As brigas existem até hoje: uns dizem que ucranianos e poloneses (ou polacos) denunciaram os judeus aos alemães. Quem é acusado se defende dizendo que não. A verdade é que em uma guerra existe de tudo, de delatores a pessoas dispostas a perder a vida para ajudar um amigo. O pai de Zdislaw Pisarski era polonês e morreu fuzilado por esconder em sua casa 23 judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Quando ocorreu o episódio, Zdislaw tinha apenas 4 anos, mas ainda se lembra de tudo perfeitamente, como um filme que passa pela sua cabeça. "Desde que nasci meu pai já escondia algumas pessoas lá em casa. Lembro-me de que eles batiam na janela pedindo comida ou roupa quando estava muito frio. Tinha vezes que eu não conseguia dormir, só ficava os escutando batendo na janela", comenta.
A pouca idade não permitia a Zdislaw entender por que os judeus eram perseguidos, a única coisa que ele teve de entender bem, desde pequeno, é que, se alguém perguntasse a ele ou aos seus irmãos se seus pais escondiam estranhos em casa, era para dizer que não.
O pai dele era gerente do Banco da Polônia e tinha contato com diversos judeus clientes do estabelecimento. Quando as perseguições começaram, ele decidiu ajudá-los, levando-os para casa. Como o terreno era grande e ficava próximo a um bosque, durante o dia as famílias judaicas circulavam pelo terreno e pelo bosque e, durante à noite, dormiam onde era a "geladeira" da residência, nos fundos da casa. "Antigamente não existia refrigerador, a comida ficava armazenada em um buraco grande com uns arcos e coberto por terra", explica Zdislaw.
Os judeus se esconderam na casa dele por quase quatro anos. Quando ele tinha ainda 2 anos, recorda que andava com as irmãs nas redondezas da pequena cidade de Buchach (atualmente Ucrânia) e ia até próximo a uma montanha para ver o que os alemães faziam com os judeus. "Os nazistas mandavam que eles ficassem em fila e depois atiravam em todo mundo. Eles caiam numa vala e eram cobertos com terra. Lembro de tudo perfeitamente, era horrível."
A tranquilidade na casa de Zdislaw logo acabou. Os vizinhos resolveram delatar, em 1944, o pai dele aos nazistas. Ele recorda o dia em que o pai chegou em casa gritando para avisar aos judeus que era hora de fugir, porque os alemães tinham descoberto tudo. "Não deu tempo. Meu pai entrou em casa e logo atrás dele vieram os homens da Gestapo. Eu segurei firme na saia da minha mãe. Meu pai teve tempo de correr até perto do guarda-roupa e tentar retirar a arma, mas foi fuzilado. Lembro que deitei no peito dele, todo ensanguentado, e gritava para ele se levantar", conta Zdislaw emocionado. Depois, a Gestapo saiu da casa, mandou os judeus se enfileirarem e fuzilaram os 23 que viviam ali escondidos. Um caminhão levou os corpos.
Zdislaw Pisarski
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