Várias cidades paranaenses são marcadas por seus apelidos, nomes que remetem a algum episódio histórico ou à vocação econômica da localidade. Em muitos municípios, a identificação com esses títulos ocorre de uma maneira mais visível, na forma de monumentos. Com formatos curiosos e variados, essas obras refletem um pouco a realidade local e chamam a atenção de quem passa por perto. Não sem antes dividir opiniões.Para enaltecer o título de Cianorte, a "Capital do Vestuário", no Noroeste, foi criado em 2006 um monumento que reúne elementos do setor da confecção: a agulha, o alfinete, o zíper, a linha e o manequim. Já em Santa Fé, também no Noroeste, o tema escolhido foi uma máquina fotográfica gigante. A obra, inaugurada em junho deste ano, tem seis metros de altura por oito de largura e simboliza o título de "Capital da Fotografia". Com pouco mais de 10 mil moradores, Santa Fé conta com quase 50 empresas atuando no ramo, produzindo uma média de 75 mil fotografias por dia.
A obra criada pelo artista plástico Luiz Gagliastri custou R$ 255 mil, dos quais R$ 195 mil repassados pelo Ministério do Turismo e outros R$ 60 mil de contrapartida do município. Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Santa Fé, Henrique dos Santos, a construção poderia ser mais simples. "Nada mais justo que homenagear o que impulsiona a economia local. Agora, não precisava ser algo suntuoso, pois isso não vai trazer lucro algum para o município." Já a prefeitura defende a construção e afirma que vai tentar registrar o monumento no Guinness Book como a maior máquina fotográfica do mundo.
Um monumento paranaense que já entrou para os recordes brasileiros é o cacho de uva de Marialva, no Noroeste, considerado o maior do país, segundo o Rank Brasil, o livro dos recordes nacionais. O cacho de ferro e concreto armado, com quase 18 metros de altura e 9 metros de largura, foi feito em 2004 para representar a "Capital da Uva Fina". Marialva conta com 750 produtores e 1,5 mil hectares de parreirais.
O artista
A obra foi feita pelo artista plástico cearense Gilberto Gomes Moura, uma espécie de especialista em monumentos gigantes. Ele é responsável pela criação de várias obras espalhadas pelo Paraná, incluindo o Garrafão de Bituruna, município na Região Sul do estado, conhecido como a "Terra do Vinho". A estrutura tem 18 metros de altura e conta com uma taça e um cacho de uva.
Outro trabalho feito pelo cearense é o Monumento do Boné de Apucarana, no Norte. A obra foi criada no final de 2008 para divulgar o potencial econômico do município, considerado a "Capital Nacional do Boné". Lá estão instaladas 200 fábricas do acessório, que produzem mais de 5 milhões de produtos por mês, o equivalente a mais da metade da produção brasileira.
No improviso
As obras gigantes de Moura duram em média três meses para serem construídas e normalmente envolvem outras quatro pessoas. "É um trabalho de improvisação. Quem me contrata explica a ideia que ele tem e vou criando na hora. Durante o processo de criação, o povo fica curioso, se aglomera ao redor e comenta."
Enquanto alguns consideram os trabalhos do artista criativos e interessantes, outros acham de mau gosto. "Aceito a crítica quando é construtiva e fico feliz quando as pessoas gostam de imediato."
Estética
Aberração desvaloriza cidade
Para o engenheiro civil e inspetor do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), Luiz Fabiano Calderoni, a criação de monumentos é um importante meio para a valorização de uma localidade e sua cultura. No entanto, ele ressalta que as obras precisam ter uma ligação com o município. "Dependendo do monumento, ele acaba se tornando um ponto turístico, um marco. Mas se não tiver este vínculo com a identidade do local, acaba sendo visto somente como um gasto público, algo sem utilidade".
Para o arquiteto e professor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Cássio de Menezes Júnior, além do fator histórico e cultural, os monumentos devem ter um cuidado estético. "Quando o monumento não é bem feito, ele desvaloriza a cultura local. É comum encontrar algumas aberrações que marcam a cidade de forma pejorativa", explicou Menezes, que defende a participação de um profissional da área de Arquitetura na composição deste tipo de obra.
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