De cores e modelos variados, as bicicletas enchem as ruas de Antonina, no litoral do Paraná. Não há números oficiais que comprovem, mas os moradores garantem que, no município com a segunda menor proporção de veículos por habitante do estado, as bicicletas são maioria no trânsito. Em cenas impensáveis para algumas cidades, carros e bicicletas transitam harmoniosamente, provando que a convivência é possível, pelo menos na pequena Antonina. A média na cidade é de 15 veículos a cada 100 habitantes.
Subindo a Serra, em Curitiba, a situação é completamente oposta. Com a maior frota do estado e uma média de 68 veículos para cada 100 habitantes, Curitiba também lidera o ranking das capitais com mais carros por pessoas, segundo o último anuário do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), de 2008. Cerca de 1,2 milhão de veículos circulam todos os dias pelas ruas e avenidas da cidade. A interação pouco pacífica entre carros, pedestres, bicicletas e motocicletas dá indícios de um trânsito já saturado. Um cenário que, nem de longe, lembra Antonina com seus quase 19 mil habitantes, 2.893 veículos, muitas bicicletas e nenhum sinaleiro.
O preço acessível, o baixo custo de manutenção e as ruas planas e tranquilas do município favorecem o deslocamento em duas rodas, acredita o auxiliar de farmácia Gerson José da Silva, de 46 anos. Morador de Antonina, há quatro anos ele precisou se desfazer do carro para construir uma casa, e diz que só sente falta do veículo em casos de emergência médica. "Cada um em casa tem uma bicicleta", conta Silva, que atribui a boa saúde da família às pedaladas diárias.
O vai e vem de bicicletas é constante, e em meio a esse movimento intenso e dinâmico os condutores chamam a atenção pela diversidade. Ir e voltar do trabalho, da escola, pagar contas, fazer uma comprinha no supermercado ou passear, tudo é feito sobre duas rodas, muitas vezes sem qualquer equipamento de segurança. Não são raros os casos de famílias inteiras que dividem a mesma bicicleta, um verdadeiro teste de força e equilíbrio para o condutor. Na falta de estacionamento adequado, as magrelas estão por toda parte, dividindo as vagas com os carros ou simplesmente encostadas nas calçadas.
Lucro
A bicicleta também é sinônimo de lucro em Antonina que o diga o jovem Giovani Rubik. Desde os 12 anos consertando bicicletas, Rubik abriu aos 18 uma oficina com o objetivo de transformar a paixão pela magrela em um negócio rentável. Sem dinheiro para iniciar o empreendimento, Rubik contou com a ajuda do pai, que emprestou aproximadamente R$ 8 mil para a compra do maquinário básico e das peças necessárias, em agosto de 2010. "Pouco mais de um ano depois, já consegui devolver o valor do investimento inicial ao meu pai e juntar um capital próprio equivalente a 25 mil", diz.
Além da paixão pelo trabalho, que o faz não cobrar por "reparos pequenos e rápidos" para fidelizar os clientes, o sucesso da oficina também é resultado da grande demanda pelo serviço na cidade. A venda de bicicletas também garante um lucro certo para a loja em que Waine Faganello, de 25 anos, é gerente. Segundo ele, cerca de 70 bicicletas são vendidas por mês para moradores de Antonina e, principalmente, de comunidades do interior do município. "Geralmente o pessoal do interior compra mais de uma bicicleta para não correr o risco de ficar a pé se uma delas quebrar", conta.
Interatividade
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