O desenvolvimento e facilitação da mobilidade em bairros das grandes cidades foram as principais soluções apontadas por especialistas reunidos em um seminário sobre o assunto realizado em São Paulo (SP). A ideia é resolver o problema do trânsito travado que prioriza o automóvel em detrimento de outros meios de transporte. Durante o debate realizado nesta quinta-feira (22), profissionais ligados à área concluíram que as grandes cidades cresceram sem pensar no acesso de pessoas aos serviços mais próximos aos locais em que moram.
O evento foi realizado pela montadora Ford e ocorreu durante o anúncio dos vencedores do concurso Desafio São Paulo de Mobilidade, que premiou três idealizados de aplicativos para celular que integram diferentes modais e oferecem opções de transporte para os usuários de acordo com o local onde estão. Os aplicativos foram vistos pelos especialistas como facilitadores nas grandes cidades, mas sem políticas públicas das prefeituras que priorizem diferentes meios de transporte, a mobilidade continuará deficitária, segundo eles.
Cidades compactas
A diretora executiva no Brasil da organização norte-americana Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Clarisse Linke, apontou a expansão das metrópoles como um desafio para os gestores, tendo em vista um “desequilíbrio territorial” entre oferta de serviços e local de moradia. “[Deve-se] pensar em cidades mais compactas”. Os serviços públicos e comércio, na opinião dela, devem estar disponíveis para que a população possa “acessar a pé”. Uma das maneiras de concretizar essa situação será com planos diretores e leis de zoneamento que priorizem pedestres, calçadas, ciclovias e transporte público.
Compartilhar espaço
A educação no trânsito também precisa mudar, segundo Clarisse Linke. A população tem sido ensinada, desde criança, a entender que a cidade é um espaço do carro, o que é errôneo. Para não gerar uma ‘guerra’ entre ciclistas e motoristas, segundo ela, “é preciso rever um conceito anterior e quebrar o paradigma de que a cidade é do carro. Precisamos rever o entendimento de espaço compartilhado”.
A ideia de compactar as cidades, mesmo que elas já sejam grandes, é defendida também pelo presidente do Instituto Mobilidade Verde, Lincoln Paiva. Ele acredita na prioridade do desenvolvimento aos bairros e não mais pensá-los como periferias, sem serviços ou empregos. “As cidades não foram pensadas para os pedestres, foram pensadas para os carros”. Nenhum urbanista pode pensar o futuro sem pensar no desenvolvimento dos bairros, destaca.
Desafio
Os vencedores do Desafio São Paulo de Mobilidade, da Ford, foram:
3° Lugar – Felipe Werle Melz, que desenvolveu o aplicativo Vita, que ainda depende de captação de recurso para entrar em operação;
2° lugar – Ernani Machado, que desenvolveu o aplicativo Mobqi, em operação desde 2014;
1° lugar – Gabriel Araújo, idealizador do aplicativo Muvall, que também depende de captação de recursos para iniciar operações.
O transporte público integrado, na opinião da diretora do ITDP, ainda precisa melhorar no Brasil para também facilitar a mobilidade. O país, segundo ela, possui um transporte público ruim e que ainda precisa “expandir e melhorar”. Uma das formas defendidas por ela é a uma “integração efetiva” do transporte público. “Não tem como não ter baldeação para fazer os trajetos”. Da mesma forma, o assessor da São Paulo Transporte (SPTrans), autarquia municipal que cuida do sistema de transporte público da capital paulista, vê a integração metropolitana como necessária. “Cada cidade na Região Metropolitana de São Paulo possui seu bilhete único, mas falta uma gestão metropolitana mais integrada”, diz.
*O jornalista viajou a convite da Ford.
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