Após um verdadeiro genocídio, com cerca de 20 mil homens mortos, a Guerra do Contestado [1912-1916] deixou uma determinação: que boa parte do território da cidade de Rio Negro, no Paraná, passasse a ser de Santa Catarina. O rio que leva o mesmo nome da cidade paranaense delimitou as divisas e do outro lado foi instalada, em 1917, a catarinense Mafra. Quase um século após o conflito, o que se observa, porém, são duas cidades que parecem ser uma só.
O visitante desavisado pode muito bem passar pelas pontes que ligam as cidades, com cerca de 150 metros de extensão cada uma, sem se dar conta de que está indo para outro município e para outro estado. Os moradores até criaram a expressão "Riomafra", para se referir ao local. Explica-se: muitos vivem em uma cidade e trabalham, estudam, votam ou fazem compras em outra, um fluxo que pode ser repetido várias vezes ao dia e por inúmeros motivos.
A dona de casa Sirlene Arbigaus, por exemplo, atravessa a ponte para levar a filha, Ana Júlia, de 4 anos, ao parquinho. "O parque de Rio Negro é maior", diz a moradora de Mafra. A dona de casa Andréia Regina Castro conta que a relação das cidades é muito próxima e que não há rixas. "Somos irmãos, como se fosse um todo. O pessoal de Mafra se parece muito com o pessoal do Paraná."
Características
Mafra é maior e mais populosa, com uma área de 1.404,2 quilômetros quadrados e 53 mil habitantes. Rio Negro tem 603,2 quilômetros quadrados e 31 mil habitantes. Ambas possuem um parque industrial consolidado e bons indicadores sociais.
O secretário municipal da Administração de Mafra, Allan Leon de Mello, diz que as cidades se destacam pela qualidade de vida e nas estatísticas de saúde e educação. Os problemas também são semelhantes: "A segurança pública é uma constante preocupação."
O prefeito de Rio Negro, Alceu Ricardo Swarowski, conta que as cidades operam como uma só e que para a população não tem diferença alguma. Devido ao fluxo intenso, o prefeito aponta a necessidade de construção de mais uma ponte. "A quantidade de carros é de 40 mil veículos. Precisamos de mais uma ligação. No horário de rush dá problema", diz.
A empresária Ada Kuchnier Varella conta que às vezes se formam filas na ponte e numa dessas viagens ela levou 40 minutos para percorrer três quilômetros. A empresária mora em Mafra, mas tem um restaurante em Rio Negro. Segundo ela, muitos vão para Mafra fazer compras e em busca de serviços. Já quando o assunto é diversão, o fluxo se inverte. "Mas é difícil fazer a separação", admite.