Toda a história de José Carlos Antunes está relacionada com a de sua cidade natal, São Jorge do Patrocínio, no extremo Noroeste do Paraná. Quando deixou o município com a esposa em 1991, em direção a Maringá, era mais um trabalhador rural que partia em busca de novas oportunidades em um grande centro. O retorno às origens aconteceu 13 anos depois, já com três filhos e a necessidade de amparo financeiro para poder sustentá-los. Hoje, com toda a família empregada, o conselheiro tutelar é um exemplo de superação, assim como São Jorge do Patrocínio, que ao longo da última década conseguiu bons resultados na luta contra a pobreza.
O município lidera um estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), que apontou as cidades que mais conseguiram reduzir a pobreza entre os anos de 2000 e 2010. O levantamento foi feito com base na renda domiciliar dos habitantes, apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com um aumento pouco expressivo no número de domicílios (apenas 139 a mais), o total de famílias com renda de até um salário mínimo caiu de 1.064 para 350. Isso significa uma redução de 40% na quantidade de famílias consideradas pobres em dez anos.
Entre essas famílias está a de José Carlos, que de 2004 e 2008 recebeu o Bolsa Família, benefício concedido pelo governo federal para quem possui renda per capita de até R$ 140. Após deixar Maringá, retornou a São Jorge do Patrocínio e conseguiu emprego em uma indústria local. A esposa Edileide e os filhos seguiram o mesmo caminho, garantindo assim o sustento da casa sem a necessidade do auxílio governamental. "Não vou dizer que a gente ganha muito, mas conseguimos nos manter bem", afirma José Carlos, que hoje atua no Conselho Tutelar e já viu a família aumentar com a chegada de uma neta.
As explicações para os números do combate à pobreza no município não apontam em uma única direção. Para o prefeito Cláudio Palozi, eles são resultado de um conjunto de ações que inclui o incentivo à industrialização, o aporte à agropecuária e o trabalho na assistência social. "Nós damos amparo aos mais carentes, que precisam de ajuda para sobreviver. Mas estimulamos sobretudo a geração de emprego e renda", ressalta.
Nesse processo de geração de emprego, a industrialização teve um papel dos mais importantes, conforme apontam as estatísticas. Somente nas indústrias têxtil e de transformação, os empregos passaram de 280 em 2000 a mais de mil no ano passado. Na área de assistência social, o município adotou uma política de aliar concessão de benefícios à capacitação. Os cerca de 430 beneficiários do programa Bolsa Família, por exemplo, são estimulados a participar de cursos profissionalizantes, como culinária, corte e costura. "A ideia é fazer com que aqueles que não têm emprego consigam um trabalho e que os já empregados busquem algo melhor", explica a secretária municipal de Assistência Social, Vera Palozi.
Socióloga e pesquisadora do Ipardes, Louise Ronconi de Nazareno observa que o levantamento ainda não permite identificar quais os fatores que contribuíram para a redução da pobreza nos municípios. "Nossa ideia foi explorar dados mais recentes que pudessem ser relacionados com a pobreza. Essa redução pode ser fruto da geração de emprego ou de políticas assistenciais, por exemplo. O importante é que as prefeituras consigam dimensionar adequadamente seus problemas."
Industrialização muda perfil da economia local
A exemplo da maioria das cidades do Noroeste paranaense, São Jorge do Patrocínio teve no passado sua economia baseada na cultura do café. Com o declínio da produção, em meados da década de 1970, a cidade continuou tendo seu sustento baseado na agropecuária, porém, diversificando as culturas. Além disso, apostou também na industrialização, o que deu uma nova feição à economia do município.
Em meados da década de 1990 a prefeitura iniciou um programa de incentivo à industrialização, concedendo benefícios fiscais e espaço físico para empresários interessados em iniciar ou expandir seus negócios. Um dos beneficiados foi Paulo Sérgio Fávaro, cerealista que há 17 anos começou a torrar café em seu sítio. Hoje administra com o filho Guilherme uma indústria com várias marcas de café e que se prepara agora para produzir farofa industrializada. "No começo eu torrava 20 quilos em 40 minutos. Agora são 240 quilos em 18 minutos", conta o empresário, cuja produção está na casa de 80 mil quilos por mês.
Existem hoje no município 26 empresas instaladas, que juntas geram cerca de mil empregos. A maior parte está na área de confecções. Segundo o prefeito Cláudio Palozi, a cidade já sofre com a falta de mão de obra especializada. "Algumas empresas estão buscando profissionais em outras cidades porque não estamos conseguindo atender à demanda", revela.
No campo, programas financiam a produção agrícola e pecuária, apoiada também pela formação de cooperativas. Uma delas é a Cooperativa dos Produtores de Leite Entre Rios (Coopeler), que reúne 160 produtores de oito municípios da região. Laércio Bevilaqua Sanches entrou no ramo leiteiro há seis anos, com apenas quatro vacas. Agora com 35 animais, produz em torno de 220 litros por dia, com a meta de chegar a 350. "Sozinho não se chega a lugar algum. Com a cooperativa todo mundo vende bem", avalia, comemorando os resultados da iniciativa.
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