Entre os 3,4 mil habitantes de Prado Ferreira, na Região Noroeste, vive Ana Alves de Souza e Silva, uma senhora semianalfabeta que tenta fazer a neta de 14 anos retornar à escola. No mesmo município, dezenas de famílias têm em seus quadros algum jovem que, desestimulado, decidiu abandonar os estudos. Eles engrossam uma estatística que atingiu mais de 200 mil estudantes do Paraná em 2010, resultando em números preocupantes em pelo menos um terço dos municípios do Paraná. Apesar de a taxa de abandono escolar estar em queda no Paraná e no Brasil ao longo dos últimos cinco anos, em 134 cidades esse índice fechou acima da média nacional no ano passado.
Dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicam que o Paraná encerrou 2010 com taxas de abandono de 2% no ensino fundamental e 6,7% no ensino médio. Em comparação com a média nacional, de 3,1% e 10,3% respectivamente, as porcentagens são baixas. Quando se observam os números de 2006, nota-se uma evolução na área. A taxa de abandono no ensino médio no Paraná, por exemplo, era de 13,5% naquele ano, o dobro da atual.
Problemas familiares
Se no conjunto o Paraná tem conseguido avanços na luta contra o abandono, em diversos municípios ainda há muito o que fazer. É o caso de Prado Ferreira, onde a taxa de abandono chega a 7,1% no ensino fundamental, a terceira mais alta do estado, e 21,5% no ensino médio, a segunda pior. A neta de Ana Alves repetia a 6.ª série do ensino fundamental quando parou de ir às aulas. Perguntada sobre os motivos que a fizeram deixar a sala de aula, responde murmurando que não gosta da supervisora da escola. Por trás dessa insatisfação, no entanto, se escondem sérios problemas familiares. O pai faleceu e a mãe está presa. "Eu falo para ela voltar à escola, mas não adianta. Hoje o estudo é tudo na vida, até para varrer rua tem de estudar", diz a avó, desconsolada.
No Conselho Tutelar de Prado Ferreira existiam até o início de outubro 27 registros de alunos que pararam de frequentar a escola. No Colégio Estadual Júlia Wanderley, o maior da cidade, a diretora, Maria Aparecida Zanon, aponta a falta de perspectivas como fator predominante para o abandono. "Tem muita família desestruturada, cujos filhos precisam trabalhar cedo. Eles não veem necessidade de estudar, por isso acabam abandonando a escola", avalia. Situação semelhante é verificada em Santa Cecília do Pavão. "Aqui não tem emprego, então os jovens vão buscar trabalho em outras cidades", relata o diretor do colégio estadual Jerônimo Martins, Élio Francioli. Apesar das dificuldades, a cidade conseguiu reduzir suas taxas de abandono de 2009 para 2010.
Escola mais atrativa
Para especialistas, o combate ao abandono passa por mecanismos que tornem a escola mais atrativa para os estudantes. "Essa parcela da população tem outras carências, que fazem com que a escola seja colocada em segundo plano. Se houvesse um redirecionamento no trabalho pedagógico, dedicando mais tempo a esses alunos, talvez eles se sentissem mais estimulados", diz Andrea Barbosa Gouvea, professora do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Bate-papo
A Gazeta do Povo promove amanhã um chat com a superintendente da Secretaria de Estado da Educação, Meroujy Cavet, sobre o ensino no estado. O bate-papo será às 9h30 dessa sexta-feira e as perguntas podem ser enviadas desde já para o e-mail retratosparana@gazetadopovo.com.br.