Quanto mais rico um município, maior qualidade de vida tem sua população. A afirmação pode até parecer lógica, mas não é o que os números demonstram na prática. Algumas estatísticas revelam que as cidades com maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Paraná não são exatamente aquelas que apresentam distribuição de renda igualitária ou os melhores indicadores sociais. Da mesma forma, municípios considerados pobres estão longe de serem os que têm a população menos favorecida.Araucária (na região metropolitana de Curitiba-RMC) e Paranaguá (no litoral) podem ser consideradas as cidades mais ricas do estado, visto que apresentam o maior PIB per capita entre os 399 municípios paranaenses. Em 2008, Araucária tinha um produto de R$ 94.966 para cada habitante, enquanto Paranaguá somava R$ 51.244. Já os dados sobre rendimento domiciliar médio per capita, apurados em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não acompanham esse desempenho. Araucária, por exemplo, é apenas a 38.ª colocada nesse quesito, com um rendimento médio de R$ 763,98. Paranaguá aparece na 32.ª posição (veja mais no infográfico).
Para Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná, a discrepância entre os números do PIB per capita e do rendimento médio é natural, em todo o Brasil. "O PIB representa tudo aquilo que é produzido no município. No entanto, só uma parte desse montante é revertida em salários. O restante fica como lucro para a empresa, que pode reinvestir esses valores no município ou não."
Se a diferença entre produção e ganhos da população é tida como normal, o que deve acontecer, segundo Nakabashi, é que o rendimento médio acompanhe o crescimento do PIB per capita. "Se o município está acumulando mais riquezas, deverão ser pagos melhores salários. A renda vai aumentando e as pessoas vão melhorando de vida", avalia.
Queda
Tanto nos dois municípios com maior PIB per capita quanto nos dois com o menor produto, o rendimento médio cresceu nos últimos anos. Inclusive em Paranaguá e Almirante Tamandaré (na RMC), onde o PIB sofreu queda.
Entre os municípios mais pobres, Almirante Tamandaré (RMC) tem um PIB per capita de R$ 4.596 e Piraquara, na mesma região, de R$ 4.532. Mesmo com a baixa geração de riquezas, não se pode dizer que as duas cidades são as campeãs em desigualdade. Em Tamandaré, 0,41% dos domicílios têm renda de até R$ 70. Já Piraquara fica distante das últimas colocações quando se fala em rendimento médio: é a 141.ª, com R$ 631,42.
O chefe do IBGE no Paraná, Sinval Dias Santos, explica que o rendimento médio é levantado com base no que os habitantes declararam ao responder o Censo. O cálculo toma por base o total de moradores em cada domicílio e a renda familiar declarada durante a entrevista. "Nem sempre o que as pessoas declaram como rendimento vem daquilo que é produzido na cidade. Às vezes a pessoa tem uma ocupação fora ou alguma outra fonte de renda, por isso a diferença em relação aos números do PIB per capita", diz.
Indicadores sociais destoam das cifras
Mais que a diferença entre PIB per capita e rendimento das famílias, o que chama a atenção é a relação entre a riqueza dos municípios e os indicadores sociais. Dados relacionados ao atendimento em duas áreas essenciais (saúde e educação) não acompanham as primeiras colocações na geração de divisas.
O Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social desenvolveu o Índice Ipardes de Desempenho Municipal, que mede a qualidade de gestão e ações públicas nos 399 municípios do estado, considerando três eixos principais: trabalho e renda, saúde e educação. Quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho.
Araucária, com seu PIB expressivo, está na 128.ª colocação no quesito saúde e 261.ª em educação. Desempenho ainda pior tem Paranaguá, 318.ª em saúde (atrás de Piraquara) e 330.ª em educação. Situação mais contrastante vive a cidade de Doutor Ulysses, no Vale do Ribeira. A cidade detém os piores índices de saúde e educação no Paraná, além de ser a penúltima em rendimento médio. Seu PIB per capita, no entanto, é de R$ 10.147, o que lhe confere a 209.º lugar.
O peso dos mananciais
Não é difícil entender o porquê de Piraquara figurar com o menor PIB per capita entre os municípios paranaenses. Por estar em uma área de mananciais, seu território tem uma série de restrições ambientais que impede que grandes empresas se instalem na cidade. O resultado é um número ínfimo de indústrias, o que por consequência gera um volume pequeno de receitas para a prefeitura.
"Devido a essas restrições, é difícil gerar emprego e renda no município. Isso implica em problemas sociais, como a dificuldade na prestação de serviços e a criminalidade", reconhece o prefeito Gabriel Samaha.
Em Araucária, a grande responsável pelo desenvolvimento econômico do município é a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras. A contribuição da empresa representa 65% de toda a receita arrecadada pela prefeitura com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
O secretário de Planejamento de Araucária, Leonardo Brusamolin Júnior, lembra que toda essa riqueza é compartilhada com outras economias do estado e do Brasil. "Um indicador que pode ser analisado é o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], no qual Araucária aparece em 21.º no estado. Isso demonstra uma aplicação adequada e condizente com o orçamento do município".