Transição
Situação nas aldeias se agrava no final do ano
O atendimento de saúde dos indígenas ficou prejudicado no final deste ano, quando foram paralisadas as atividades nas reservas em várias partes do Brasil. O motivo foi a transição do atendimento da saúde indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o Ministério da Saúde. Os convênios foram encerrados no dia 30 de outubro e, até a situação se normalizar, os índios ficaram sem atendimento.
O chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena do Litoral Sul, Paulo dos Santos Camargo, afirma que a previsão é regularizar os serviços até o dia 31 deste mês e "começar o ano com tudo praticamente resolvido". Segundo ele, a contratação de pessoal está praticamente finalizada e a parte mais complicada a ser concluída é a aquisição de insumos, como medicamentos e produtos alimentícios.
Óbitos
Com relação à mortalidade infantil, Camargo aponta que a maioria dos óbitos acontece fora das aldeias. Ele completa que nas aldeias as equipes de saúde fazem o acompanhamento, respeitando as tradições indígenas, e que a comunidade de Chopinzinho não está entre as áreas mais preocupantes. (BMW)
Gravidez entre adolescentes, mães com poucos anos de estudo, baixa procura por atendimento médico e partos feitos em casa são algumas das situações de risco que podem ser observadas na comunidade indígena guarani em Chopinzinho, no Sudoeste do Paraná. A realidade, que não é exclusiva desta localidade, mostra alguns dos desafios para a diminuição da mortalidade infantil no estado. Para se ter uma ideia, a taxa paranaense de 12 mortes de crianças de até um ano por mil nascidos vivos sobe para 25 entre os negros e indígenas.
Pesquisando a mortalidade infantil de 2006 a 2010, percebe-se que os indicadores são influenciados por condições socioeconômicas e de raça. O índice de mortalidade infantil sobe para 22 mortes entre gestantes com até três anos de estudo e com menos de 21 anos de idade. E a taxa média paranaense dobra quando se analisa a realidade dos indígenas.
Grávida do sexto filho, a artesã guarani Silmira Alves, de 25 anos, por exemplo, disse ter vergonha de ir ao médico. Antes ela recebia suporte na reserva, mas, devido à interrupção temporária do convênio, em novembro foi em busca de atendimento no posto de saúde de Chopinzinho. Não conseguiu se comunicar e voltou sem marcar a consulta. Dos cinco primeiros filhos, teve dois em casa.
Na reserva é comum encontrar mulheres que já fizeram partos. "A gente ouve as pessoas mais adultas falar como é. Daí a gente aprende", diz a artesã guarani Isaura Fagundes, de 28 anos. Ela fez o primeiro parto quando a vizinha estava em casa com contrações. Chovia e não havia condições de ir ao hospital. Isaura acabou fazendo o parto. Grávida do sexto filho, a artesã reconhece, no entanto, a importância do acompanhamento médico e prefere ter o bebê no hospital.
Riscos
Desnutrição, baixa higiene e rejeição a crianças com necessidades especiais são outras situações de risco entre gestantes guaranis. Classificar esse potencial de risco em todo o Paraná está entre os objetivos das políticas públicas estaduais, aponta a superintendente da atenção primária da Secretaria Estadual de Saúde, Márcia Huçulak. "Se a gente focar em grupos de risco, podemos mudar radicalmente esse indicador no Paraná", diz. Previsto para ser lançado em abril de 2012, o programa Mãe Paranaense irá trabalhar a vigilância do óbito materno e infantil, acompanhar as futuras mães e trabalhar ações junto aos municípios.
Levantamento do Observatório dos Indicadores de Sustentabilidade (Orbis) de 2011 apontou que 60 municípios do estado dificilmente atingirão a meta de redução de dois terços da mortalidade de crianças até cinco anos de idade até 2015. A meta faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, acordo intermediado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Os responsáveis pelos indicadores paranaenses fazem a ressalva de que o número é calculado a cada mil nascidos vivos e, dessa forma, uma morte pode causar um grande efeito na taxa como um todo nos municípios com menos habitantes. Nesse sentido, o levantamento serve mais como um alerta de que é preciso avançar na área em determinados municípios. "O estado atingiu 96% dessa meta. Temos mais quatro anos para fazer os outros 4%", afirma o coordenador do Orbis, Alby Rocha.
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