É no caminho para Foz do Iguaçu, na Região Oeste do estado, que está Céu Azul, cidade de 11 mil habitantes onde se estabeleceu uma colônia de imigrantes alemães. A exemplo de outros municípios paranaenses, a presença germânica no local é facilmente detectável. As feições, o sotaque e os sobrenomes dos habitantes entregam que por ali passaram imigrantes que fincaram raízes e deixaram uma herança para as novas gerações. Para os descendentes que permanecem até hoje, manter as tradições de seu povo tem sido um desafio, compartilhado entre poucos e cada vez mais distante dos jovens.
Em Céu Azul, são aproximadamente 300 famílias que preservam a língua materna, a culinária e outros costumes trazidos da Europa. Seu principal ponto de referência é a Igreja Evangélica da Confissão Luterana, onde também se originou uma das principais manifestações culturais dessa comunidade: a Kerbfest, festa germânica que acontece há 19 anos e tenta manter viva uma tradição que já não parece encantar a cidade como em outros tempos. A comemoração em muito se parece com dezenas de outras festas populares realizadas em todo o Paraná e que procuram unir a comunidade em torno de suas raízes culturais.
Ritual
O dia 2 de dezembro passado, uma sexta-feira, marcou a abertura da festa que se estenderia durante o fim de semana. A poucas horas do início da festividade, a movimentação maior ainda estava na cozinha, onde um grupo de senhoras preparava os quitutes oferecidos aos convidados: cucas, linguiças e o tradicional eisbein, joelho de porco servido com chucrute. À frente dos preparativos, Jonimar Jung, presidente da paróquia e organizador da Kerbfest, preparada para um público de 800 pessoas, em três dias. "Fazemos a festa mais para manter a tradição e conseguir algum recurso para a comunidade", revela.
A iniciativa teve início em 1993, seguindo a tradição de muitas comunidades na Alemanha. Geralmente marcando a inauguração de uma igreja, o Kerb servia como oportunidade para festejar com danças, comidas e bebidas. A Kerbfest de Céu Azul celebra o aniversário da igreja luterana local e tem entre seus atrativos apresentação de corais, grupos musicais e chopp. "No começo vinha bastante gente, já que era o principal evento da cidade. Depois a gente começou a dividir atenção com outras festas", conta Jonimar, confirmando a queda de público ao longo dos anos.
No grupo que prepara o evento, é impossível não atentar para a presença maciça de pessoas de mais idade. A maioria participa desde as primeiras edições e fala da Kerbfest com uma alta dose de saudosismo. "A primeira festa foi a mais bonita de todas. Teve uma noite em que passaram 8 mil pessoas", conta Marli Franke, lamentando ainda que poucas pessoas participem da festa com o traje típico alemão.
A prevalência dos veteranos contrasta com a pouca participação de jovens na festa. Como forma de estimular essa parcela da população a participar, é realizado a cada dois anos o concurso que elege a rainha e a princesa da Kerbfest. "Infelizmente os jovens não ligam muito para essa tradição, eles não querem mais saber", diz Romilda Wolf, outra participante das antigas que tenta manter viva a celebração.
Brasil terá Ano da Alemanha
O período que antecede a Copa do Mundo de 2014 vai marcar o Ano da Alemanha no Brasil, uma iniciativa para aproximar os dois países e aumentar a cooperação entre os dois povos. O anúncio foi feito na semana passada pelo embaixador da Alemanha no Brasil, Wilfried Grolig, que visitou o Paraná. De acordo com ele, estão sendo preparadas várias atividades em diferentes regiões do país, que acontecerão entre o segundo semestre de 2013 e o primeiro de 2014.
Wilfried destaca a forte presença dos alemães no Brasil, que colonizaram diversas regiões e contribuíram para o crescimento do país. "Eles também são parte do sucesso do país. Assim como a Alemanha também se tornou um país inovador porque aceitou pessoas que vieram de fora", avalia o embaixador, reforçando a necessidade de intercâmbio entre os povos.
É justamente com esse propósito que está sendo planejado o Ano da Alemanha no Brasil. Apesar de o projeto ainda estar sendo elaborado, a programação deverá incluir atividades artístico-culturais, acordos comerciais e parcerias entre instituições. "O objetivo é ter uma visão em 360 graus do que acontece entre Brasil e Alemanha. Se não nos conhecermos, fica difícil manter uma amizade", observa Wilfried.
De acordo com o embaixador, os dois países vêm mantendo importantes parcerias no setor comercial, com missões internacionais frequentes, e no campo da tecnologia. Um dos aspectos que precisam ser aprimorados, em sua opinião, é o intercâmbio entre estudantes brasileiros e alemães. "É preciso ter mais recursos para mandar jovens à Alemanha, para que eles aprendam a língua e a cultura, vivendo a realidade local."