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O agricultor Ivo Ferraz Carvalho, 85 anos, se desfez da área de cultivo depois que os filhos seguiram outras carreiras | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
O agricultor Ivo Ferraz Carvalho, 85 anos, se desfez da área de cultivo depois que os filhos seguiram outras carreiras| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Extremo

Concentração de idosos

O caso de Floraí representa um extremo do que tem se verificado no Paraná ao longo dos últimos anos. Entre 2000 e 2010, o estado vem passando por um processo de envelhecimento da população. O Noroeste é a região que apresenta o maior índice de idosos, com 43 pessoas acima de 65 anos para cada 100 jovens.

Para Marisa Magalhães, pesquisadora do Núcleo de Estudos Populacionais do Ipardes, esse envelhecimento acentuado tem relação com o processo de formação dos municípios. "O Noroeste é uma região que teve uma grande população no passado e perdeu habitantes nas últimas décadas. Os que permaneceram engrossam essa faixa mais idosa, sem proporcionar um rejuvenescimento da população", explica.

Segundo os números do Censo do IBGE, em 2000 a Região Noroeste tinha 27,4% de seus habitantes com menos de 15 anos, enquanto 7,3% estavam na faixa acima dos 65. Em 2010, os mais jovens caíram para 21,4% da população total e os idosos subiram para 9,4%.

De acordo com a pesquisadora, o estado segue uma tendência nacional de queda na fecundidade, o que implica no envelhecimento de seus habitantes. "Consequentemente, os governos deverão intensificar as políticas públicas para a terceira idade", acrescenta.

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Floraí - Os passos lentos, as rugas no rosto e o olhar abatido entregam os efeitos do tempo sobre o agricultor Ivo Ferraz Carvalho. Ele passou grande parte dos seus 85 anos de vida no campo, sendo mais de 40 deles no pequeno município de Floraí, na Região Noroeste do Paraná. Com os filhos criados, netos e um bisneto crescendo, o ex-produtor de café deixou o trabalho de lado e aproveita os dias para se reunir com os amigos, jogar truco e bater papo. Uma rotina seguida por muitos dos moradores mais antigos da região, que deixaram o campo para se estabelecer na cidade. Sem a presença de muitos de seus descendentes, que partiram em busca de outras oportunidades, Floraí vive a incerteza sobre quem serão seus herdeiros no futuro próximo.

Com 5 mil habitantes, Floraí é a cidade com o maior índice de idosos do Paraná, segundo levantamento do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Com base nos dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ipardes calculou a relação entre a população idosa e o total de moradores mais jovens. O resultado no município é que, para cada 100 habitantes com menos de 15 anos, existem 80 acima dos 65 anos.

Uma grande parcela desses idosos engrossa outra estatística, a dos que saíram da zona rural e foram morar na área urbana. É o caso de Ivo, que chegou a Floraí na década de 1960, quando a região viveu o ápice de seu desenvolvimento a partir do plantio do café. "Plantei muito café. Depois comecei a plantar milho, feijão, mandioca... Agora quero sossego", afirma o senhor, que fuma desde os 14 anos de idade e todos os dias faz uma visita à igreja. A propriedade foi repassada para frente, já que nenhum dos dois filhos se interessou em continuar com as atividades.

Também aos 85 anos de idade, Francisco Bortoluzzi tem uma história parecida. Chegou ainda jovem ao município para trabalhar com o pai, que tinha uma propriedade de café. Mais tarde herdou o negócio e, com a derrocada do café, partiu para outras culturas. Há dois anos, mudou com a esposa para a cidade, mantendo o sítio, que visita apenas de vez em quando. "Meus quatro filhos foram fazer faculdade e ganhar a vida. Graças a Deus estão todos muito bem", revela, sem se incomodar com o fato de nenhum ter seguido seus passos.

Proporção inversa

Os números comprovam que situações como as de Ivo e Francisco são cada vez mais comuns em Floraí. De acordo com o IBGE, nos últimos dez anos o município viu sua população idosa aumentar na mesma medida que diminuiu a quantidade de jovens habitantes. Enquanto os moradores acima de 65 anos aumentaram em 33%, aqueles abaixo dos 15 anos decaíram em igual proporção. "Aqui não tem muita oportunidade. Os jovens têm que ir para cidades maiores. Ficamos nós, que já estamos com a vida resolvida", resume o agricultor Francisco Borelli, de 66 anos, que também viu os dois filhos trilharem outros caminhos.

Nesse cenário, o caso de Otacílio Búfolo é uma exceção. Com 72 anos, sempre residiu na área urbana e teve dois filhos, um dos quais permanece em Floraí. "Ele até saiu para estudar, mas voltou e hoje trabalha comigo", conta. Mesmo com a idade avançada, Otacílio segue a todo vapor, se dedicando a serviços de instalações elétricas. "Não consigo ficar parado. Se parar, o corpo enferruja."

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