A proliferação da planta urtiga, que dá origem ao nome de Ortigueira, na Região Central do estado, não causa mais tanta coceira como em 1951, quando a cidade se emancipou. Hoje o que provoca incômodo é a falta de desenvolvimento e a dúvida sobre quando o município vai evoluir socialmente. Ortigueira tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná (0,620), calculado em 2000 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O IDH varia de 0 a 1. Quanto mais distante de 1, menos desenvolvida é a cidade.
Passados 11 anos da medição do índice que leva em conta números da educação, longevidade e renda da população, é possível verificar que quase nada mudou na cidade. O baixo IDH pode estar por trás do êxodo no município. Entre 1980 e 1991, o número de moradores passou de 50.113 para 27.504 uma diminuição de 45%. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, a cidade tem 23.380 habitantes. A perda populacional nos últimos dez anos foi de 1.836 pessoas.
Segundo a doutora em Geografia e especialista em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Ângela Maria Endlich, o êxodo pode significar que ficou inviável a sobrevivência na cidade. "Quando há grande perda de população, quase sempre ela está marcada pela necessidade de sobrevivência", explica. Permanecer em Ortigueira, para muitos, pode significar desistir de estudar ou desenvolver uma carreira profissional, de acordo com a especialista.
Sem emprego
É o que ocorre com Raquel Anselmo, moradora do Jardim Alvorada, um dos bairros mais pobres de Ortigueira. Ela mora com a tia, a irmã e mais dois sobrinhos em um casebre. É diarista, mas planeja vir para Curitiba e tentar um emprego como vendedora em algum shopping. "Aqui não tem serviço. Em Ortigueira, serviço para mulher é só o de doméstica", reclama.
Relatos como o de Raquel são comuns na região. O mais preocupante é que a perspectiva de melhora se resume às opiniões políticas. "Quase sempre a expectativa das pessoas é que uma grande planta industrial seria a saída. É preciso pensar em várias estratégias, que somadas podem trazer resultados positivos: estímulo a associações e cooperativas diversas, formação humana e profissional da população, melhorias na articulação local/regional, dentre outros", opina a professora Ângela.
Cálculo
O IDH é a média feita com base em três subíndices: longevidade (que mede o tempo de vida e outros aspectos da saúde), educação (alfabetização e taxa de frequência escolar) e renda per capita e outros aspectos econômicos da população. De acordo com o sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Oliveira, o índice concede uma base de dados para estruturar políticas públicas em regiões mais necessitadas. "O IDH expressa as condições sociais. É uma ferramenta fundamental", aponta.
Índices semelhantes são calculados por outras entidades. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), por exemplo, lançou há cerca de um mês o estudo sobre o Índice de Desenvolvimento Municipal relativo ao ano de 2009. Pelo índice Firjan, Ortigueira chegou à taxa 0,624 de desenvolvimento municipal e ficou na 365.ª posição entre os 399 municípios do Paraná.
Trabalho bom é difícil de encontrar
A renda é o pior indicador no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Ortigueira. Uma das razões é a falta de oportunidades de trabalho, que causa a saída de muitos moradores. De acordo com o IBGE, havia em 2009 apenas 302 empresas atuantes na cidade. A maior parte da população mora na área rural e trabalha nas fazendas da região.
"Eu mexo com obra num dia e às vezes não tem no outro. Não há emprego em Ortigueira", afirma o pedreiro Jair Pontes, 39 anos, morador de uma área de invasão próxima ao centro do município. Ele e o irmão, José Pontes, 52 anos, sustentam uma família de cinco pessoas com R$ 350 por mês. A família mora ao lado da construção de algumas casas do programa Minha Casa, Minha Vida, da Caixa Econômica Federal, para onde esperam se mudar quando tudo estiver pronto. Enquanto isso, ficam alojados em um casebre improvisado, com chão de barro, apinhados em um sofá, e sem emprego fixo.
Dependência
Uma característica de cidades como Ortigueira é a dependência da prefeitura e de programas públicos de transferência de renda. Hoje há 2.696 famílias cadastradas no Bolsa Família. De acordo com a professora da UEM Ângela Maria Endlich, a oferta de serviços em regiões como a de Ortigueira poderá evoluir quando houver um sistema de cooperação intermunicipal.
Ao contrário do senso comum, o prefeito Geraldo Magela garante que não falta emprego. "Você chega a Ortigueira procurando algo e tem. Há sete mercados de bom porte. Tem cinco lojas de material de construção. Fizemos de Ortigueira o maior produtor de mel do Paraná. É o maior rebanho bovino do estado", rebate.