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Saneamento precário, vidas no improviso

Geraldino e Alzira vivem em uma pequena casa de madeira sem banheiro. Eles têm de usar um vaso sanitário improvisado com um buraco cavado na terra | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Geraldino e Alzira vivem em uma pequena casa de madeira sem banheiro. Eles têm de usar um vaso sanitário improvisado com um buraco cavado na terra (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

No fundo do terreno onde mora a família de Geraldino Pedroso de Quadros, em Nova Laranjeiras, no Centro-Sul do Paraná, está uma situação que muitos gostariam de esconder. Atrás da pequena casa construída com pedaços de madeira fica a "patente", um vaso sanitário improvisado com um buraco cavado na terra. "Pode mostrar, para que a situação melhore", dizem Geraldino e a esposa Alzira, fazendo questão de serem fotografados à frente da instalação para expor o problema, na esperança de que as autoridades os ajudem.

Ter um banheiro ligado à rede de esgoto é uma realidade distante para milhares de paranaenses. Os números de 2010 do IBGE mostram que em 12 mil domicílios paranaenses não há banheiro ou sanitário. Entre os que possuem, 34,8% não têm coleta de esgoto ou fossa séptica, o que equivale a 1,1 milhão de residências.

Quando se analisa a situação nas cidades, observa-se uma realidade ainda mais precária: 334 dos 399 municípios paranaenses apresentam porcentuais superiores à média estadual de domicílios sem esgotamento sanitário. Em São Pedro do Paraná, Boa Esperança, Jundiaí do Sul, Marumbi, Inajá e Tamboara, por exemplo, 99% dos domicílios com banheiros não têm esgotamento sanitário.

A realidade faz com que a família de Quadros e tantas outras vivam uma situação de improviso. A "patente" no fundo do terreno foi construída com tábuas doadas e um buraco foi cavado na terra. Quando fica cheio, o buraco é tampado e outro similar acaba sendo construído em um diferente local. "Com o dinheiro que a gente ganha hoje não dá para construir [um banheiro]. Ganhamos dinheiro só para comer", diz a dona de casa Alzira Carmelina de Quadros, de 54 anos. O marido trabalha na co­­lheita de tomate e a filha, de 20 anos, em uma lanchonete. Diante das dificuldades, tomam banho de bacia ou usam o banheiro da casa do vizinho quando ele viaja.

Na falta de ligações à rede, os dejetos acabam sendo despejados de maneira irregular. No bairro Beira-Rio, em Nova Laranjeiras, acontece a situação de a fossa séptica, precária, encher demais e os resíduos serem lançados diretamente no Rio das Cobras, conta o agricultor aposentado Gerondir Fernandes de Lima, de 69 anos. Na casa dele, o problema causa entupimento e mau cheiro no banheiro. "Está caindo no rio porque não tem outra condição", diz.

A baixa condição faz ainda com que moradores não consigam ligar suas casas à rede mesmo quando ela é disponibilizada. Na fa­­tura da conta de água do boia-fria Airton Mariano de Paula, por exemplo, é cobrada todo mês uma taxa de cerca de R$ 3 da rede de esgoto, serviço do qual ele ainda não usufrui. "Eu tenho que comprar encanamento. Dependendo o tipo de cano, ele sai por R$ 100", diz. Airton recebe de R$ 150 a R$ 200 por mês, mas tem esperança de fazer a ligação. "Se puxar na rede de esgoto saem até os mosquitos. A fossa dá cheiro e é ruim que ela já estourou. Quando colocar na rede, cubro a fossa", planeja.

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