Vocação para vários estilos musicais
Há quem diga que Toledo é uma cidade musical. Apesar de abrigar artistas e atividades de várias vertentes, a música sempre teve e continua tendo um papel de destaque no cenário local. A existência de três orquestras e três festivais contemplando diferentes estilos é um exemplo dessa vocação que há anos acompanha o município.
No início do ano foi formada a primeira orquestra de câmara da cidade, que reúne músicos de diferentes idades e classes sociais. A caçula do grupo é Chiara Marella, que tem 10 anos de idade e há três toca violino. Ela participa dos ensaios acompanhada da mãe, a arquiteta Thea Prado, cujos dotes musicais foram reavivados graças à orquestra. "Eu estava afastada da música, mas aí surgiu o convite para a orquestra e nós decidimos participar juntas", conta a mãe, orgulhosa da filha.
Se Chiara ainda dá seus primeiros passos como música, Elemar Schweizer desfila toda sua experiência aos demais componentes da orquestra. Com 72 anos de idade, estuda música desde os 14 e por 20 anos foi professor na Casa da Cultura. Na orquestra, ele é flautista, mas seu currículo inclui também acordeão e teclado. "Já participei de vários grupos, mas a orquestra é uma experiência nova. E está sendo muito bom conviver com músicos tão diferentes", garante.
O trabalho é coordenado pela maestrina Viviane Ribeiro dos Santos, que espera no futuro transformar o grupo em uma orquestra sinfônica (com mais integrantes e instrumentos). "Aqui em Toledo nós vemos muitos músicos sertanejos, mas também tem muita gente interessada em participar da orquestra. E são todos voluntários, que participam pelo amor à música", observa.
27% das cidades não têm teatro
Toledo pode ser considerada uma cidade privilegiada por contar com um espaço como o Teatro Municipal. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2009 apontou que apenas 111 municípios paranaenses tinham teatro, o equivalente a 27%. A situação é ainda mais crítica no que se refere a cinemas. Eram apenas 39 cidades com salas de projeção, o que representa um porcentual de 10%.
Na avaliação de Cauê Kruger, a existência de equipamentos culturais como teatros e cinemas é essencial, porém, desde que não se limitem apenas a difundir o que vem de fora. "É preciso perceber o que está sendo produzido em âmbito local e fazer com que a comunidade assimile essa produção. Espaços como teatros e cinemas podem fazer com que esses agentes locais sejam ouvidos com mais facilidade", avalia.
Toledo - Em uma tarde de sábado, é grande a agitação dos artistas atrás do palco enquanto uma equipe finaliza o cenário para a apresentação que acontecerá dali a algumas horas. É o último ensaio para um espetáculo que está com seus mais de mil ingressos praticamente esgotados, à espera de um público familiarizado com a produção cultural. Durante a maior parte do ano, assim são os dias no Teatro Municipal de Toledo, o maior do interior e o terceiro de todo o Paraná. Mais do que impressionar pela grandiosidade, o espaço se tornou referência para a região graças a atividades permanentes e à plateia fiel. Aos 12 anos de idade, o teatro é o principal personagem de uma cidade que parece ter vocação para a cultura.Pode-se dizer que a relação de Toledo com a produção cultural se tornou referencial na década de 1970, quando a cidade inaugurou a primeira Casa de Cultura do Paraná. O espaço nasceu com o propósito de ofertar cursos e estimular atividades artísticas, visto que o município ainda não contava com um local propício para isso. A partir dali, surgiram o Conservatório Musical, a banda municipal, grupos de teatro, de danças folclóricas e corais, muitos dos quais permanecem em atividade até os dias atuais. Hoje, são atendidos 1,2 mil alunos em cursos de diversas áreas, como desenho, pintura, música e teatro.
Um novo marco foi instituído em 1999, com a entrega do Teatro Municipal. Do alto de seus 3 mil metros quadrados e com capacidade para 1.022 pessoas, o espaço só perde em tamanho para os teatros Positivo e Guaíra, ambos em Curitiba. Tamanha imponência não se resume apenas à estrutura física. Segundo a secretária municipal de Cultura de Toledo, Rosângela Reche de Souza, a taxa de ocupação do teatro ao longo do ano é de 90%, chegando a 100% nos meses de novembro e dezembro.
Rosângela garante que essa é uma ocupação democrática. Na agenda estão desde apresentações de grupos locais até espetáculos com artistas de renome nacional. "Procuramos desenvolver um trabalho de formação de plateia. De todas as atividades, 90% são a preços populares ou gratuitas", frisa. Quem ocupa uma parcela significativa dessa agenda são os artistas locais, bastante numerosos e que contemplam diferentes segmentos. Existem hoje na cidade duas escolas de dança, quatro grupos de teatro e três orquestras, sendo duas delas dedicadas à viola caipira.
No dia em que a reportagem visitou o teatro, a Escola de Dança Lilian Moema apresentaria o espetáculo A Bela Adormecida, marcando o encerramento de suas atividades em 2011. Com 20 anos de trajetória, a escola vem formando bailarinos e professores, alguns dos quais já deixaram a cidade. "Nós contamos com um espaço que dá todas as condições de mostrar nosso trabalho. Temos muitos talentos aqui e o teatro funciona como uma vitrine", avalia a proprietária da escola, Lilian Moema Della Costa.
Equação de sucesso
Para Cauê Kruger, professor de Antropologia e Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o caso de Toledo ilustra uma equação que pode funcionar tanto em municípios grandes como no interior. "Todo local tem as suas particularidades. Mas quando existem iniciativas governamentais que direcionam as ações culturais, a tendência é que haja uma maior participação popular. A cultura não é algo separado das atividades cotidianas, ela é fundamental ao ser humano para a compreensão das coisas".
O projeto Retratos Paraná, iniciado em 26 de setembro, traz reportagens sobre aspectos sociais e econômicos de diversas cidades do estado. Confira todo o conteúdo e um banco de dados on-line em www.gazetadopovo.com.br/retratosparana
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