. Na sua avaliação, é necessário que as prefeituras debatam as ações com a comunidade e comecem a se preparar para viver sem os royalties, visto que o Tratado de Itaipu prevê seu fim a partir de 2023.
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Interatividade
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