O lavrador aposentado Joaquim de Souza passa o dia na lavoura. Quando precisa de insumos, percorre quatro quilômetros a cavalo até o centro de Antônio Olinto| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo
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Silvestre Upalo quer se associar à cooperativa para aumentar a produção de maçã e kiwi
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Antônio Olinto - Nos registros da Polícia Militar da cidade de Antônio Olinto, no Sudeste do Paraná, o dano causado na lavoura por animais soltos nos faxinais está entre as ocorrências mais comuns. É o que mostra o policial José Dinarci de Paula, com a listagem de outubro nas mãos. Próximo dali, no outro lado da rua, seu Joaquim de Souza "estaciona" o cavalo baio para ir comprar adubo. No comércio, a empresária Nelci Bianchessi aguarda o aumento das vendas no período de safra – no início do ano –, o que faz com que o Natal seja uma época como qualquer outra.

Cenas como essas mostram um pouco da dinâmica de Antônio Olinto, que tem o menor grau de urbanização do Paraná. Enquanto o estado se urbaniza cada vez mais e atualmente 85% dos paranaenses vivem em área urbana, o oposto acontece no município: 91% dos moradores estão na área rural, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Na cidade de 7.351 moradores, a maioria é descendente de ucranianos e poloneses. Não há sinal de celular constante nem agências bancárias, apenas postos de atendimento. Boa parte das estradas é de chão batido. São 6.664 pessoas vivendo no campo, onde a agricultura – principalmente o plantio de grãos e fumo – garante o sustento das famílias. Apenas 687 habitantes estão no perímetro urbano, formado por cerca de 30 quadras.

O curioso é que a dinâmica acontece em um município que fica a 145 quilômetros de Curitiba – cerca de duas horas de carro. A proximidade faz com que muitos moradores, principalmente os mais jovens, deixem a localidade em busca de melhores oportunidades na capital. "O pessoal está indo embora e procurando recursos. Tenho duas filhas que tiveram que ir para Curitiba", conta o lavrador aposentado Joaquim de Souza, 67 anos, enquanto prende seu cavalo em uma árvore. "Que futuro elas vão fazer aqui? Nós de idade temos de ficar, mas os mais novos estão procurando recursos."

Joaquim mora desde pequeno em Antônio Olinto e diz que falta apoio ao pequeno agricultor. Ele passa o dia se dedicando à lavoura e, quando precisa ir ao centro comprar insumos para a lavoura, percorre a distância de quatro quilômetros montado em um dos cinco cavalos que possui.

Comércio

Os produtos para o plantio estão entre os itens mais vendidos. A comerciante Nelci, que vende roupas, calçados e artigos para presentes, conta que a loja agropecuária do marido dá mais lucro. Ela espera que as vendas dela aumentem em fevereiro, com a colheita do fumo. "Nosso mês de Natal é igual aos outros. O movimento muda em época de safra" diz a comerciante. "Dá para sobreviver, mas é bem lento."

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Como não há grande movimentação de dinheiro e a maioria da população mora no campo, os crimes mais comuns acabam sendo registrados na área rural, conta o segundo-sargento José Dinarci de Paula. Quase todo dia há ocorrências de dano à lavoura causado por animais. São vacas, cavalos e porcos que ficam soltos em faxinais e acabam invadindo propriedades vizinhas, pisando e comendo a plantação. "Nunca aparece o dono do animal e a vítima fica no prejuízo", afirma o policial.

Produtores tentam se organizar

Com índice elevado de habitantes na área rural e baixa industrialização, a cidade de Antônio Olinto tem registrado a falta de oportunidades no campo e um grande êxodo dos jovens. "Os meninos que formamos aqui saem para trabalhar fora. Têm um campo limitado de trabalho na cidade", constata o prefeito José Ambrósio Soares da Veiga.

Uma maneira encontrada pelos pequenos produtores para contornar o problema é se organizarem na tentativa de aumentar a renda no campo. Com ações em fase inicial, eles buscam diversificar a produção agrícola, criar cooperativas, facilitar o acesso ao crédito e incentivar o turismo rural. "O pessoal agora está vendo que não adianta trabalhar sozinho", diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Antônio Olinto, Luis Volochen.

Um exemplo dessa falta de organização, cita Volochen, é que na cidade mais rural do Paraná a agricultura familiar não consegue fornecer o porcentual mínimo de alimentos à merenda escolar. A Lei 11.947/2009 determina o uso de, no mínimo, 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação na compra de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar.

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Cooperativa

O primeiro passo para reverter a situação é diversificar a produção e abrir o mercado. Em setembro deste ano, com 34 sócios, foi fundada a Cooperativa de Processa­mento de Alimentos da Agricultura Familiar para a comercialização de hortaliças. "Se for ver hoje, a hortaliça está faltando no mercado e é uma das opções para o pequeno produtor porque pode plantar em pouco espaço e usar mão de obra própria", diz o presidente da cooperativa em implantação, Luis Carlos Kafka. "A cooperativa visa a dar lucro ao produtor, que vende direto, sem atravessador."

O produtor rural Silvestre Upalo, que cultiva maçã e kiwi, é um dos que pretendem se associar à cooperativa. Ele quer aumentar a produção e financiou uma roçadeira e uma carreta fruteira com a Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol). Instalada em dezembro do ano passado, a Cresol tem facilitado o acesso ao crédito por parte dos pequenos agricultores e conta hoje com 280 sócios. "O pessoal pegou financiamento para fruticultura, maquinário, trator. Estamos sentindo que eles estão bem animados", diz Volochen, também diretor da Cresol. "Sentimos que melhorou o comércio, porque o dinheiro da cooperativa está girando dentro do município." Segundo a prefeitura, o município está próximo de atingir o porcentual mínimo de produtos da agricultura familiar na merenda escolar.