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“Voltei àquela casa onde meu pai foi morto tempos atrás. Fui lá com minhas irmãs. A propriedade ainda é nossa no papel, mas existe uma família ucraniana que vive lá e, quando chegamos, a mulher começou a chorar. Não queremos mais nada, só tiramos fotos porque a casa permanece igual e viemos embora. Que eles vivam em paz.” Zdislaw Pisarski, 72 anos, cujo pai escondeu por quatro anos 23 judeus em sua casa, até serem todos mortos pela Gestapo, em 1944, após delação feita por vizinhos | Alexandre Mazzo
“Voltei àquela casa onde meu pai foi morto tempos atrás. Fui lá com minhas irmãs. A propriedade ainda é nossa no papel, mas existe uma família ucraniana que vive lá e, quando chegamos, a mulher começou a chorar. Não queremos mais nada, só tiramos fotos porque a casa permanece igual e viemos embora. Que eles vivam em paz.” Zdislaw Pisarski, 72 anos, cujo pai escondeu por quatro anos 23 judeus em sua casa, até serem todos mortos pela Gestapo, em 1944, após delação feita por vizinhos| Foto: Alexandre Mazzo
  • O pai de Zdislaw não era judeu, mas era muito amigo deles. Escondeu em sua casa 23 judeus. Os vizinhos denunciaram e ele com os 23 amigos acabaram fuzilados
  • Zdislaw tinha 4 anos quando o pai foi fuzilado pela Gestapo.

As brigas existem até hoje: uns dizem que ucranianos e poloneses (ou polacos) denunciaram os judeus aos alemães. Quem é acusado se defende dizendo que não. A verdade é que em uma guerra existe de tudo, de delatores a pessoas dispostas a perder a vida para ajudar um amigo. O pai de Zdislaw Pisarski era polonês e morreu fuzilado por esconder em sua casa 23 judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Quando ocorreu o episódio, Zdislaw tinha apenas 4 anos, mas ainda se lembra de tudo perfeitamente, como um filme que passa pela sua cabeça. "Desde que nasci meu pai já escondia algumas pessoas lá em casa. Lembro-me de que eles batiam na janela pedindo comida ou roupa quando estava muito frio. Tinha vezes que eu não conseguia dormir, só ficava os escutando batendo na janela", comenta.

A pouca idade não permitia a Zdislaw entender por que os judeus eram perseguidos, a única coisa que ele teve de entender bem, desde pequeno, é que, se alguém perguntasse a ele ou aos seus irmãos se seus pais escondiam estranhos em casa, era para dizer que não.

O pai dele era gerente do Banco da Polônia e tinha contato com diversos judeus clientes do estabelecimento. Quando as perseguições começaram, ele decidiu ajudá-los, levando-os para casa. Como o terreno era grande e ficava próximo a um bosque, durante o dia as famílias judaicas circulavam pelo terreno e pelo bosque e, durante à noite, dormiam onde era a "geladeira" da residência, nos fundos da casa. "Antigamente não existia refrigerador, a comida ficava armazenada em um buraco grande com uns arcos e coberto por terra", explica Zdislaw.

Os judeus se esconderam na casa dele por quase quatro anos. Quando ele tinha ainda 2 anos, recorda que andava com as irmãs nas redondezas da pequena cidade de Buchach (atualmente Ucrânia) e ia até próximo a uma montanha para ver o que os alemães faziam com os judeus. "Os nazistas mandavam que eles ficassem em fila e depois atiravam em todo mundo. Eles caiam numa vala e eram cobertos com terra. Lembro de tudo perfeitamente, era horrível."

A tranquilidade na casa de Zdislaw logo acabou. Os vizinhos resolveram delatar, em 1944, o pai dele aos nazistas. Ele recorda o dia em que o pai chegou em casa gritando para avisar aos judeus que era hora de fugir, porque os alemães tinham descoberto tudo. "Não deu tempo. Meu pai entrou em casa e logo atrás dele vieram os homens da Gestapo. Eu segurei firme na saia da minha mãe. Meu pai teve tempo de correr até perto do guarda-roupa e tentar retirar a arma, mas foi fuzilado. Lembro que deitei no peito dele, todo ensanguentado, e gritava para ele se levantar", conta Zdislaw emocionado. Depois, a Gestapo saiu da casa, mandou os judeus se enfileirarem e fuzilaram os 23 que viviam ali escondidos. Um caminhão levou os corpos.

Zdislaw Pisarski

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