| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Excesso de veículos causa problemas físicos e mentais

As horas passadas em meio a congestionamentos e situações estressantes do trânsito custam caro à saúde, afirma Dirceu Rodrigues Alves, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Entre uma lista extensa de problemas associados à permanência excessiva no trânsito, ele destaca o desgaste físico e mental, o barulho constante e os problemas respiratórios causados pela poluição. "Duas horas no trânsito inalando os gases tóxicos liberados pelos veículos equivalem ao consumo de três a quatro cigarros por dia", alerta.

Os efeitos do excesso de veículos em Curitiba também já são sentidos no consultório da psicóloga Neuza Corassa, do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM). "Atendo pessoas naturalmente ansiosas e mais preocupadas com o coletivo, que já acordaram para o problema e estão buscando novas alternativas de locomoção". No entanto, observa a psicóloga, essas pessoas ainda são minoria diante das que utilizam o carro.

"Adoraria não depender diariamente do carro", diz o engenheiro civil Eduardo Felipe Nazareno Marques, de 26 anos. Acostumado a trabalhar em casa, ele confessa que sofreu um choque quando, por motivos de trabalho, se viu obri­­gado a encarar novamente o trânsito da capital, no ano passado. (CJ)

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Carros estão acima da capacidade em Curitiba

O levantamento feito pelo Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) que classifica a frota de carros por cidade não consegue dimensionar uma peculiaridade do litoral, afirmam moradores de Antonina. Segundo eles, é comum que os veículos de cidades litorâneas sejam emplacados em Curitiba para facilitar na hora da venda, já que os carros do litoral poderiam apresentar problemas causados pelo efeito da maresia.

Com base nisso, a frota real de carros circulando em Curitiba seria menor do que apontam os números, mas ainda assim estaria acima da capacidade, segundo Eduardo Ratton, engenheiro Civil e Professor Titular do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para Ratton, o aumento do poder aquisitivo e as facilidades de compra têm levado mais pessoas a substituir o transporte coletivo por carros particulares, aumentando a frota sem a melhoria da estrutura viária da cidade. "É muito mais cômodo e prático ter um carro próprio do que depender de ônibus superlotados e com tarifas caras", diz. Para o professor, a situação deve ficar ainda pior, na medida em que mais carros saem das lojas para as ruas e o transporte coletivo permanece pouco atrativo. (CJ)

No dia a dia, Gerson José da Silva usa a bicicleta como meio de locomoção
Na loja onde trabalha, Waine Faganello vende 70 bicicletas por mês

De cores e modelos variados, as bicicletas enchem as ruas de Antonina, no litoral do Paraná. Não há números oficiais que comprovem, mas os moradores garantem que, no município com a segunda menor proporção de veículos por habitante do estado, as bicicletas são maioria no trânsito. Em cenas impensáveis para algumas cidades, carros e bicicletas transitam harmoniosamente, provando que a convivência é possível, pelo menos na pequena Antonina. A média na cidade é de 15 veículos a cada 100 habitantes.

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Subindo a Serra, em Curitiba, a situação é completamente oposta. Com a maior frota do estado e uma média de 68 veículos para cada 100 habitantes, Curitiba também lidera o ranking das capitais com mais carros por pessoas, segundo o último anuário do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), de 2008. Cerca de 1,2 milhão de veículos circulam todos os dias pelas ruas e avenidas da cidade. A interação pouco pacífica entre carros, pedestres, bicicletas e motocicletas dá indícios de um trânsito já saturado. Um cenário que, nem de longe, lembra Antonina com seus quase 19 mil habitantes, 2.893 veículos, muitas bicicletas e nenhum sinaleiro.

O preço acessível, o baixo custo de manutenção e as ruas planas e tranquilas do município favorecem o deslocamento em duas rodas, acredita o auxiliar de farmácia Gerson José da Silva, de 46 anos. Morador de Antonina, há quatro anos ele precisou se desfazer do carro para construir uma casa, e diz que só sente falta do veículo em casos de emergência médica. "Cada um em casa tem uma bicicleta", conta Silva, que atribui a boa saúde da família às pedaladas diárias.

O vai e vem de bicicletas é constante, e em meio a esse movimento intenso e dinâmico os condutores chamam a atenção pela diversidade. Ir e voltar do trabalho, da escola, pagar contas, fazer uma comprinha no supermercado ou passear, tudo é feito sobre duas rodas, muitas vezes sem qualquer equipamento de segurança. Não são raros os casos de famílias inteiras que dividem a mesma bicicleta, um verdadeiro teste de força e equilíbrio para o condutor. Na falta de estacionamento adequado, as magrelas estão por toda parte, dividindo as vagas com os carros ou simplesmente encostadas nas calçadas.

Lucro

A bicicleta também é sinônimo de lucro em Antonina – que o diga o jovem Giovani Rubik. Desde os 12 anos consertando bicicletas, Rubik abriu aos 18 uma oficina com o objetivo de transformar a paixão pela magrela em um negócio rentável. Sem dinheiro para iniciar o empreendimento, Rubik contou com a ajuda do pai, que emprestou aproximadamente R$ 8 mil para a compra do maquinário básico e das peças necessárias, em agosto de 2010. "Pouco mais de um ano depois, já consegui devolver o valor do investimento inicial ao meu pai e juntar um capital próprio equivalente a 25 mil", diz.

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Além da paixão pelo trabalho, que o faz não cobrar por "reparos pequenos e rápidos" para fidelizar os clientes, o sucesso da oficina também é resultado da grande demanda pelo serviço na cidade. A venda de bicicletas também garante um lucro certo para a loja em que Waine Faganello, de 25 anos, é gerente. Segundo ele, cerca de 70 bicicletas são vendidas por mês para moradores de Antonina e, principalmente, de comunidades do interior do município. "Geralmente o pessoal do interior compra mais de uma bicicleta para não correr o risco de ficar a pé se uma delas quebrar", conta.

Interatividade

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